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Identidade e gênero – As diferenças entre corpo biológico, gênero, orientação sexual e expressão de gênero

Ficou confuso com tantas nomenclaturas e expressões de gênero? O consultor especializado em diversidade, Edgard Pitta, desvenda de forma fácil e elucidativa as camadas da sexualidade humana em uma reflexão que vai da biologia à cultura

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Identidade e Gênero – O ser humano é o único animal que não se pode definir apenas pela biologia, mas é fruto de duas dimensões distintas. A primeira dimensão é a biológica, que compartilhamos em maior ou menor grau com todos os seres vivos do planeta, mas ao dar significado às nossas experiências surge a cultura, essa “coisa” que só nós humanos produzimos.

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Ser humano como resultado da Biologia X Cultura

O grande paradoxo é que a cultura é uma produção humana, mas, ao mesmo tempo, a humanidade é fruto também da sua cultura. Em outras palavras, essas duas dimensões longe de serem distintas ou mesmo independentes.

Desta forma, estão de tal forma intrincadas que é praticamente impossível imaginar um ser que seja humano e, por exemplo, não tenha linguagem (cultura). Ou ainda, que opere em um outro suporte que não o corpo como o conhecemos, com toda a sua complexidade emocional e hormonal (biologia).

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A sexualidade humana e suas diferentes camadas

Camadas biológicas e culturais se empilham, formando essa complexidade que é o ser humano. Logo, a sexualidade humana também é um excelente exemplo desse “empilhamento” de camadas. Entenda:

Primeira camada – Biológica

Na camada biológica, cujo fim é reprodutivo, podemos ser machos ou fêmeas.

Na espécie humana não existe hermafroditismo (um ser com ambos os sexos), embora a intersexualidade, definida como qualquer variação de caracteres sexuais incluindo cromossomos, gônadas e / ou órgãos genitais que dificultam a identificação de um indivíduo como totalmente macho ou fêmea, seja bastante comum.

 

Segunda Camada – Gênero

Entretanto, esse corpo biológico, que pode ser macho, fêmea ou intersexual, precisa se definir como Homem ou Mulher. Aqui, estamos falando de uma segunda camada. E aí começam os problemas de gênero, porque quem diz o que é um homem ou uma mulher não é a biologia, é a cultura.

 

As diferenças entre cisgênero e transgênero

Diz-se que é cisgênero alguém que se identifica com o mesmo gênero do seu sexo (por exemplo, alguém que se identifica como mulher e foi designada como mulher ao nascer é uma mulher cisgênero). Já o transgênero é alguém cuja identificação é com o outro gênero ( por exemplo, um homem que não se identifica com corpo masculino e gostaria de ser uma mulher).

 

Terceira Camada – Orientação Sexual

Depois surge uma terceira camada, que é a da orientação sexual e agora já nem dá mais para dizer se o desejo é natureza ou cultura. Nesta camada, portanto, o indivíduo pode ser hétero ou homossexual, isto é, sentir desejo por alguém do mesmo ou de outro sexo ou gênero.

Então é perfeitamente possível haver alguém que nasceu macho, mas que se identifica com o gênero feminino, sendo, pois, uma mulher transgênero, mas com orientação sexual homossexual, isto é, que sente desejo por outras mulheres (cis ou transgêneros).

 

Quarta Camada – Expressão de Gênero

Confuso? As coisas não param por aí, porque ainda tem uma quarta camada, a expressão de gênero. Isto é, como a pessoa manifesta publicamente a sua identidade de gênero. Seja por meio do seu nome, da vestimenta, do corte de cabelo, dos comportamentos, da voz e/ou características corporais e da forma como interage com as demais pessoas.

Um bom exemplo é a cantora Pabllo, cuja expressão de gênero é feminina (veste-se como uma mulher e gosta de ser tratada por pronomes femininos). Mas cuja identidade de gênero não é feminina, isto é, ela não se considera uma pessoa trans, mas apenas um homem que gosta de representar uma personagem feminina (crossdressing). E que depois retorna para sua identidade de gênero masculina e que, por acaso, é homossexual.

  • Confira ainda Ícones LGBTQ+ mais influentes da história são retratados.

A complexidade de lidar com tantas camadas

A grande questão é que quanto mais camadas, mais complexidade, por isso que historicamente as culturas tentam reduzi-las reprimindo os indivíduos ditos desviantes, notadamente no que se refere à sexualidade.

“Se nasceu macho, então é homem; se nasceu fêmea, então é mulher – é a natureza!”; “Se é homem, tem que se comportar como tal e gostar de mulher e vice-versa”. Quem disse? A Bíblia, a tradição, não importa, desde que se reduza a complexidade.

Na modernidade temos que lidar com a complexidade de todas essas camadas, mas é ilusão pensar que foi a modernidade que as “criou”, tendo apenas revelado e legitimado o que sempre existiu. Homossexualidade, transexualidade, crossdressing, tudo isso sempre existiu, estão até na Bíblia, então qual a novidade? Pode-se mesmo dizer que são da natureza biológica da espécie humana.

 

Mas por que tanto medo da complexidade e das escolhas individuais?

A sexualidade é algo privado e as decisões da Pabllo, por exemplo, não deveriam afetar ninguém mais do que ela mesma. O problema é que afetam, porque toda decisão individual provoca efeitos coletivos e os conservadores sabem disso.

Por exemplo: um homem cis heterossexual, de expressão masculina (e temente a Deus), olha para a Pabllo e sente desejo… Mesmo sabendo que se trata de um homem personificando o papel de uma mulher. Isso faz dele homossexual? Sim, não, muito pelo contrário…?

Na minha humilde opinião, esta pergunta não tem resposta, o que deixa os conservadores de todos os espectros políticos e religiosos em polvorosa, porque se não há “UMA” verdade. Assim, qual será o papel deles neste mundo de cada vez menos certezas coletivas e cada vez mais decisões individuais?

Por fim, confira nossas dicas de leitura, com 12 livros que irão transformar e enriquecer sua visão de mundo! Além de conferir nossos artigo de sustentabilidade com diversidade, aspectos considerados essenciais para a moda do amanhã.

Por Edgard Pitta de Almeida

(Edgard Pitta de Almeida é coach e psicanalista, especializado em gestão e transição de carreira. Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP; MBA em Gestão Internacional pela Thunderbird School of Global Management, Arizona-EUA; pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV-SP e advogado, atuou por mais de 15 anos no mercado financeiro em posições executivas no Brasil e no exterior. Também atua como consultor de Planejamento Estratégico e Marketing Digital. )

Confira também: Nem rosa, nem azul: como é ser pessoa intersexo no Brasil.

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