Relacionamento tóxico no BBB 23? O convívio de Bruna Griphao e Gabriel Fop na Casa mais vigiada do Brasil rendeu muitas críticas durante a semana e, antes de ganhar proporções ainda maiores, sofreu uma intervenção – mais que necessária – do apresentador Tadeu Schmidt.
Na abertura do programa nesse domingo, o apresentador deixou os brothers perplexos com o spoiler recebido e repercutiu fortemente nas redes sociais.
Em seguida, a terapeuta Camila Custódio, colunista do Fashion Bubbles, explica melhor sobre a polêmica do casal. Além disso, ela define o que é considerado um relacionamento tóxico e fala sobre novas formas de abuso que, muitas vezes, passam despercebidas. Continue lendo!
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O que aconteceu com Gabriel do BBB 23?
O apresentador Tadeu Schmidt alertou os participantes com falas ditas pelo próprio casal durante a semana e concluiu: “Gabriel, em uma relação afetiva, certas coisas não podem ser ditas nem de brincadeira. Nem de brincadeira!”
Tadeu se referia à fala de Gabriel durante uma DR do casal: “Sim, mas já já tu vai levar umas cotoveladas na boca”.
Não é de hoje que o BBB ganha evidência e audiência por conta dos relacionamentos entre os participantes e, embora uma relação tóxica não seja entretenimento, podemos aprender muito com essa reprodução de comportamentos.
Afinal, trata-se de um reflexo da nossa sociedade machista na Casa, que serve de alerta para tantas mulheres que estão passando por esse tipo de situação nesse momento.
Já acompanhamos a discussão sobre os relacionamentos abusivos com outros casais no reality, como foram os casos de Marcos e Emily (Marcos chegou a ser expulso do BBB 17), Guilherme e Gabi (BBB 20), Arthur e Carla Diaz (BBB21) e, agora, Bruna e Gabriel.
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Como se comporta uma pessoa tóxica?
Com apenas uma semana de programa, esse caso chamou a atenção rapidamente do público e também dos próprios colegas de elenco. A toxicidade dessa relação vai desde a forma como ele insistiu para ficar com ela, seguidos de falas, atitudes grosseiras e agressivas de Gabriel com Bruna, que foram moldando essa relação.
Porém, nessa edição, vimos um perfil um pouco diferente: Bruna, uma mulher com posicionamento forte, sem papas na língua, uma das líderes do grupo, se envolvendo com o até então doce e calmo Gabriel. Ambos fogem do padrão da mulher frágil e do homem que impõe sua força física.
E talvez seja exatamente por isso fique difícil de identificar o abuso. Inclusive para a própria Bruna que, após o desabafo com os colegas, falou que já viveu outros relacionamentos abusivos:
Sim, quando estamos dentro de uma relação tóxica ou abusiva temos muita dificuldade de enxergar isso. Quando já é um padrão de suas relações, e você se encontra diante de um perfil de homem diferente do que está acostumada, fica mais difícil ainda de perceber e aceitar.
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A dificuldade de identificar um relacionamento tóxico
“Eu não queria expor isso aqui, mas na minha vida eu já vivi muitos relacionamentos abusivos, do tipo com agressão, ameaças. Eu já pude morrer na mão de namorado algumas vezes, isso é real. A gente fica naquele papo ‘ele não é agressivo, ele só tem ações agressivas.’ Minha mãe dizia ‘às vezes ele não quer te matar, mas te mata sem querer.”
Esse relato de Bruna é muito sensível e triste porque representa a realidade de milhares de mulheres no Brasil e no mundo, onde a própria vítima tem dificuldade de identificar a violência, quando ela não é física.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que uma a cada três mulheres em todo o mundo sofreram violência física e/ou emocional por parte do companheiro ou de terceiros durante a vida.
Esse dado é alarmante e afirmo que, assim como para a vítima é difícil de identificar – por conta da relação de apego e dependência emocional estabelecida com o abusador -, para os homens também é difícil perceber quando estão sendo abusivos.
Por causa de nossa cultura machista, muitos comportamentos e falas tóxicos eram, até então, tidos como normais em nossa sociedade e foram minimizados até aqui.
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Como saber se você está em um relacionamento tóxico?
