Por Fernando Janson
Para mim, muito mais que estilo musical, Rock é atitude, é forma de encarar a vida, é coragem e força. Com isso em mente, vou falar sobre duas mulheres que admiro muito e que têm estado na minha cabeça há bastante tempo e, especialmente, nestes últimos dias.
A primeira mulher odiava as convenções. Nada mais alternativo que sua figura, que misturava um buço significativo com anéis e roupas multicoloridas. Nada mais contraditório que seu desejo de ser independente misturado à sua doentia obsessão por seu marido. Nada mais chocante para a época que suas bebedeiras, xingamentos e namoros com várias amigas. Nada mais bonito que seu amor ao seu país, à sua ideologia política, à arte, à liberdade, paixões que a fizeram passar por períodos de grande privação material.
Quem acha que a descrição acima pertence a uma hippie ou revolucionária dos anos 60 ou 70, está enganado. Essa é Frida Kahlo, cujo centenário comemorou-se em 2007. Para quem nunca ouviu falar dela, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón (Coyoacán, 6 de julho de 1907 – Coyocán, 13 de julho de 1954) foi uma grande pintora mexicana.
Filha de um fotógrafo judeu-alemão e de uma mestiça mexicana, a sua vida foi um tumulto desde o princípio: aos seis anos contraiu poliomielite, ficando com uma lesão no pé direito, o que a levou a usar calças compridas e, depois, saias longas e exóticas, que vieram a ser uma de suas marcas registradas.
Aos 18 anos de idade, o ônibus no qual Frida viajava chocou-se com um bonde, e ela, além de ter diversas fraturas, foi perfurada por uma barra de ferro que entrou pela bacia e saiu pela vagina. Por conta disso, passou por 33 cirurgias durante uma vida de apenas 47 anos. Conseqüentemente, sua saúde sempre foi muito frágil. Isso tudo não a impediu de levar uma vida intensa em todos os sentidos. Sua produção é riquíssima e hoje ela é considerada uma das artistas mais representativas do século XX. Em suas obras, as cores afastam as sombras dos seus dramas pessoais e mostram como encarava a vida de frente.
Frida, viveu muitas tragédias, mas também teve momentos de muita felicidade, onde sorria e ria abertamente e expressava-se com palavrões sonoros, ditos com sua voz profunda. Sua vida sexual foi variada e intensa, com parceiros de ambos os sexos, o que é difícil de se imaginar, com uma saúde tão precária. Tinha grande desenvoltura diante do amor, do sexo e do prazer. Tanto o seu envolvimento com mulheres quanto com homens era sem culpa. A atrofia física não lhe ofuscava o espírito. Era uma sedutora nata, cobiçada tanto por homens, como Trotsky, quanto por mulheres.
Frida morreu em 1954, dois anos depois de ter uma perna amputada, de uma overdose de medicamentos para as dores terríveis que sentia. A última frase que deixou registrada no seu diário foi: “Espero alegre a saída e espero nunca mais voltar – Frida”. Talvez, Frida não suportasse mais.
Última página do diário de Frida Kahlo (1907-1954): “Espero alegre a saída e espero nunca mais voltar.”
FRIDA já nasceu FeRIDA. A arte de Frida é o que a artista sempre foi: FeRIDA e FloRIDA. A sua arte existia antes dela. O pior que podem dizer dela é que sua criação deriva direta e exclusivamente da sua experiência de vida. Claro que a vida influencia a arte, mas arte é arte.
É indissociável da vida, mas vive a seu lado, não obrigatoriamente dentro dela. O pior que podem fazer a um artista é confundir-lhe obra e biografia. Fernando Pessoa padece disso. Florbela Espanca, muito pior. Janis Joplin, então, nem se fala. Maysa, Dolores Duran, Cazuza, a lista de grandes ARTISTAS que sofrem desse mal é interminável. Frida, sem sombra de dúvida, faz parte dela. Frida não foi a melhor pintora do mundo, mas criou uma estética da dor verdadeiramente original; um novo cristo colorido, uma mulher FloRIDA E FeRIDA.
Além de sua obra genial, Frida Kahlo nos deixou o seu exemplo de força, de coragem e de liberdade.
Para quem quer saber mais sobre Frida Kahlo, recomendo que assista ao filme Frida (Julie Taymor, EUA, 2002), com Salma Hayek, como Frida, e Alfred Molina, no papel de Diego Rivera. No filme destaca-se a linda canção Burn it Blue, inspirada num dos quadros de Frida (O Hospital Henry Ford, também conhecido como A Cama Voadora-1932), interpretada por Caetano Veloso.
O Hospital Henry Ford, ou Cama Voadora, (1932).Frida Kahlo (1907-1954). Óleo sobre metal 77,5 x 96,5. Coleção Fundaçao Dolores Olmedo (México).
Burn it Blue
(Elliot Goldentall)
Burn this house
Burn it blue
Heart running on empty
So lost without you
But the night sky blooms with fire
And the burning bed floats higher
And she’s free to fly…
Woman so weary
Spread your unbroken wings
Fly free as the swallow sings
Come to the fireworks
See the dark lady smile
She burns…
And the night sky blooms with fire
And the burning bed floats higher
And she’s free to fly…
Burn this night
Black and blue
So cold in the morning
So cold without you
And the night sky blooms with fire
And the burning bed floats higher
And she’s free to fly
Y la noche que se incendia,
Y la cama que se eleva,
A volar…
And of the dark days
Painted in dark gray hues
They fade with the dream of you
Wrapped in red velvet
Dancing the night away
I burn…
Midnight blue
Spread those wings
Fly free with the swallows
Fly one with the wind
Recomendo também que leia “O Diário de Frida Kahlo”, publicado no Brasil pela José Olympio Editora (com introdução de Carlos Fuentes, comentários de Sarah M. Lowe, e tradução de Mário Pontes).
Vale muito a pena dar uma conferida, ler e reler muitas vezes, a crônica de Caio Fernando Abreu sobre sua experiência com Frida.
Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome.
Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores…
Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela…
Quem é ela, quem é ela? (Adriana Calcanhoto)
Veja mais imagens do trabalho de Frida Kahlo aqui.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Frida_Kahlo
http://www.portalmedico.org.br/include/biblioteca_virtual/belas_artes/cap2.htm
http://www.criticos.com.br/new/artigos/critica_interna.asp?artigo=249
http://www.c7nema.net/site/html/modules.php?name=Sections&op=viewarticle&artid=96
http://www.portalartes.com.br/portal/article_read.asp?id=417
http://laraemara3.blogspot.com/2006/11/
Por Fernando Janson – Homenagem ao mês das mães-noivas-mulheres.
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