Gênero não-binário é um termo que engloba uma série de identidades de gênero descoladas do binarismo masculino e feminino.
Se você quer entender o que significa ser não-binário e quais são os pronomes não-binários, fique conosco.
Pois, neste texto iremos te apresentar 5 famosos não-binários que nos ajudam a entender o movimento não-binário.
Vamos lá?
Primeiramente, o que é ser binário?
Antes de mais nada, para entender o que é não-binário precisamos entender o que é ser binário.
Em suma, a identidade de gênero binário é uma classificação que se opõe feminino e masculino.
Ou seja, o gênero binário diz respeito aos papéis sociais e de gênero atribuídos as pessoas em geral.
Nesse sentido, surgem expressões como: “isso é coisa de mulher”, “isso é coisa de homem”, “menina não brinca com carrinho”, “menino não brinca de boneca”, etc.
Dessa forma, podemos dizer que trata-se de um conceito problemático por limitar a essência do indivíduo.
- Depois, veja também: Identidade e Gênero – As diferenças entre corpo biológico, gênero, orientação sexual e expressão de gênero
O que é o gênero não-binário?
Em síntese, o termo não-binário engloba uma série de identidades descoladas do binarismo homem / mulher.
Esse termo surgiu justamente para identificar as pessoas que não se enxergam dentro dos limites da binaridade. Em outras palavras, que não é 100% homem nem 100% mulher.
Desse modo, dizemos que o gênero não-binário abarca várias identidades, como, por exemplo:
- Agênero;
- Poligênero;
- Demigênero;
- Gênero fluído;
- Intergênero.
Como resultado, se identificar como não-binário torna a identificação de gênero fluida, e, simultaneamente, o faz entrar no hall da comunidade LGBTQIA+.
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Culturas com identidades de gênero não-binárias
Mahu (Polinésia)
Na tradição de antigos povos hawaianos, os “mahu” são pessoas com identidade de gênero ambígua que não pertenciam aos gêneros binários “kane” (masculino) e “wahine” (feminino).
Desse modo, essa civilização ancestral acreditava que os “mahu” podiam incorporar as características de ambos os gêneros e expressá-las em conjunto.
Na época, os Mahu ocuparam papéis de curandeiros e guardiões. Atualmente, esse termo é usado para se referir a pessoas transgênero.
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Quariwarmi (Império Inca)
Antes de tudo, os Incas habitaram a região que hoje é chamada Cordilheira dos Andes durante o período pré-colombiano. Fatalmente, acabaram dizimados pelas invasões européias.
Em resumo, os Incas possuíam uma cultura religiosa politeísta e adoravam a Chuqui Chinchay, uma divindade capaz de incorporar os gêneros feminino e masculino.
Ao mesmo tempo, os Xamãs que conduziam os rituais para esta divindade cultivavam um visual andrógeno, não identificado com nenhum dos gêneros.
Consequentemente, pertenciam a um terceiro gênero, chamado de “quariwami”.
Two-Spirit (América do Norte)
Ainda na América, mais especificamente nos territórios que hoje pertencem aos Estados Unidos e Canadá, temos outra situação de gênero não-binário.
Várias tribos indígenas do local entendiam que alguns corpos tinham o poder de abrigar os dois espíritos (feminino e masculino) simultaneamente.
Como resultado, essas pessoas recebiam a denominação de “two spirit”, pois tinham a capacidade de desempenhar papéis sociais de ambos os gêneros.
Em outras palavras, corpos two spirit era uma espécie de gênero não-binário.
Aravani (Índia)
Apesar de a Índia reconhecer os hirja (transgêneros, travestis e eunucos) como um terceiro gênero, quem assim se identifica ainda é discriminado socialmente discriminado.
Uma antiga tradição, descrita no livro épico indiano Mahabharata e baseada na história de Aravan.
A ideia central da obra é que pessoas que nascem homens, mas adotam papéis femininos, podem ser a forma feminina de Lord Krishna.
