A última edição da Semana de Moda de New York chegou ao fim e já ganhou as manchetes como sendo uma das mais body-positive de todos os tempos. Para quem não está familiarizado com o termo, trata-se de um movimento que busca trabalhar a valorização da identidade e da beleza única de cada um, respeitando todos os corpos. A organização Body Positive foi fundada em 1996 por Connie Sobczak e Elizabeth Scott, e desde então trabalha com workshops, treinamentos e campings que promovem o resgate da auto-estima para pessoas que não se sentem felizes consigo mesmas. Após anos lutando contra transtornos alimentares, Elizabeth conseguiu se curar, e dedica a sua vida em busca de um mundo onde as pessoas possam se amar e se aceitar, da maneira como são.
Nos últimos anos, com a forte presença do ativismo digital, o movimento ganhou ainda mais força e acabou percorrendo o globo. As hashtags #bodyposi e #bodypositive inundaram o Instagram, carregando inúmeras histórias de superação pessoal. Campanhas que valorizam a beleza real, sem retoques exagerados, tornaram-se cada vez mais frequentes no mundo da beleza, e agora a indústria da moda percorre o mesmo caminho. Depois dessa NYFW, não resta dúvidas de que a moda está se adequando aos novos tempos, e que essa é a hora da representatividade.
Body Positivity – Representatividade na NYFW
A marca J.Crew se rendeu ao casting da vida real, e foi além: ao invés de usar suas mídias sociais ou mesmo as ruas para escolher seus modelos, a equipe decidiu escolher seu casting entre amigos e funcionários da marca. O time multiétnico que apresentou a coleção Primavera/Verão 2018 incluiu homens e mulheres dos 13 aos 70 anos, contando até mesmo com jornalistas da área. O resultado ficou incrível!
J.Crew SS 2017
Body Positivity trata-se de um movimento que busca trabalhar a valorização da identidade e da beleza única de cada um, respeitando todos os corpos. Amigos e funcionários da marca viraram modelos para a J.Crew
Com idades entre 13 e 70 anos, o casting contou com modelos de diversos backgrounds culturais
J.Crew SS 17 – Body Positivity
O designer Christian Siriano sempre falou sobre a falta de diversidade na indústria da moda, mas o discurso não refletia em seus desfiles. Nesta edição, no entanto, ele resolveu mudar essa realidade, trazendo para as passarelas mulheres de grupos étnicos bastante diversos, além de escolher cinco modelos plus size para desfilar sua coleção.
Christian Siriano – SS 17
Modelos plus size desfilaram para o designer Christian Siriano
Movimento Body Positivity: representatividade nas passarelas de Christian Siriano
Reshma Qureshi é uma garota de 19 anos que teve sua história marcada por uma tragédia. Sobrevivente de um ataque com ácido, que causou a perda de seu olho esquerdo e uma série de cicatrizes no rosto, ela emocionou o mundo ao desfilar na NYFW, para a designer indiana Archana Kochhar. Reshma afirma que ficou realizada com a oportunidade, e que a passarela foi importante para devolver a confiança às outras meninas que passam por situações semelhantes. Ela também participa de uma ONG chamada Make Love Not Scars que ajuda sobreviventes de ataques com ácido a terem uma nova perspectiva de vida.
Archana Kochhar – SS 17 – Body Positivity
Body Positivity – Reshma Qureshi, sobrevivente de ataque com ácido desfila na NYFW – Body Positivity
Em tempos de intolerância religiosa, a estilista muçulmana Anniesa Hasibuan foi aplaudida de pé ao final de seu desfile, sendo a primeira designer a apresentar uma coleção em que todos os looks continham hijabs (véu tradicionalmente usado pelas seguidoras do Islã) na NYFW. Nos 40 looks da coleção, que teve sua cidade natal, Jakarta, como inspiração, os hijabs foram combinadas com calças, ternos, quimonos e vestidos, brincando com sedas estampadas e coloridas.
Anniesa Hasibuan – SS 17
Anniesa Hasibuan desfilou looks em seda, complementados pelo tradicional hijab – Body Positivity
Anniesa Hasibuan – SS 17 – Body Positivity
Por Francieli Hess
(Francieli é formada em Design de Moda pela UDESC e já estudou Cultura e Progettazione della Moda em Florença. Trabalha como estilista freelancer em Florianópolis e é apaixonada por criação, história, branding e comunicação.)
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