Em redes sociais, como o TikTok e o Twitter, é muito comum encontrar mulheres falando – e reclamando – de esquerdomachos, um termo dado a homens esquerdistas, mas com posturas contraditórias e, muitas vezes, abusivas em relacionamentos amorosos ou não. Saiba mais sobre este grupo de homens e o porquê de mulheres constantemente se verem na necessidade de fugir deste arquétipo em aplicativos de paquera e namoro.
Recentemente, para a alegria das mulheres, o movimento contra casos de abuso e assédios sexuais ganhou mais força nas redes, seja pelo #MeToo, campanha norte-americana para expor assediadores e estupradores em Hollywood, como relatos de encontros sexuais sem consentimento nas redes sociais.
No meio desta onda, as anônimas também passaram a expor casos desta natureza na vida cotidiana e/ou no ambiente de trabalho. Neste mesmo cenário, também aconteceu a popularização de um termo conhecido como “esquerdomacho”, que virou figura carimbada nas redes sociais e acabou na boca do povo e de figuras feministas modernas, como a YouTuber JoutJout.
E agora, com um novo aplicativo de namoro, conhecida como Lefty, que promete encontros entre pessoas de esquerda política, mais mulheres estão em busca de fugir desses esquerdomachos. Conheça mais sobre esse grupo de homens e por quê você deve evitá-los no neste post!
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O que são esquerdomachos?
Nas palavras da própria JoutJout, em um de seus vídeos, que você pode conferir abaixo, o esquerdomacho é “aquele cara que ama o feminismo, apoia, acha ótimo, já deu sobre, estudou um pouquinho sobre… que discute no bar à beça sobre feminismo, desde que o feminismo não incomode ele em algum aspecto”, diz.
Em sua essência, a definição está correta: é um tipo de homem que se apropria de discussões e pautas de esquerda, como feminismo e a liberdade das mulheres, para tentar se aproveitar ou obter vantagens na hora de flertar ou se relacionar com uma mulher. No entanto, isso é apenas a primeira página.
Embora adotem esse comportamento, os esquerdomachos logo o abandonam, partindo para comportamentos e atitudes consideradas machistas, como ghosting (comportamento de fugir de relações sem das mais explicações), gaslightin (assumir uma postura de fazer com que a mulher se sinta perdendo a noção da realidade – algo muito debatido durante o BBB 22 nas discussões entre Arthur Aguiar e Dra. Laís Caldas).
Resumidamente, a expressão faz referência a um homem com ideais progressistas, inclinações políticas de esquerda e que se diz defensor dos direitos das mulheres. Contudo, o mesmo cai em contradição em suas posturas em relação às mulheres com quem convive. Na ficção, um dos exemplos mais recentes de personagem que incorpora esse conceito foi o arquiteto Paulo, interpretado por Emilio Dantas, na série da Rede Globo “Todas as Mulheres do Mundo”.
Outros exemplos comumente relembrados pelos usuários, são os personagens de Jové, da novela Pantanal, interpretado por Jesuíta Barbosa. E, atualmente, o personagem de Chay Suedde na novela Travessia.
O termo também ganhou uma matéria na revista eletrônica Vice Brasil que, em abril de 2017, citou uma lista com os maiores esquerdomachos do país, ressaltando as contradições entre o discurso e as atitudes das celebridades elencadas. A matéria, de 5 anos atrás, elencou nomes como Dado Dolabella, Xico Sá, Caio Blat, entre outros.
Geralmente, os esquerdomachos são homens que também querem ser protagonistas do discurso de feminismo, mas que, no cotidiano, é capaz de oprimir e tratar mal a própria mãe, namoradas, amigas, colegas de trabalho, a esposa, entre outros. E, principalmente, por trás das rodas de amigos das mulheres com quem se relacionam, proferem frases e comportamentos que se enquadram como homofobia e machismo.
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Qual é a origem do termo esquerdomacho?
Não existem registros oficiais sobre quando a expressão foi utilizada pela primeira vez, mas, de acordo com pesquisas no Google, as primeiras vezes que o termo foi citado na mídia correspondem ao ano de 2012. Isso pode se atribuir aos movimentos feministas, que passaram a ganhar voz nas redes sociais com mais afinco.
O surgimento da expressão esquerdomacho também pode estar relacionado aos debates feministas dos Estados Unidos, que, de certa forma, ajudou a influenciar o feminismo virtual brasileiro. Na “Terra do Tio Sam”, existe até um termo conhecido como “manarchist” (algo que mistura “man”, de “homem”, e archist, de anarquismo), que se refere a movimentos machistas em círculos anarquistas. Outra expressão, “brocialist” (algo que mistura “bro”, diminutivo de “brother”, e socialism, de socialismo), também passou a ser usa em debates online sobre feminismo e movimentos sociais.
