No Japão, os “herbívoros” enterram a moda dos machões viris e dominadores

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Yoshinori – que prefere guardar o anonimato – se desloca por Tóquio sobre uma dessas bicicletas da moda na capital japonesa, de guidão reto e estreito, estrutura fina e clean. Yoshinori é um jovem descolado. Alto, magro, 27 anos, ele trabalha para uma televisão comercial como assistente de direção de programas noturnos. Alguns meses atrás, uma amiga o classificou como “Soshoku danshi”, literalmente “rapaz herbívoro”. Ele não levou a mal, não ficou nem surpreso. “No fundo, não ligo”, diz ele.

O termo “herbívoro” foi idealizado em 2006 pela colunista e especialista em tendências Maki Fukusawa, para classificar os novos comportamentos masculinos. A abundância de publicações que se seguiram, entre as quais um livro de Megumi Ushikubo, presidente da consultoria de marketing Infinity, fez do vocábulo um verdadeiro fenômeno midiático e permitiu um refinamento de sua definição.

Ushikubo define os “herbívoros” como os jovens sem ambição profissional, atentos à moda, próximos de suas mães, sem desejo sexual e bastante pão-duros. A ensaísta Toko Shirakawa, especializada em relações entre homens e mulheres, acrescenta que “eles não paqueram, fogem das garotas sexy, não gostam de discussões. Ao mesmo tempo, eles não hesitam em cozinhar e participar das tarefas domésticas”.

Sem preencher todos os critérios, Yoshinori se reconhece nessa definição. Ele mora na casa dos pais, não tem namorada. “Mas eu já tive”, explica. Hoje, ele acredita que manter um relacionamento é “mendokusai”, que quer dizer “um saco”. Uma amiga sua – bonita – admite: “Às vezes o convido para jantar em casa. Mas sei que não acontecerá nada. Ele não se interessa nem um pouco pela sedução”.(…)

Segundo uma pesquisa realizada pela seguradora Lifenet Seimei, em março, com 500 homens entre 20 e 40 anos, 75,6% deles se veem mais como “herbívoros”. E 64% dos 1.264 jovens universitários formados entrevistados em maio pela empresa Mitsubishi UFJ Research & Consulting deram a mesma resposta. Yoshinori concorda: “Mas da metade de meus amigos são ‘herbívoros'”. (…)

“Os homens não precisam mais se comportar como machões viris e dominadores”, acredita Masahiro Morioka, da Universidade de Osaka, em uma obra sobre os “herbívoros”. Ele observa que essa moda não é nova no país. Durante a era – pacífica – de Edo (1603-1868), houve garotos criados como meninas. Ele cita os onagata, atores que faziam os papeis de mulheres no teatro kabuki, e menciona determinados shunga – gravuras de caráter pornográfico da era de Edo – que representavam homens que às vezes eram difíceis de distinguir das mulheres.

Maki Fukusawa também fala de um “retorno a uma antiga norma”. Segundo ela, os homens podem ter se comportado como carnívoros após a guerra e durante o período de forte crescimento para se afirmarem frente aos ocidentais. Mas, acredita ela, “a literatura de antigamente descreve homens de comportamentos similares dos ‘herbívoros’ de hoje”.

Afinal, o professor Morioka vê no fenômeno um sinal de tolerância e de melhor aceitação das fragilidades masculinas. As mulheres teriam tendência a lamentar sua atual passividade. Quanto ao governo, ele poderia ver aí um novo obstáculo para seu desejo de estimular a natalidade.

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