Como a confecção paulista Cris Barros está combatendo um mal muito comum entre as pequenas e médias empresas de seu setor — precariedade na administração e custos nas alturas
Em apenas cinco anos, a ex-modelo Cris Barros, de 36 anos, conseguiu se estabelecer como uma das estilistas mais procuradas pelo público que freqüenta endereços chiques da moda paulistana. A manequim, que saiu da adolescência estampando capas de revista, acabou virando empreendedora de uma grife que produz 50 000 peças ao ano e que leva seu nome. Segundo estimativas do mercado, a empresa fatura cerca de 10 milhões de reais por ano, e as vendas vêm crescendo a uma média de 30% a cada coleção. Hoje, suas roupas estão presentes em 60 pontos-de-venda em todo o Brasil e em lojas de luxo de 12 países, entre os quais Estados Unidos, Líbano e África do Sul.
Em parte, a história de Cris não é muito diferente da de outros empreendedores do mundo da moda que saíram das passarelas ou dos ateliês de costura para criar marcas poderosas. A diferença é que, logo nos primeiros anos, Cris percebeu que o crescimento do negócio ia exigir bem mais do que a criatividade necessária para compor belos modelos — era preciso manter uma gestão eficiente e um rigoroso controle dos custos. “No lançamento da minha primeira coleção, em 2002, o estoque previsto para durar três meses foi vendido em apenas 15 dias”, diz ela. “Não demorou muito para perceber que, sozinha, eu não daria conta de acompanhar o crescimento da marca.”
Cris encontrou na própria família o apoio de que precisava para manter sua grife no rumo do crescimento. Ela divide a gestão dos negócios com dois sócios — a irmã Daniela, economista de 34 anos que atuava no mercado financeiro, e o cunhado Luiz Felipe Verdi, de 36 anos, formado em administração de empresas pela FGV, com MBA na Kellogg, uma das escolas de negócios mais conceituadas dos Estados Unidos. Em boa parte das grifes de moda brasileiras, a solução para profissionalizar a gestão foi encontrada fora. Foi o caso, por exemplo, da marca de roupas de praia Rosa Chá, do estilista Amir Slama, que está desde 2006 sob o controle da catarinense Marisol. Outras marcas, como Isabela Capeto, Zoomp e Le Lis Blanc, foram adquiridas por grupos de investidores. “Apesar das margens altíssimas desse setor, muitos pequenos e médios empreendedores de moda abusam, desperdiçando recursos e utilizando os lucros unicamente para o enriquecimento pessoal”, afirma Eduardo Tomya, professor do MBA de moda da Faap e consultor da BrandAnalytics. “Com a concorrência cada vez mais acirrada, quem se sair bem na gestão, sem se descuidar da criação, como no caso da Cris Barros, estará em vantagem.”
A estilista começou a trocar as passarelas pelos negócios quando decidiu cursar moda, num tempo em que não existiam no Brasil muitos desfiles badalados e o mercado era restrito a poucas grifes. Nos anos 90, fez pós-graduação no Instituto Marangoni, em Milão, e participou da equipe do estilista Stephan Janson, que trabalhou com Yves Saint Laurent. De volta ao Brasil, atuou na área de marketing da Zoomp. Com essa formação, Cris se mantém capaz de criar roupas bonitas e de traçar boa parte das estratégias de marketing — o que inclui vestir gente famosa para garantir fotos e destaque em revistas de celebridades e em colunas sociais, mantendo a marca em evidência.
A face menos glamourosa do negócio, como o gerenciamento de custos, a distribuição e as finanças — justamente os pontos em que boa parte das pequenas e médias empresas de moda costuma errar bastante a mão —, fica a cargo da irmã e do cunhado. Os dois sócios trouxeram para a empresa a visão gerencial que faltava. Quando a marca tinha dois anos, Daniela decidiu deixar a carreira no mercado financeiro para virar sócia da irmã. Verdi entrou pouco tempo depois. “Eu via as duas irmãs discutindo os negócios e não conseguia entender como moda podia ser algo tão complexo”, diz ele. “Quando pedi para ver os números, constatei que podia ser muito complicado mesmo. Mas que também era bastante promissor.” Ele pediu demissão da Booz Allen Hamilton, onde trabalhava como consultor, para se tornar sócio da grife.
Controlar o processo de produção é um dos principais desafios de Daniela e Verdi. Para manter a exclusividade, são confeccionadas poucas peças por modelo, destinadas a consumidoras que pagam até 4 000 reais por peça. A empresa também encomenda aos fornecedores estampas e tecidos exclusivos. “Crio a roupa do zero”, diz Cris. Enquanto a estilista idealiza suas peças, boa parte do trabalho de Daniela e Verdi consiste em tornar a empresa mais eficiente e em encontrar novas fontes de receita.
No ano passado, por exemplo, Daniela descobriu que a companhia podia aumentar as vendas fazendo roupas para crianças. Ela percebeu a oportunidade quando uma cliente cortou a barra de um vestido para fazer outro igualzinho para a filha. Com a Cris Barros Mini, lançada em outubro do ano passado, a empresa também consegue ganhos de escala na compra dos tecidos — os mesmos utilizados na coleção adulta. Os modelos de tamanho reduzido são similares aos da linha para adultos, o que reduz custos para desenvolver as peças.
Por Adriana Wilner
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