Eu devia estar fazendo alguma coisa errada, porque me foi dito: assim você não vai para o céu. E quando se escuta isso pela primeira vez, é melhor nem questionar, porque a promessa de ir pro céu só pode ser algo in-crí-vel e por isso mesmo nem se questiona. Mas, isso não acaba aí, você acaba fazendo mais algumas traquinagens e aquela voz volta a lhe dizer: assim você não irá para o paraíso.
Assim não dá! Que lugar tão fantástico é esse? A resposta veio e foi, de fato, sedutora: É um lugar sem problemas, sem sofrimento, as pessoas são felizes e se vestem de branco.
Na pouca idade que eu tinha, isso só poderia significar que ninguém “cortaria” minha pipa e o vento sempre sopraria, não choveria nunca. Ninguém tiraria meu pião da sela. Não precisa estudar, trabalhar, nem pedir autorização para sair de casa. Realmente daria para ser bonzinho com uma promessa de paraíso tão boa…
Pensando melhor, alguma coisa estava errada nesta promessa. Se mais alguém estaria comigo no paraíso é porque mereceu e teria as mesmas facilidades, afinal, “lá todas as pessoas são felizes”. Isso também significa que ninguém cortará minha pipa e eu não cortarei a de ninguém… E não preciso treinar para tirar o pião da sela, nem estudar mais para uma futura carreira, afinal, quem está lá não terá sofrimento… A tal promessa ficou chata demais…
É com estes pequenos questionamentos que vamos quebrando as leis que direcionam nossas vidas e regras internas que vão limitando nosso potencial ou que impedem que vivamos com plenitude.
Neste natal aconteceu de eu ganhar uma linda caixa preta fosca, com uma palavra escrita em preto brilhante e um laço em fita cetim, no interior quatro sabonetes com perfumes exóticos, embalados um a um com caixas coloridas. O presente veio acompanhado da frase imperativa “É para usar”! Começou aqui o problema, um conflito com uma destas regras internas…Sempre que damos um presente, olhamos o semblante da pessoa e, se ela gostou, vai usar. Certo?
Mas, será que você já teve aquele vinho caro estragado porque depois de anos na estante não houve com quem compartilhar? Ou aquela camisa, que já não serve mais, e que só poderia ser usada numa ocasião especial? E aqueles laços rosas e caixas de antigos presentes que você ainda guarda, da sua primeira formatura e bilhetinhos da primeira namorada?
Às vezes receber um presente bem legal pode significar também uma tortura, ao saber que ao usá-lo, ele vai se acabar. A vida não é assim? Para quem vive à sombra desta economia de vida, fatalmente tem uma daquelas leis implacáveis – porém revogáveis – deixadas de herança pelos pais, quando inocentemente ouvíamos “naquele tempo só tínhamos refrigerante numa época especial” …
Meu desejo para 20 10 são muitas DIFICULDADES. Muitas coisas para resolver, muitos paradigmas para quebrar e muitas coisas que estão entulhadas na vida para se livrar, inclusive algumas das tais regras internas… E a cada pequena vitória vem a sensação de ter colocado um dedo no paraíso que um dia foi prometido. Muitas vezes, justamente rompendo estas regras (sendo um mau menino), é que o paraíso se desvenda.
E sendo nós seres incompletos sempre tentando encontrar um algo mais para ficarmos perfeitos, como poderíamos desejar algo melhor em 2009 do que muitos problemas para resolver? Esta é uma busca que nunca se alcança e por isso nos torna tão felizes. Estamos em busca, e, se alcançada vai sempre faltar uma “vírgula“ para ficar perfeito. E isso nunca acaba.
Já usei um sabonete e joguei a caixinha fora. Será que há algo no guarda-roupa de que posso me livrar???
Por Vinícius Moura