Com isso, são chamadas de “Aravani”, termo que designa as noivas de Aravan, jovem virgem que se ofereceu para um sacrifício.
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O que é identidade de gênero?
Em resumo, a identidade de gênero está ligada a autopercepção e não ao sexo biológico de nascimento.
Assim sendo, ela diz sobre quem você é, como se enxerga no mundo e a subjetividade individual.
Nesse sentindo, concluímos que nossa percepção de gênero é resultado de construções sociais e culturais.
Identidade de gênero x orientação sexual
Vale destacar que a ideia de identidade de gênero é diferente de orientação sexual.
Enquanto a identidade é a percepção de si, a orientação diz sobre por quem você sente atração sexual.
Além disso, antes de falarmos sobre as diferentes identidades de gênero, devemos definir o que é cisgênero e transgênero:
- Cisgênero: aquele que se identifica com o gênero biológico;
- Transgênero: termo usado para se referir às pessoas que não se identificam com o sexo imposto no momento do nascimento.
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Identidade de gênero de pessoas não-binárias
Agênero
Em resumo, agênero refere-se às pessoas que não possuem nenhum gênero ou ainda para quem se identifica enquanto gênero neutro.
No entanto, ser agênero é ter uma identidade. Nesse caso, a pessoa não se identifica com nenhum gênero, sendo, portanto, agênere.
Também devemos ter cuidado para não comparar agênero com assexual.
Afinal, enquanto o primeiro diz respeito às pessoas que não possuem identidade de gênero, o segundo trata de pessoas que não sentem atração sexual.
Poligênero
O poligênero é um gênero não-binário em que a pessoa se identifica com vários gêneros ao mesmo tempo. Ou seja, não se limita a apenas uma identidade, mas, sim, a várias.
Além disso, essa identificação pode ocorrer ao mesmo tempo ou em momentos diferentes.
Desse modo, o poligênero é capaz de se identificar como um gênero e, em seguida, mudar a forma como se entende.
Ademais, tanto a quantidade de gêneros quanto o tempo são variáveis e não devemos procurar por padrões. Afinal, cada pessoa é única para definir seu gênero.
Gênero fluído
O termo genderfluid foi usado pela primeira vez na década de 1990.
Desde lá, o conceito mudou um pouco. Hoje, entendemos o gênero fluído como alguém que varia (ou flutua) entre diferentes gêneros ao longo do tempo.
Essas mudanças acontecem de diferentes maneiras:
- De forma rápida ou gradual;
- Em intervalos de tempo definidos como, por exemplo, diários, semanais, mensais ou anuais;
- De forma indefinida;
- Podem ter influências internas ou externas;
- Abarcam gêneros específicos ou não.
Intergênero
Entendido como não-binário, as definições do que seria intergênero ainda estão sendo descritas.
Por enquanto, podemos dizer que se trata de um gênero que não se identifica no binarismo.
Em suma, o intergênero é uma expressão que trata de pessoas não identificadas por um único gênero.
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Demigênero
O termo demi significa metade ou meio. Em síntese, o demigênero é aquela pessoa que sente conexão parcial com um gênero, mas entende que nenhum gênero é capaz de expressar toda sua subjetividade.
Assim sendo, trata-se também de um termo que abarca pessoas que se consideram, por exemplo, demi boy ou demi girl.
Portanto, o demigênero pode se identificar de forma parcial com um gênero de cada vez, além de ter dois ou mais gêneros ao mesmo tempo.
Qual é a sexualidade de uma pessoa não-binária?
Skoliossexualidade
A skoliossexualidade, também chamada de não-binárie sexualidade ou n-b sexualidade, diz respeito às pessoas que sentem atração sexual por gêneros não-binários e genderqueer.
Em suma, trata-se de um palavra guarda-chuva que engloba atração pelos gêneros não-binários como um todo: neutrois, agêneres, bigêneres, etc.
Assim sendo, o n-b sexual sente atração sexual por gêneros não-binários e genderqueer, e isso não tem nada haver com a aparência física das pessoas.
