Liberdade para o quê?

(…) “O Paradoxo da Escolha, Por que Mais é Menos”, de Barry Schwartz, recentemente traduzido em português (ed. Girafa). Schwartz constata, com razão, que a multiplicação das possibilidades de escolha (que é própria da sociedade de consumo) constitui, de fato, um fardo.

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Exemplo: queremos comprar uma calça jeans e descobrimos que existem infinitos cortes, desbotamentos, preços etc. Ótimo, somos LIVRES PARA escolher entre centenas de jeans. Mas, de repente, eis que NÃO somos LIVRES DE uma tarefa, no fundo, fútil: a de encontrar a calça que nos veste melhor na perfeita relação custo/benefício.

Na hora de escolher um carro, uma faculdade, uma profissão, um país ou uma cidade em que morar, as escolhas possíveis são, hoje, incontáveis. Portanto seríamos mais livres, não é? Pode ser. Em compensação, temos a trabalhosa (e, às vezes, desanimadora) incumbência de escolher.

Schwartz opõe dois tipos subjetivos: os “maximizadores” e “os que se contentam com algo suficientemente bom”. Os maximizadores querem absolutamente fazer a escolha certa; os outros sabem se satisfazer sem ter que alcançar a certeza de que fizeram o melhor negócio.

Ora, constata Schwartz com razão, o maximizador não é nunca feliz: ele é corroído pelo remorso e pela dúvida (será que examinou efetivamente todas as possibilidades?).
Schwartz chega a imaginar que a epidemia de depressão das últimas décadas tenha uma relação com a multiplicação das escolhas possíveis e, portanto, com a insatisfação crônica de nosso lado maximizador. Obviamente, os que sabem se satisfazer vivem melhor. Conclusão de Schwartz: o excesso de liberdade nem sempre é bom.

Tudo bem. Mas vamos aplicar a visão de Schwartz ao campo amoroso. É claro que, se a tradição nos obrigasse a nos casar com a moça escolhida pelos anciões de nossa aldeia, a vida amorosa seria mais fácil. A liberdade para se juntar com quem quisermos é, de fato, uma complicação: para ter a certeza de que Fulano é meu homem fatal, com quantos Sicranos deverei compará-lo?

 Por outro lado, se adotarmos a sabedoria dos que sabem se contentar com o que lhes agrada, nossos parceiros e parceiras não vão gostar.
Em geral, preferimos ser amados por quem acha que somos a melhor escolha possível, em absoluto.

Ou seja, na vida amorosa, os maximizadores sofreriam como sempre, enquanto os que “se contentam” seriam detestados por parceiros e parceiras. Como fica? Pois é, talvez a vida amorosa seja um bom exemplo para descobrir os limites das idéias de Schwartz, porque, nela, a liberdade certamente não consiste em poder escolher o amado numa lista de pretendentes. Amar tem mais a ver com “encontrar” do que com “escolher”.

Por CONTARDO CALLIGARIS para Folha de S. Paulo.

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