Resposta a Vinicius de Moraes – Parte 2/2
Leia também Considerações sobre o gênero ( masculino / feminino) – Parte 1/2 . Por Ângela Rodrigues em referência ao 8 de março! Vinicius q…
Leia também Considerações sobre o gênero ( masculino / feminino) – Parte 1/2 .
Por Ângela Rodrigues em referência ao 8 de março!
Vinicius q me desculpe, mas, mais fundamental que a beleza, é a destreza, a macheza, camufladas na delicadeza do toque forte, duro, quase rude, seguro e pontual.
A inteligência geral, que não humilha, mas disfarçadamente corrige, ensina, sugere o erro, mas instiga a fala, quer ouvir, não apenas corrigir, mas aprender, rever verdades, surpreender.
Agora, a mulher que aflora não tem só corpo, não tem só peito, só nádegas, lábios pouco úmidos, isso é muito pouco!
Ah Vinicius! pena não ter visto a geração de agora, com ou sem saboneteiras, é mais vivida, mais senhora, mais menina que outrora, despudorada, dissimulada, articulada, recatada, sexuada, sensual, amoral, isso sim é que é fundamental… tudo isso em uma só, uma só com um pouco disso, é mais gente, muitíssimo mais carente!
Me perdoem os fracassados, travados, os coitados, desiludidos, mal sucedidos, mal vividos, mas é absolutamente preciso ser provedor, ser amante, orador, ter cheiro bom, ser provedor de um tudo, ela agora só quer ser mulher!
Servida, degustada, bebida, protegida, imunizada do ocioso, vicioso, mal cheiroso, agressor maldito, que lixo!
Mas não sejamos hipócritas, ao feio da carne, nosso respeito, mas hoje temos direito, se vire, corra, ande, depile o peito, faça pose, aprenda, nos surpreenda.
Parecer bonito atrai, mil coisas suscita, sussurra apenas o que belo explícito grita!
Como não depende de genética, se faça, se refaça, se procure, se encontre, se melhore, se lapide, de um jeito! Qualquer jeito!
Leia, ouça, veja, capte, sinta, intua,transcenda!
Seja muito mais, a mulher hoje é poeta intransigente, amante quente, exigente, parideira de desejos indecentes, cria ávida pela criação, de idéia, de reforma, de tudo que lhe garanta fruição.Mas não sejamos vazias, aos vazios e feios de alma, nem a calma de uma dama sem peito, sem nádega, sem pompa, sem nada, aprovaria.
(Para quem nunca leu ou simplesmente esqueceu, vale a pena: RECEITA DE MULHER DE VINICIUS DE MORAIS)
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Por Ângela Rodrigues
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Receita de Mulher
Vinicius de Moraes
Composição: vinicius de moraes
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os menbros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhavel na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferencia grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.
Por Ângela Rodrigues
Ângela Rodrigues é graduada e mestre em Filosofia pela Unesp. Professora universitária há 8 anos na área de pesquisa científica em vários cursos superiores e pós-graduação dos quais se destacam Moda, Arquitetura e Urbanismo, Ciência da Computação entre outros. Além de ministrar aulas de métodos de pesquisa, foi orientadora de diversas monografias de final de curso de Moda. Ângela foi também co-autora de dois artigos científicos apresentados e publicados nos Anais do Colóquio de Moda da FEEVALE/RS em 2008. E mantém o blog Corpocomente no qual são postadas informações sobre moda, comportamento, fotografia, cinema e culinária. E-mail:[email protected]
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