No documentário Fresh Dressed, que já indicamos por aqui, o rapper e estilista Pharrel Williams afirma que a moda é uma forma de expressão da singularidade. Gilles Lipovetsky, filósofo francês, também pontua que a moda é um dos espaços sociais onde os indivíduos conseguem exercer sua liberdade e sua maneira crítica de enxergar o mundo. Fazendo jus à esses conceitos, a geração tombamento surge como um movimento estético urbano que trouxe a cultura negra para os holofotes, aproveitando o grande alcance proporcionado pela internet para elevar a busca pela representatividade a um novo patamar.
Tombar é uma gíria que significa arrasar, chamar atenção. Essa expressão, que tem tanto a ver com estilo quanto com atitude, deu origem ao termo Geração Tombamento, usado para designar um grupo que traz visibilidade para a cultura afrobrasileira através da estética.
Cansados de não se ver representados pela mídia, essa nova geração passou a subverter o padrão europeu de beleza, trazendo protagonismo para a juventude negra dentro do universo da moda. Com muita influência dos anos 90 e do vestuário esportivo, o estilo “tombamento” logo chamou atenção, e mesmo quem ainda não conhecia o termo já deve estar familiarizado com alguns dos seus ícones: Karol Conká, Rico Dalasam e Magá Moura são representantes do movimento, que vai muito além do vestuário.
Batons e cabelos coloridos, misturas criativas de cores e estampas, muitos acessórios e peças garimpadas com maestria em brechós são elementos de estilo marcantes no movimento, e estão fortemente ligados à busca pelo empoderamento. A Geração Tombamento quer se fazer ouvir, e investe pesado na conquista de novos espaços, dentro e fora da militância, trazendo visibilidade para vozes marginalizadas. Nas festas, nos coletivos e na internet, eles abordam questões de raça, gênero e sexualidade, trazendo à tona discussões que antes ficavam embaixo do tapete.
A Geração Tombamento não é a única que propaga o fortalecimento, reconhecimento e empoderamento estético da cultura negra. Vários outros países também possuem seus representantes tombadores, ampliando os diálogos necessários sobre respeito e representatividade. Nos Estados Unidos temos o movimento Afropunk, que surgiu em meados dos anos 90 devido à dificuldade de James Spooner em curtir o seu estilo de música favorito, por causa do racismo escancarado que havia no cenário do Punk.
Em 2003, ele lançou um documentário com o mesmo nome, falando sobre as suas dificuldades da infância e como a criação do movimento no Brooklyn ajudou-o a unir-se com outros músicos e fãs de punk, que passaram a se encontrar para falar abertamente sobre suas raízes e sua identidade negra. O documentário, que está disponível no Youtube, trouxe o empoderamento necessário para que jovens excluídos do mundo todo percebessem que não estavam sozinhos.
A parti daí, não demorou muito para que eles colocassem a mão na massa: o site Afropunk logo foi ao ar, com atualizações diárias sobre identidade, música e moda, que ampliaram o alcance do movimento dando origem ao Festival Afropunk.Desde 2005, ele tem sido responsável por reunir um line up de peso, com nomes como Janelle Monae, Tyler the Creator e Erykah Badu, e logo ficou conhecido como um epicentro de cultura, observação de tendências e muita expressão de moda.
Geração Tombamento: o rapper Rico Dalasam
Afropunk Music Festival
Fashion Rebels
Na África do Sul, temos os Fashion Rebels (@fashionrebels.sa), um coletivo de street style, moda e expressividade, que surgiu em 2012 em Pretoria, capital executiva do país. Idealizado por Maitee Wave, Thifhelimbilu Mudau e Sizophila Dlezi, o movimento busca exaltar a identidade e a individualidade através de roupas extravagantes, subversivas e cheias de personalidade. A estética que os representa é uma mistura de épocas, cores e estampas, muita inovação e a quebra dos padrões de gênero.
Eles ressignificam suas roupas, ignorando definições sociais sobre feminino e masculino, além de adquirirem todas as suas peças em trocas, brechós, doações ou feiras livres, propondo uma vida mais livre do capitalismo e do consumo. Uma das grandes contribuições dos Fashion Rebels foi a criação do Social Market, uma feira que busca elevar a cidade de Pretoria ao posto de referência nacional (e agora, também, internacional) nos campos da arte, da música, da moda e também da culinária, com uma pegada forte no DIY – faça-você-mesmo.
Veja também: Fashion Rebels, os fashionistas que querem colocar Pretória no mapa da moda.
- Já conhece nosso Instagram? Passa lá e curta nossa página: @fashionbubblesoficial
O movimento no Brasil
A brasileira Karol Conká, cantora considerada uma das principais representantes do Rap feminino dos últimos tempos no país, que, inclusive, foi indicada como “Aposta” no VMB 2011, é uma das representantes da Geração Tombamento no Brasil que tem na Festa Batekoo, no Rio de Janeiro seu principal ponto de encontro.
Dentro ou fora do Brasil, vale a pena ficar de olho no movimento, que veio com tudo e está revolucionando o modo como enxergamos o mundo. Cheios de atitude e inovação estética, esses jovens prometem fazer política através das suas roupas, se tornando protagonistas da sua própria história e fazendo da moda a sua vitrine de expressão individual.
Confira mais looks da geração tombamento
Geração Tombamento: a blogueira Magá Moura é ícone de estilo e alcançou reconhecimento internacional
Eles ressignificam suas roupas, ignorando definições sociais sobre feminino e masculino, além de ter uma pegada forte no DIY – faça-você-mesmo
Looks super estilosos e muita liberdade marcam a geração tombamento
Veja também:
Fashion Rebels – Fashionistas que colocaram Pretória no mapa da moda |
Por Francieli Hess
(Francieli é formada em Design de Moda pela UDESC e já estudou Cultura e Progettazione della Moda em Florença. Trabalha como Coordenadora de Estilo em Florianópolis e é apaixonada por criação, história, branding e comunicação.)
Instagram: instagram.com/fvhess
Salvar