Olhar o mundo a partir da moda e das passarelas da SPFW

Olhar o mundo a partir da moda, uma das propostas do Fashion Bubbles, nos faz perceber as nuances da comunicação de toda a cadeia produtiva da moda e a dinâmica da nossa vida do ponto de vista sócio, político, econômico e cultural.

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Não há dúvidas de que a crise financeira internacional influenciou todos os setores da moda, desde os produtores agrícolas que enfrentaram grandes dificuldades para financiar suas produções, até os comerciantes profundamente afetados pela redução abrupta no consumo. As marcas internacionais de luxo também foram afetadas  pela flutuação cambial e  políticas  fiscais de altos impostos e proteção de mercado, dando espaço para  que as marcas nacionais pudessem mostrar que são uma alternativa.

O mercado brasileiro, embora muito afetado pelos efeitos da crise, se mostrou resiliente e bem estabelecido. O mesmo não podemos dizer do mercado Argentino, onde a mudança do perfil dos turistas e consumidores locais motivaram grandes marcas a abandonar o país e outras a fecharem suas portas por não ser mais sustentável. Emporio Armani, após oito anos de presença na Argentina, decidiu abandonar o mercado e a Zara declara não ser mais efetivo os custos de importação de roupas do Uruguay, enfrentando sérios problemas em consequencia das políticas governamentais.

A SPFW – São Paulo Fashion Week – este ano teve investimento recorde de USD 10 milhões e abriu suas atividades na quarta-feira dia 17 como se a crise financeira internacional não existisse ou tivesse chegado ao seu final. Seus principais patrocinadores (Natura, Tam, Melissa, Havaianas, etc.) ajudaram muito para que o evento em São Paulo – maior centro de negócios e vanguarda da América Latina – despistassem a crise. Entretanto, nas passarelas,  os estilistas traduziram como estamos vivendo e percebendo o mundo atual, com muita criatividade.

O mundo estava relaxado, colorido e o dinheiro circulava em grandes volumes e em altíssima velocidade. Na moda não era diferente – tudo podia do ponto de vista estético e de investimento: babados, listras, xadrez, bolas, sobreposição, cores variadas do preto/branco aos cítricos, muitos tecidos soltos relaxados e esvoaçantes representando a leveza de se ter dinheiro, glamour e estilo. Japonismo, anos 20, 30, 50 (new-look), 60 e anos 80. As passarelas não apresentavam desfiles, mas shows de toda a natureza e personalidades se passando por modelos.

Nos últimos desfiles, percebemos que  as cinturas foram apertadas e o caimento está mais comportado.  As cores sóbrias revelam o humor pós-crise e o toque de alfaiataria (paletós masculinos) em cores de “comodity” (sacos de café) apresentados por Reinaldo Lourenço e Cori e o linho artesanal e coletes sobrepostos por Maria Bonita, demonstram que é preciso voltar ao trabalho e recuperar toda uma trajetória que a moda brasileira percorreu para atingir a maioridade.

Não basta cobri o corpo e protegê-lo das intempéries do mundo, a proposta da moda é comunicação, status, tendência, criatividade e capacidade de gerar negócios e gerar trabalhos para muita gente que também tem o compromisso de fazer a economia girar.

Não basta olhar a partir da moda, é preciso apreender esta linguagem cultural e assim entender não só o momento, mas estar com o olhar atento para frente e assim poder se preparar para um futuro que pode ser recriado, mas grande parte dele já está descrito pelos visionários que contribuem muito, mas também impõem suas impressões no que comer, beber, vestir e até em como viver.

Por Carlos Alberto Silva

Carlos Alberto Alves e Silva: Psicanalista e economista, com pós-graduação em Administração pela USP e Marketing pela ESPM. Tem MBA em Gestão Internacional pela Thunderbird School of Global Management‚ Arizona‚ USA e formação nas áreas de Psicologia e Filosofia.
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