Estou finalizando um curso de Psicanálise e o que é dito é o cerne de todo o processo psicoterapeutico. Freud depois de várias técnicas e práticas adotou a associação livre, sonho, chiste, atos falhos como sendo as principais vias que nos conduzem ao inconsciente através da fala.
Na vida cotidiana vejo dois grandes desafios com relação a fala e o que é dito. O primeiro desafio é decifrar o que é dito considerando que as pessoas na contemporaneidade se tornaram muito visuais, em conseqüência o imaginário destas se apresentam muito diferente daqueles que lêem. Para os demasiados visuais a fantasia e realidade se misturam (como em um video-game) e a fala muitas vezes é prejudicada no que tange ao desenvolvimento do discurso e argumentação.
O segundo desafio é o que mais me chamou atenção durantes estes dias: descobrir quem é o sujeito que fala e como fala e quem é aquele que escuta e como escuta. Assim como, muitas vezes escutamos o que não foi dito, também não sabemos o efeito do que falamos.
Para exemplificar quero dividir uma experiência que ocorreu durante este final de semana prolongado sem precisar contar os fatos. Eu vivenciei uma cena que me chocou e me incomodou por uma série de razões, mas não poderia comentar com um dos envolvidos minha percepção e como me havia me tocado, pois psíquica e emocionalmente ainda não havia elaborado meus sentimentos. Desta forma, minha fala saiu truncada e agressiva e tocou no outro de uma maneira particular e este sem entender o que estava se passando no meu íntimo (nem eu mesmo o sabia) assimilou a agressividade como se fosse direcionada a ele. E a partir dai todo o mal entendido era protagonista de uma cena que poderia ter sido evitada (ou não).
O fato é que quando dizemos algo, as palavras saem sem volta carregadas de energia e significados inconscientes. Pensamos que num diálogo a dois há somente dois interlocutores, porém o inconsciente dos dois se apresentam de igual maneira podendo conduzir o diálogo para as mais diversas direções. O mesmo acontece no setting de análise, uma vez que não é somente o inconsciente do analisante que está em questão, mas também o do analista. Em um culto religioso, em um comicio político, etc.
Não é novidade que as relações sociais estão cada vez mais complexas, entretanto tal dinâmica pode ser muito interessante quando percebemos o poder da palavra e a analisamos a posteriore para saber o que produziu. O inverso também é verdadeiro, quando escutamos algo que nos toca profundamente sendo que a intensão consciente do outro não era produzir tal efeito.
Não podemos ignorar o que falamos e o que escutamos, caso contrario acabarímos com o diálogo sem acabar com os mal-entendidos presentes inclusive no silêncio. Porém se nos damos conta da dinâmica das palavras, poderemos atenuar muito o efeito das mesmas para quem fala e para quem escuta.
Depois que falai…pensei…
“Pequei por pensamentos, palavras, atos e omissões”….”Por minha culpa….”