Times Square, em Nova York/Foto de Philipp Klinger
O esquecimento, filho do descaso, é um atalho para a ineficiência,
mãe da incompetência.
Há quatro anos, fui convidado a ministrar aulas de Yôga para o staff de uma grande companhia aérea norte-americana em SP, e como bônus, recebi uma passagem a Nova York. Já dentro do avião, percebi que alguns yuppies olhavam para o relógio a todo instante e resmungavam que estávamos tardando a chegar – como se eles não soubessem a duração de uma viagem daquelas.
Ao chegar a Big Apple pela oitava vez em minha vida, pude constatar uma grande mudança em relação à primeira estadia lá há alguns anos: a velocidade. A cidade, agora, mais do que nunca, cultuava a velocidade de tudo e todos. Da informação, da população, das máquinas etc. As pessoas se alimentam, acordam, trabalham, dormem, falam e fazem amor com pressa.
Pude também denotar que a nova resposta para a tradicional pergunta: “Como vai, tudo bem?”, tornou-se internacional. Lá também o interlocutor escuta quase sempre: “na correria!”. Por alguns dias, refleti sobre isso. Tudo ficou ainda mais elucidativo, quando liguei para minha escola de Yôga em SP e perguntei como estavam as coisas. Adivinhe qual foi a resposta?!
No entanto, isso não é exclusividade de Nova York. O mundo tornou-se veloz, globalizado, principalmente o mundo dos negócios, mas os nossos mundos também. Porém, você já parou para pensar até que ponto isso é benéfico para você? Invocando a dualidade que nos permeia, temos vantagens e desvantagens.
Creio que seja óbvia a importância da velocidade nos dias de hoje, principalmente nas vidas em grandes metrópoles. Entretanto, mais óbvio ainda são os prejuízos advindos do ritmo alucinado perpetrado pelas sociedades de uma forma geral. Não estou fazendo apologia à lentidão e sim à conscientização dos atos e a natureza do seu próprio tempo.
Sou diretor de uma Unidade da Universidade de Yôga em São Paulo e tenho percebido com frequência, que a suposta busca pela velocidade tem atrapalhado a perfeição na execução das tarefas por parte dos meus instrutores. Por exemplo, tento fazê-los entender que é de extrema relevância reler aquilo que escrevem, pois, além de nos impor disciplina e controlar a ansiedade, um texto bem revisado é sinal de respeito e educação com o leitor.
Contudo, devido à correria, trocam a qualidade do trabalho por uma maior quantidade de tarefas executadas em menos tempo. Só que nem sempre essas tarefas saem com o primor da perfeição, que é, como diria Michael Jordan, o que diferencia os homens das crianças. Nesse caso, os conscientes e os condicionados.
Quando digo a alguém que estou com pressa e essa pessoa tem a possibilidade de me acompanhar no desenrolar dos fatos, ela costuma indagar após alguns minutos: “Escuta, você não estava com pressa?”. Esse tipo de questionamento acontece porque tento fazer com que a pressa não faça comigo o que faz com a maioria das pessoas: negligenciar os detalhes de uma tarefa.
O segredo é fazer, sem pressa, aquilo que você tem pressa de concluir. Como o Yôga me ensinou: deixar-se absorver pelo momento presente, sem indolência ou desespero. Assim, amenizam-se os erros e o poderoso stress advindo desta correria desenfreada, que velozmente mina a saúde, a produtividade, a criatividade e prejudica a relação interpessoal em qualquer que seja o grupo de pessoas. No fim das contas, todos pagam o preço por aquilo que criamos.
O mundo tornou-se veloz /Foto: borghetti
Um erro comum dos palestrantes é a pressa em se expressar. Querer falar primeiro e mais do que os outros. A paciência é a virtude do sábio, portanto ouçamos primeiro para falarmos depois.
Com a velocidade de uma bola de neve, vamos espalhando esse condicionamento para todas as áreas de nossas vidas. Até quando vamos ao médico, queremos que ele seja veloz em nos diagnosticar e curar. Após cinco minutos de conversa, lançamos a indefectível pergunta: “Então, doutor, o que tenho?” E ficamos irritados com a falta de uma resposta rápida. Nos irritamos com o trânsito lento (minha antiga professora de Inglês desistiu de dirigir em São Paulo, porque outros motoristas não respeitavam quem não estivesse com pressa), com restaurantes que não trazem o prato com a rapidez de um fast-food (um bom treinamento para a diminuição deste sintoma é fazer um tour pelos restaurantes de Havana).
Um claro sintoma que nem todos estão satisfeitos com isso é a nova ordem que está se estabelecendo de mansinho. Fazem parte dela o movimento Slow-Food na Europa em contraposição ao Fast-Food que os Estados Unidos alastraram pelo mundo e o retorno do ancestral sexo tântrico que ensina a não ter pressa – em qualquer interpretação que essa palavra possa ter.
Faça um esforço titânico para que a partir de hoje suas refeições durem o tempo que for preciso. Selecione bem o que navega em seu prato. Mastigue lentamente e sem pressa (se estiver com pressa, deixe para comer depois), saboreie o alimento, sinta as diferentes texturas do que está sendo insalivado, olhe para o que está ingerindo, veja suas cores. Você não vive para comer, mas sim come (bem e consciente) para viver.
Quantas vezes você acha que perdeu uma oportunidade por falta de percepção devido ao “excesso de velocidade”? É como se estivéssemos dentro de um veloz automóvel, tão preocupados em olhar para frente que deixamos de perceber que acabou de passar, por nós, um atalho.
Os gregos representavam a oportunidade através da alegoria de uma mulher com a parte de trás da cabeça raspada. Significava que se você a deixou passar, não adiantará tentar segurá-la pelos cabelos. Foi-se! As oportunidades que você deixa passar não serão esquecidas no tempo e no espaço, alguém as aproveitará em seu lugar! Portanto, amenize a pisada no acelerador e olhe para os lados para que a graça do trajeto seja tão grande quanto o alcance de seu destino.
A paciência é a virtude do sábio/Foto: Flickr
Reflitamos sobre aquela velha e boa expressão: “A pressa é inimiga da perfeição”, pois ela parece ter sido criada por alguém que pressentia que chegaríamos a esta época.
Na verdade, sinto que corremos de nós mesmos. Isso porque se pararmos, perceberemos quem realmente somos, para onde estamos indo e o que estamos fazendo. Fugimos disso com a mesma velocidade com que nos enganamos!
Agora, vá para o começo deste artigo e releia-o, pois é muito provável que o tenha lido com pressa. Devido a ela, deixamos passar, muitas vezes, o essencial, o que não está explícito e sim encerrado nas entrelinhas.
Fábio Euksuzian
Autor dos livros A Ancestral Arte da Poesia, Yôga em Dupla e o CD Relaxe e Desperte!
www.fabioeuk.org
Veja o vídeo com a música de Bebel Gilberto para ficar Tranquilo!