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Liderança e Hierarquia

Por Fábio Euksuzian Faço parte, juntamente com outros diretores de escolas credenciadas, do Conselho da Uni-Yôga, maior instituição de Yôga técnico do mundo. Recentemente, uma…

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Por Fábio Euksuzian

Faço parte, juntamente com outros diretores de escolas credenciadas, do Conselho da Uni-Yôga, maior instituição de Yôga técnico do mundo. Recentemente, uma destas reuniões aconteceu em um belo restaurante situado no bairro dos Jardins em São Paulo; quase ao final do encontro, já nos descontos das sobremesas, um comentário sobre uma situação ocorrida em alguma escola, abriu terreno para uma saudável divergência de opiniões e pontos de vista sobre a velha, mas nem por isso menos necessária e quase sempre controversa, relação entre a prática e a teoria do conceito de hierarquia, pedra essencial de grande parte das filosofias orientais.

Alguns caprichados minutos foram usados para que pudéssemos “esgrimar” vernáculos para obtenção de um consenso sobre o tema, o que obviamente não foi possível, visto que contávamos com dez cabeças pensantes sulcadas com as mais diferentes formas de vislumbrar a filosofia que professamos (Yôga antigo). Deixamos o restaurante sem voto majoritário e como infelizmente e quase sempre, o trânsito de São Paulo nos dá tempo de sobra para as mais variadas reflexões; pensei, filosofei e meditei com meus botões durante o trajeto de volta, pois não entendia como algo tão intrinsicamente ligado ao Yôga pudesse gerar dúvidas nas mentes de seus próprios professores.  Algumas lombadas e semáforos adiante, tudo se esclareceu! Percebi que estávamos debatendo assuntos diferentes, mas que naturalmente são costumeiramente confundidos, pois é tênue a linha imaginária que os separa. Estamos falando de liderança e hierarquia.

Em minha opinião, liderança é um direito conquistado, geralmente gerado sem intenção do feito; brota de forma pura e absoluta, ou então, em situações de extrema necessidade.  Há pessoas que nascem com o dom da liderança, outras a desenvolvem.  Por sua vez, hierarquia é um direito de fato, normalmente conquistado por méritos, antiguidade ou até em alguns casos, herdada.

Como nosso assunto era Yôga, sabemos que dentro do rigoroso conceito hierárquico oriental, o neófito não questiona aquele que está acima, simplesmente obedece. Encontra-se isso nas artes marciais, no Yôga, na outrora poderosa instituição dos samurais e mesmo dentro de conglomerados comerciais do Japão, China, Índia etc. O antigo sistema de castas indiano é um bom exemplo de como a hierarquia é utilizada pelos povos acima citados. Elaborado por volta do século X a.C. e que hoje, de acordo com a legislação local deveria estar extinto, é dividido em quatro castas: soberanos, guerreiros, mercadores e os que vulgarmente dizendo, fazem de tudo. Uma vez sendo hereditário de castas superiores, o indiano terá seu grau hierárquico preservado, sem ter realmente nada feito para conquistá-la. O hindu, em sua maioria, entende que o fato da pessoa ter nascido naquela divisão respectiva possui origens kármicas, em outras palavras, ele tem de passar por aquilo, como um pagamento de  quitação atrasada.

No caso do Yôga, isso tudo é alicerçado pela tradicional e poderosa relação Mestre-Discípulo.  Quem escolhe o mestre é o candidato a discípulo e não o contrário, portanto, não cabe ao aprendiz reclamar, muito menos questionar. Geralmente a escolha pelo mestre é, ou pelo menos deveria ser baseada na confiança, não na cega, e sim na iluminada por tudo aquilo que o mestre professa, escreve e, sobretudo vivencia. As palavras de seu mentor devem encontrar eco no coração do principiante. Dentro do discipulado, frequentemente o mestre age com intenções e objetivos nem sempre claros à luz dos obstruídos olhos do discípulo, que se for sagaz os compreenderá cedo ou tarde.  A profunda consideração pela hierarquia dentro da senda da filosofia yôgi é também valorizada pelo entendimento de que os discípulos só estão tendo essa oportunidade de aprendizado porque os seus superiores hierárquicos conseguiram chegar onde estão sem desvios de rota ou desistência.  Por essas e outras, o questionamento imaturo e por vezes, desnecessário, só sugará mais energia do tutor. O aprendiz deve ser estimulado a encontrar suas próprias respostas como exercício de reflexão e autoconhecimento. É como diz a máxima: há coisas que se podem, mas não se devem.

Se tiver que perguntar é porque nunca irá entender.

Louis Armstrong

No caso da hierarquia, todo questionamento deve ser bem pensado antes de ser externado, e quando o for, deve ser feito com muita atenção com a forma com que se faz. Não quero dizer com isso que devemos nos calar perante algo que nos incomode ou até mesmo algo se por ventura, acharmos que poderíamos ajudar a melhorar o sistema da empresa onde trabalhamos ou a qualidade do relacionamento com uma divergente opinião.  No caso da liderança, os questionamentos serão mais freqüentes se o líder não exemplificar na prática aquilo que quer conquistar; aquela batida retórica de médico (não todos) de que faça o que digo, mas não faça o que eu faço, não cabe em grupos chefiados por um líder atuante.

Um exemplo convence mais que qualquer doutrina.

Henry Miller

Na hierarquia, os questionamentos freqüentes e infantis são quase sempre nulos e encarados muitas vezes, como desrespeito e petulância. No entanto, a confusão aparece quando as duas funções, de líder e superior hierárquico se misturam e as bases de relacionamento não ficam especificamente claras.

No sistema de liderança consensual, o liderado confia no líder e em suas qualidades; no entanto, os liderados podem em qualquer instante, colocar em xeque as táticas ou pensamentos do líder, cabendo a este explicar seus pontos de vista e conquistar a visão das pessoas em prol de seus métodos.

Como naquela célebre frase de Emerson: dê-me coragem para mudar aquilo que posso, aceitar aquilo que não posso mudar e discernimento para saber a diferença.

É justamente esse discernimento que nós que trabalhamos em grandes grupos precisamos ter para não nos sentirmos engessados com relação às mudanças que achamos que poderíamos impetrar e, ao mesmo tempo, termos a iluminada percepção de até onde podemos ir para que isso tenha valia.

Bem, o que é que isso tem a ver com você? Tudo! Estas relações estão presentes tanto no lado profissional, quanto no pessoal do homem atual que, pensa que é superior hierarquicamente aos animais, ao planeta, às plantas e por isso não deve ser questionado sobre as atrocidades que perpetra a eles, quando na verdade, o homem há tempos deixou de ser um líder benéfico ao todo. Seria utópico imaginar uma relação com a terra baseada na liderança consensual e no amor recíproco?

Por Fábio Euksuzian

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Foto: Edu Euksuzian

Fábio Euksuzian

Autor dos livros A Ancestral Arte da Poesia, Yôga em Dupla e o CD Relaxe e Desperte!

www.fabioeuk.org

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