A relação entre estética negra e cargos de liderança
Segundo a estilista, Rosy Cordeiro, a cor da pele gera desconfiança em relação a sua competência. Confira os detalhes sobre a estética negra
Os parâmetros sobre o que é bonito ou não é chamado é conhecido desde a antiguidade. Afinal, os padrões de beleza são construídos a partir de uma sociedade. No Brasil, este conceito ainda carrega traços de um racismo velado através desta definição. Como resultado, este padrão é baseado em traços europeus. Ou seja, possuem: pele clara, nariz fino, cabelos lisos e corpo magro. Mas, aonde fica a estética negra?
De acordo com a análise de que a aparência é uma importante influenciadora no mercado de trabalho, é possível entender o porquê do negro precisa de “adequar” aos padrões. Essa anulação de suas características naturais são direcionadas a conquista por cargos de liderança.
Além disso, a diferença salarial entre as cores é gritante. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínuo (Pnad), realizada no terceiro trimestre de 2020, há uma diferença de R$1.492 no salário entre brancos e negros. O número foi o maior registrado desde 2012.
Rosy Cordeiro
Provar a competência por causa d sua cor é um exercício vivido diariamente por Rosy Cordeiro. Mesmo sendo uma estilista conceituada, premiada e ser apresentadora de televisão, Rosy conta que já foi subestimada. No geral, as principais questões apontadas são seu cabelo e as roupas que veste.
“A identidade negra é submetida a adequações diariamente. Principalmente, quando é para tentar bons cargos de trabalho. Eu digo tentar porque são raras as vezes que isso ocorre. Em um país onde 56% da população se intitula negra ou parda, o natural seria que muitas grandes corporações tivesses pessoas de cor em cargos importantes. Mas, sabemos muito bem que não é assim”, disse.
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Estética negra no mundo empresarial
Segundo ela a sociedade já possui uma imagem do que seria uma pessoa que ocupa um cargo de confiança. Por exemplo, ao imaginar um presidente de uma multinacional, grande empresário ou um juiz, a estética formada é de uma pessoa branca.
“As pessoas não estão acostumadas a ver o negro em lugar de destaque. Além disso, nas raras as vezes onde isso ocorre, o negro precisa assumir um papel de super herói. Para se provar e ter a aceitação, ele precisa estudar e se especializar duas vezes mais. Além de lidar com olhares desconfiados e pré-julgamentos quanto a sua competência serem diários”, diz a estilista.
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A importância do cabelo
De acordo com Rosy Cordeiro, em alguns casos é preciso mudar a estética do cabelo para parecer apresentável aos olhos da maioria. E esse é um dos fatores determinantes para os contratantes darem uma vaga de emprego. Afinal, o black power e as tranças são associadas ao desleixo.
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Experiências marcadas pela estética negra
A estilista, apresentadora e empresária relembra uma situação vivida com sua assessora ao ser convidada para um importante show. “Ao me orientar, a profissional que me agenciava falou que eu deveria ir arrumada. Na hora fiquei sem entender. Afinal, por que como você fala para uma estilista ir bem vestida? Ao questionar o que isso queria dizer, ela disse que eu precisava escovar o cabelo”.
Rosy conta também que existe um padrão pré-estabelecido sobre a imagem de uma estilista. E ao ser associada com ela, Rosy foi menosprezada pela função que exercia.
“Era comum que a produção (de emissoras de televisão), ao se dirigir ao camarim perguntando onde estava a estilista convidada, nesses casos eu, achasse que a profissional não tivesse chegado, mesmo eu estando lá”. Afinal, “não importa como eu esteja vestida, as pessoas não me relacionam com a minha profissão e sei que é pela minha estética, que é negra”, concluiu.
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A causa do problema
Segundo a estilista, este é um problema estrutural da sociedade que cobra o ideal de beleza e dita comportamentos.
“As redes sociais e a internet tem um papel importante na reversão dessa imagem. Tanto que nos últimos anos vem se observando que o mercado, a mídia e a sociedade estão se adequando por pura pressão do movimento negro”, relata a apresentadora.
Além disso, diz ainda que “o cabelo cacheado não tinha sequer produtos disponíveis nas prateleiras das farmácias. Maquiagens para pele negra eram pouquíssimas e em geral difíceis de encontrar e muito caras. Nos programas de entretenimento e jornais, quase não havia negros em posições de destaque. Nas novelas, a mulher negra era sempre a empregada”, conta.
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Um olhar para o futuro
A mídia, aos poucos, está entendendo a estética negra, assim como as pessoas. Porém, segundo Rosy, ainda há muito o que discutir. Principalmente em relação ao mercado de trabalho. De acordo com ela, ainda há dificuldade de acesso a cargos de privilégio.
Afinal, essa realidade faz parte de uma hierarquia. Por isso, é importante o acesso à educação em conjunto com políticas governamentais para reversão deste quadro.
Por fim, a estilista completa: “Quando penso que será preciso ainda muitas gerações para o cenário mudar, o sentimento é de tristeza. Mas, no momento, prefiro me atentar às conquistas e cobrar por reconhecimento. Por já estar em uma posição de privilégio, me enxergo no dever de trazer para esses espaços, a maioria dos meus que eu puder”.
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