O abuso surge como uma teia emocional travestida de afeto, cuidado, zelo e ciúmes – o que para muitas mulheres ainda é visto como um termômetro para o amor.
Essa teia vai crescendo em um ciclo de tensão que se alterna entre o afeto, a violência psicológica, emocional ou moral, até chegar à agressão física, que culmina no arrependimento e volta à fase da lua de mel entre o casal. Logo depois, esse ciclo se repete e tudo vai ficando maior, tanto as manifestações de afeto quanto as agressões.
O agressor sempre usa de seu poder de manipulação, seja em falas ou atitudes, com que a vítima se sinta culpada ou responsável pela situação.
Dessa forma, há falas padrão nesse discurso, como: “Eu não queria ter feito isso”; “Eu jamais faria isso”; “Foi você que fez eu agir isso dessa forma”; “Porque eu não sou assim”; “Só reagi à sua atitude/ao seu comportamento”; “Não conhecia esse meu lado”; “Você despertou isso em mim”.
A vítima perdoa o agressor e segue nesse ciclo de dependência emocional e apego, onde a teia já virou uma prisão retroalimentada por ambos.
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É possível sair de uma relação abusiva?
Ainda há muito julgamento e poucos questionamentos profundos a esse respeito. É fácil afirmar que a mulher não sai dessa relação porque não quer, porque gosta de sofrer ou apanhar. Mas, na verdade, nenhuma relação, nenhum vínculo emocional – e eu disse nenhuma – se desfaz da noite para o dia.
A maioria das vítimas não tem estrutura psíquica para esse tipo de enfrentamento. Todas nós mulheres precisamos de uma rede de apoio para se libertar. Precisamos de acolhimento e, na maioria das vezes, recebemos apenas o julgamento.
No caso do BBB 23, Bruna foge do perfil de mulher frágil. E, como já citado por outros especialistas, mulheres fortes, independentes e empoderadas também são vítimas de abuso.
O fato de elas confrontarem seus abusadores não as tornam menos vulneráveis nessa relação, nem menos vítimas. Pelo contrário, a dinâmica do abuso se transforma, se torna mais arrojada, mas o resultado, o impacto emocional é o mesmo.
Bruna foi perdendo sua autenticidade, com sua autoestima abalada. Sente-se responsável por Gabriel, culpada por suas atitudes, pede desculpas por comportamentos que não deveria, pois já foi capturada nessa relação. E, mesmo que acolhida após o episódio pelos colegas, a partir de agora só ela pode resgatar-se.
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Conclusão
Que esse episódio sirva de muito aprendizado para todos nós: mulheres são vítimas de abuso e homens são vítimas de uma sociedade patriarcal e machista.
Que as mulheres aprendam por meio do respeito e da empatia a não julgar Bruna ou qualquer outra mulher que está vivendo uma relação diferente da dela. Independente da sua idade, crença, raça, profissão e status social. Ninguém fica em uma relação abusiva porque quer ficar.
Que os homens aprendam, assim como Gabriel, independente da idade, que têm um longo processo de desconstrução da sua masculinidade tóxica pela frente. É importante rever seus comportamentos, suas falas, suas atitudes e compreender para que não se repita em um próximo relacionamento.
Muitos processos de desconstrução estão presentes nesse caso de relacionamento tóxico no BBB 23 e precisamos olhar para eles com atenção. Só assim faremos com que novas estruturas de poder e abuso não cresçam e velhos hábitos de julgamento não se fortaleçam.
Em seu lugar, que venha o aprendizado de amar melhor e de uma forma mais saudável. Porque, sim, o que precisa crescer em qualquer relacionamento é o amor e não a violência, seja ela do tipo que for.
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Sobre a colunista
Camila Custódio é idealizadora do Consultório Emocional – @consultorioemocional nas redes sociais. Camila é Assistente Social, Terapeuta de Família e Casal, Terapeuta Relacional Sistêmica, Psicanalista e Coach. Além disso, é Especialista em Gestão da Emoção e Consultora em Desenvolvimento Humano.
Escreve sobre saúde emocional, relacionamento e empoderamento feminino para sites, revistas e blogs. Atende pacientes online de todo o Brasil e do exterior.
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