Passageiros e Tripulantes

Durante minha vida como executivo enfrentei milhares de reuniões de todo tipo. No começo da carreira, jovem e inexperiente, eu admirava a habilidade com que aqueles altos executivos tomavam decisões. Que beleza! Será que um dia eu seria como eles?

E a cada convocação para uma reunião eu ficava orgulhoso. Pô, eu fazia parte do esquema!

Com o tempo fui reparando que a maioria das reuniões era confusa, sem um objetivo claro. Uma perda de tempo. E um dia virei chefe e passei a ter a responsabilidade por convocar e conduzir reuniões. Foi então que refinei minha capacidade de reparar no espírito de participação das pessoas, em quem falava mais, quem estava bem humorado, quem atuava ativamente.

A atitude de cada um era o que me interessava. Aprecio gente que opina, que defende seus pontos de vista, ao contrário daqueles que entram mudos e saem calados, ou os que enfadonhamente estampam no rosto o suplício de ter que participar de uma reunião.

Com o tempo aprendi a não convocar os que apenas contemplavam, os negativos, os enfadados, que ficavam felizes por serem excluídos daquelas “roubadas”.  Mas o que a princípio pareceu-lhes um alívio – ser poupados daquelas “reuniões chatas” –  logo tornou-se motivo de preocupação. Não participando, os contempladores ficaram de fora das tomadas de decisão. Deixaram de fazer parte do grupo que definia os caminhos. Alguns nem perceberam, mas dali a deixar de fazer parte da equipe era questão de tempo.

Passei então a utilizar um mote com minha turma:

– Em minha equipe não quero vagão. Quero locomotiva. Gente que tem que ser puxada não me interessa. Se eu tiver que repreender alguém, que seja por algo que fez e não pelo que deixou de fazer.

No começo as pessoas pareciam não entender. Eu acenava para elas com uma coisa chamada “liberdade”, à qual elas não estavam acostumadas. Os mais velhos tinham medo. Os mais novos tinham dúvidas. Alguns não perceberam que aquela “liberdade” era irmã siamesa da “responsabilidade” e botaram os pés pelas mãos. Outros souberam aproveitar a oportunidade e alçaram vôo, para minha satisfação.

E aos poucos a equipe foi depurada até ter uma maioria capaz de entender seu papel como agente ativo e compreender o impacto e influência de suas atitudes no grupo. Foi então que as reuniões ficaram rápidas e objetivas. Não raro, desnecessárias.

Moral da história: navegamos pela vida como que num cruzeiro a bordo de um navio enorme e divertido. Dentro dele existem milhares de passageiros e centenas de tripulantes. Os passageiros tomam sol, divertem-se, descansam e contemplam. Acordam tarde, vão para a piscina, fazem compras no shopping, dançam nos bailes e jantam com o comandante. Passageiros exigem bom tratamento, reclamam da bebida quente, da comida demorada e da toalha que não está sequinha.

É muito bom ser passageiro!

Mas quem define para onde, como e quando o navio vai, são os tripulantes.

Luciano Pires

Segunda feira, 24 de agosto, tem nova palestra de lançamento do selo Iscas Intelectuais. Será na Forneria Melograno, na  Rua Aspicuelta 436, Vila Madalena em São Paulo. E depois em Porto Alegre e Recife. Venha refletir sobre como escapar da grande manada resignada da sociedade da informação. Confirme presença em contato@lucianopires.com.br ou saiba mais em

COMENTE ESTE TEXTO:

Você aprecia os textos de Luciano Pires? Já pensou em promover uma palestra dele em sua empresa? Dê uma olhada nos temas em

ISCAS INTELECTUAIS
As Iscas Intelectuais, publicadas em www.lucianopires.com.br, são o “fitness intelectual” que vai ajudar a manter sua mente em forma.

PODCAST CAFÉ BRASIL – O CUSTO DA EDUCAÇÃO – com Luciano PIres
O podcast da semana abre com o professor e escritor estadunidense Derek Bok: “Se você acha a educação cara, experimente a ignorância.” Vamos falar de educação usando um texto de Rubem Alves que diz: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas.” E depois tratamos da experiência do Instituto Ayrton Senna que está revolucionando a educação em algumas regiões do Brasil, gastando 100 reais por ano por aluno.

Você leu certo: 100 reais… Na trilha sonora: Álvaro Henrique, Paulo Autran, Lo Borges, Alex Saba, Karnak, Elba Ramalho com Renata Arruda e o Época de Ouro com Sivuca.

OUÇA EM

Conheça também o portal Café Brasil com enquetes, fórum, artigos, vídeos, rádio e uma variedade de conteúdo focado nas questões da educação e da luta contra o emburrecimento do Brasil.

Luciano Pires: Luciano é jornalista, cartunista, palestrante e consultor de empresas. Idealizador do site www.cafebrasil.com.br.

Usamos cookies em nosso site para oferecer uma melhor experiência. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações" para ajustar quais cookies deseja aceitar ou não em nossa Política de Privacidade.

Leia mais