Bissexualidade
Já quem se identifica como bissexual, por sua vez, sente atração, desejo e vontade de se relacionar com homens e mulheres. Ou seja, tem desejo sexual por ambos os sexos.
É importante lembrar que o bissexual não precisa gostar de forma igual dos dois sexos.
Em determinados momentos, o bissexual pode se sentir mais atraído por homens e, em outros, por mulheres.
Além disso, se for uma prática isolada, em contextos de clausura (prisão, guerras, etc.) ou ainda durante a adolescência, não necessariamente a pessoa é bissexual.
Polissexualidade
O termo poli significa muitos. Dessa forma, o polissexual sente atração por mais de dois gêneros.
Mas, ao contrário do panssexual (que falaremos a seguir), o poli não se relaciona com todos os gêneros.
Além disso, a polissexualidade não delimita quais são os gêneros que o polissexual sente atração.
Isto é, quem se identifica como polissexual pode se sentir mais ou menos atraído por vários gêneros ao longo da vida.
Panssexualidade
Como acabamos de antecipar, a panssexualidade diz respeito à atração sexual por todas as pessoas, independente de gênero, orientação ou identidade sexual.
O panssexual sente interesse por pessoas. Assim sendo, o que os atrai são as características, aparência e personalidade do outro, sendo eles binários ou não-binários.
Com isso, o panssexual representa bem o significado do termo pan, que significa total, todo ou inteiro.
Demissexualidade
A demissexualidade é uma orientação sexual em que as pessoas possuem dificuldade para sentir alguma atração sexual.
Nesse sentido, o demissexual precisa estabelecer um vínculo ou conexão profunda com o outro antes de sentir desejo.
Por isso, a atração sexual do demissexual não está relacionada a nenhum gênero específico, e sim à conexão que tem com o outro.
Em suma, o vínculo deste gênero não-binário se dá primeiro nos campos psicológico, intelectual e/ou emocional.
Grayssexualidade
A grayssexualidade ou assexualidade cinza se caracteriza por uma atração sexual limitada.
Em outras palavras, os grayssexuais experimentam menor desejo sexual, com menos intensidade e em momentos específicos.
Desse modo, o grayssexual pode sentir diferentes tipos de atração, por exemplo:
- Romântica;
- Emocional;
- Estética;
- Física;
- Sexual (em menor medida).
Além disso, não podemos confundi-los com assexuais, pessoas com pouco ou nenhum nível de atração sexual, independente do gênero.
Gênero não-binário é o mesmo que Trans?
Apesar de os dois termos conversarem em determinados contextos, eles não significam a mesma coisa.
Como dito anteriormente, quem se identifica enquanto não-binário tem a identidade de gênero descolada do binarismo masculino e feminino.
Trans é aquele que não e identifica com o gênero biológico de nascimento.
Contudo, isso não o impede de se sentir parte da expressão binária homem/mulher, assim como também não o impede de se identificar enquanto pessoa não-binária.
Pronome neutro
Mesmo que o português seja uma língua binária, que faz distinção entre feminino e masculino, nos últimos tempos a linguagem neutra tem ganhado força.
Atualmente, andam surgindo alternativas de pronomes não-binários, além de outras formas para representar o gênero fluído dentro da língua.
Só para ilustrar, o uso de pronomes como “elu” ou “ile” para se referir às pessoas que não se identificam com indivíduos binários. Ou a substituição das vogais “a” e “o” no final de substantivos, adjetivos e outras classes de palavras pela vogal “e”, que é entendida como neutra.
Desse modo, expressões como “Elu é bonite” surgem como alternativas para uma linguagem neutra.
Mas, se você tem dúvidas de como se referir a uma pessoa não-binária, aí vai uma dica: sempre pergunte para a mesma como gostaria de ser chamada.
