Primeiro Encontre, Depois Procure…

“A vista chega antes das palavras. A criança olha e vê antes de falar” John Berger A importância da Observação Participante e da Pesquisa Etnográfica…

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“A vista chega antes das palavras.
A criança olha e vê antes de falar”
John Berger

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A importância da Observação Participante e da Pesquisa Etnográfica na área de Consumer Research

Muita coisa muda o tempo todo no acelerado e incansável mundo novo.

E a compressão do espaço-tempo da vida pós-moderna cria outras formas de viver, observar e ver o mundo. Na verdade, as experiências nossas de cada dia, não nos permitem mais a velha prática contemplativa, e parecem conspirar contra a atenção concentrada e a reflexão filosófica sobre as coisas do mundo.

Parece que somente nos resta o exercício esquizofrênico do presente vertiginoso, que mesmo assim, nos escapa entre os dedos e lentes. Nada mais parece apreensível, localizável e estável. Tudo que é liquido, escorre para logo depois evaporar. Olhares liquefeitos, vivências fugazes, leveza das formas, fragmentos de vida se desmanchando no ar, diante de nossos olhos desatentos. Tudo sem tempo e lugar, nada tendo duração ou identidade. Isso significa que estamos condenados a errância niilista?

Significa que estamos presos a uma lógica vazia e insana e qualquer tentativa de compreensão do que vivemos e somos é um ato precipitado e sem sentido? Será que já não somos mais capazes de entender e interpretar o mundo que nos envolve e nos cerca?

Nos acostumamos a olhar e ouvir muita coisa, somos uma sociedade saturada de signos, imagens e sons, criamos um certo estranhamento em relação às coisas que permanecem e resistem no tempo-espaço. Na verdade, estamos desaprendendo a ver e escutar as coisas da vida.

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Ver é olhar com os olhos da alma, escutar é permitir que os sons se realizem e façam eco dentro de nós. Ver e escutar são pontes que me ligam ao mundo e aos outros. Somente posso resistir à efemeridade das coisas e pisar e sentir a profundidade do mundo, se eu me permitir conhecer, ver e escutar, o seu mais nobre e rico habitante: o homem.

São eles e somos nós que povoamos de sentido e significação as coisas que nos cercam. Temos o domínio da direção, a chave que abre os olhos sensíveis, a imaginação liberta e a consciência do mundo. Mesmo nos momentos de maior irracionalidade, pressa, instabilidade ou tensão, os homens deste celerado mundo novo, não perdem a sensibilidade e a desejo de entender a si mesmos e o que os cercam.

Temos um grande desafio: nos equipar para a expedição e périplo, abastecermo-nos para a longa caminhada, preparamo-nos para as escavações profundas, para a silenciosa mastigação do que encontrarmos, para desalinhavar pacientemente os nós que se fizeram nos ramos e retirar as pedras para perceber o que se esconde por debaixo delas.

Ser um explorador do mundo contemporâneo, do comportamento blasé, complexo e instável dos habitantes de seus grandes centros é um desafio hercúleo, mas nos resta a paixão, e nos resta também os olhos e a alma, e todo equipamento da imaginação filosófica e interpretativa. Ler o espírito de nosso tempo, desvendar os mistérios insondados do comportamento humano e buscar captar os movimentos, mudanças e tendências que se anunciam é um trabalho instigante e contínuo. Mas precisamos reaprender a lenta arte de tecer: escutar e ver, imaginar e refletir sobre o que somos e queremos.

Há diversas formas de olhar e diferentes maneiras de ver o mundo. O que precisamos é começar a fazer isso de fato. Observar em profundidade, buscar ajustar as lentes e buscar o foco, investigar e interpretar as pistas que nos são dadas. As respostas podem ser provisórias e pouco objetivas, mas estão mais próximas de nós que possamos imaginar.

A cidade e os grandes centros urbanos mundiais são grandes laboratórios abertos de análises do comportamento. O urbanitas é este indivíduo flex, multifacetado, camaleônico e andarilho. Se quisermos trabalhar com tendências precisamos saber que nosso lab está sob céu aberto.

Bem vindos ao grande centro de investigações sobre os fatos e acontecimentos do mundo contemporâneo: as ruas e esquinas. Sejam nômades, caminhem calmamente, façam sua botânica no asfalto.

Pisem no freio, desacelerem, soltem seus cintos, retirem suas viseiras, desçam de seus carros e gabinetes, mergulhem e venham explorar e ver as coisas em ‘ natura’ ( gabinetes mofados e provas in vitro nos revelam pouca coisa da vida…). Como diriam em bom inglês: open your eyes, open your mind. Vamos ver “What`Zon?”…

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(Sérgio Lage é mestre em Sociologia e Publicidade e Marketing pela USP.
Professor Universitário nas áreas de Antropologia do Consumo e Cultura Material, Tendências, Comportamento e Consumo, Posicionamento Estrátégico de Marca e Consumidores. Sérgio tem ainda uma consultoria na área de Comportamento e
Tendências chamada What´Z´on – estudos e idéias. Nas horas vagas, adora escrever textos e crônicas sobre a vida moderna nos blogs Alto Valor Agregado e Vidas no Singular. E-mail: [email protected] .)

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