5 famosos que se declaram não-binários
1. Demi Lovato
Em 19/05/2021, a ex-atriz mirim da Disney, Demi Lovato, divulgou em um perfil de rede social que passou a se identificar enquanto pessoa de gênero não-binário.
Em sua publicação, a cantora norte-americana destacou a necessidade de fluidez na expressão de gênero.
Além disso, frisou que, a partir de agora, adotaria os pronomes neutros da língua inglesa “they” e “them” para referir-se a si mesma e gostaria de ser referenciada desta forma.
De acordo com a cantora, “Todos os dias acordamos com uma nova chance de nos expressarmos e sermos quem mais queremos ser”.
Portanto, ela entende que se identificar como não-binária ajuda nesse reconhecimento de si.
2. Bárbara Paz
Em entrevista realizada pelo ator Paulo Azevedo para o podcast Almasculina, a atriz declarou-se não-binária.
Segundo Bárbara, após conversar com um amigo entendeu que não se encaixava no conceito de gênero binário.
A lém disso, a atriz destaca que sempre sentiu habitarem muitos homens dentro de si, além de se sentir mulher.
“Às vezes, me olhava no espelho e me sentia um garoto. Me olho no espelho hoje e sou uma mulher com peito, bunda, curvas. Gosto de ser menino e de ser menina. Pode? Hoje pode!” destacou a atriz.
Para a atriz, agora com 46 anos, o encontro com o gênero neutro faz parte do seu encontro com uma identidade que sempre esteve dentro de si.
3. Sam Smith
O cantor britânico Sam Smith, de 29 anos, se identificou como não-binário em 2019.
Ele tornou sua identidade de gênero pública em uma entrevista para a atriz Jameela Jamil.
Durante a entrevista, Sam destacou que sempre se sentiu em guerra com o próprio corpo e mente.
Além disso, disse que consegue se enxergar como mulher em alguns contextos e pensa até mesmo em uma mudança de sexo.
Ademais, Smith também destacou que passou a refletir sobre o assunto e a se identificar depois que ouviu mais sobre o assunto.
4. Serginho Orgastic
Depois que a cantora Demi Lovato se identificou como não-binária, o influenciador digital Serginho Orgastic, ex-participante do reality show BBB, declarou não estar surpreso.
Serginho, que se identifica como não-binário, aproveitou para dizer que nunca se identificou como mulher nem como homem:
“Nunca quis ser uma mulher, não quero ter peitos, não mudaria meu órgão sexual, nada. E também não gosto de me sentir totalmente masculino. eu adoro transitar entre um e outro, com liberdade.”
Além disso, ressalta que, assim como Sam Smith, quando tomou conhecimento da definição de gênero não-binário, se sentiu completo.
Isso porque, até então, se via como um gay afeminado, que é uma ideia muito simplificada.
5. Ezra Miller
Desde 2012, o ator, cantor e modelo norte-americano de 29 anos se identificava como bissexual.
Mas, a partir de 2018, passou a falar sobre gêneros neutros e não-binários.
Em março de 2020, o artista deu uma entrevista para a revista GQ em que ressaltou a importância das lutas da causa LGBTQ+ contra qualquer tipo de preconceito.
Ezra também destacou que sente como se vivesse de forma clandestina, pois a maioria das pessoas ainda não o entendem.
“As pessoas não me entendem. Há uma grande confusão sobre isso, mas fico confortável de falar sobre este assunto. Estou aqui para fazer o que puder para todos para quem eu puder fazer”.
Conclusão
Vivemos um momento em que a liberdade identitária e sexual faz, cada vez mais, parte do cotidiano.
Nesse sentido, quando famosos se identificam como não-binários, ajudam a dar a sensação de pertencimento aos fãs.
Além disso, não podemos esquecer que a sexualidade pode ser fluída. Hoje, o modo como nos sentimos não precisa ditar o que seremos no futuro.
Desse modo, esperamos ter ajudado a esclarecer algumas questões e trazer um pouco mais de conhecimento sobre o gênero não-binário, identidade de gênero e movimento queer.