Como identificar um esquerdomacho?
As redes sociais contam com muitos posts e até brincadeiras para ajudar mulheres a identificarem este estereótipo, como você pode ver no Tuíte acima. Mas, a colunista Priscila Werton foi no cerne da questão e ajudou a mapear alguns dos comportamentos mais habituais do esquerdomacho em uma de suas colunas para o site Termômetro da Política.
De acordo com ela, estes são os principais comportamentos e posturas que um homem dentro deste estereotipo costuma seguir:
- Possuem uma autoestima inabalável, pois acreditam que todas as mulheres o desejam e qualquer coisa conversada com um deles é interpretada como uma tentativa de flerte: “Vocês estão falando alguma coisa sobre um assunto qualquer e do nada ele fala que não tá interessado“, menciona.
- Tem um visual despojado, é barbudo, usa o cabelo assanhado, roupas folgadas e tenta mostrar que não se importa com aparência. Apesar disso, é comumente visto com meninas que seguem o suposto “padrão ideal da beleza“.
- Só têm amigos homens e estabelece relacionamentos com mulheres que são apenas sexuais, por não aceitar críticas femininas e por, no fundo, acreditar que uma mulher não merece respeito: “Ele até fala que a mulher merece ser respeitada, que ama as mulheres, mas as atitudes dele contradizem totalmente essa fala”, menciona.
- Impõe coisas às mulheres com quem se relaciona, como o tipo de roupa a ser vestido e, muitas vezes, utiliza esse “controle” com a desculpa de que está apenas “tentando protegê-la”.
- “Não respeita as opiniões, o corpo e as exigências da mulher, sempre encontrando uma forma de forçar a barra e induzi-la a fazer coisas que ela não queria, não escuta o que ela está falando”
- Não gosta de usar camisinha.
- Não se importa em ter responsabilidade nenhuma sobre a contracepção da relação, “mas se você engravidar, vai te sugerir um aborto, afinal a culpa pela gravidez é só sua, porque ele não teve participação nenhuma nisso (contém ironia pesada)” – apesar disso, o esquerdomacho é contra a legalização do aborto
- Não entende que não tem lugar de fala sobre alguns assuntos como legalização do aborto e feminismo;
- Acha o feminismo desnecessário, pouco importante ou até é contra;
- Fala bem de uma mulher diminuindo as outras: “você é especial”, “você é diferente”, mencionou;
- Não gosta e não aceita estar errado em qualquer discussão;
- Não suporta a comunidade LGBTQIA+, mas diz que “tem até amigos que são”.
Outra blogueira que também deu o que falar em relação ao assunto foi a dona por trás do Não Me Kahlo, site que apoia causas feministas. Nas definições da autora, a psicóloga Larissa Machado Queiroz, “os esquerdomachos são bem versáteis, falam sobre arte, política, filosofia, relações não monogâmicas, futebol e feminismo-daí o ‘feministo’. Eles defendem coisas que se parecem muito com as coisas que você defende“.
“Mas e quando o cara é tudo isso e é, também, extremamente abusivo?“, pontuou.
Continua: “Qualquer relacionamento se torna abusivo quando ultrapassa limites da liberdade do outro, como privacidade, liberdade sexual e de corpo e geram algum dano. Seja físico, emocional ou patrimonial. Quem já teve a infeliz oportunidade de vivenciar uma relação com um Esquerdomacho? Se não foi você quem viveu, certamente foi uma amiga ou a amiga da sua amiga. O Esquerdomacho é bem econômico – se é que posso dizer assim – no afeto, porém, excessivo em outras coisas. Veja só: ele vai te dizer coisas que você quer ouvir, mas só para você tá? Porque no meio do rolê deus-me-livre ele te abraçar ou buscar a cerveja para você no bar.”, completa.
O aplicativo Lefty e reclamações de mulheres
Para fomentar ainda mais as discussões – e as fugas das mulheres contra os esquerdomachos –, foi lançado um aplicativo com a intenção de unir casais de acordo com seus posicionamentos políticos. Chamado Lefty (que, na tradução, é algo como “esquerdinha”), o aplicativo quer promover encontros entre homens e mulheres de esquerda para se conhecerem melhor.
Uma empreitada da empresa Similar Souls do Brasil, o Lefty tem o objetivo de “unir pessoas que pensam como você. Nosso objetivo é ajudá-lo a encontrar pessoas relevantes e construir relacionamentos significativos”, conforme consta na descrição da homepage. Atualmente disponível para celular Android, o Lefty já conta com mais de 10 mil downloads realizados segundo a Google Store.
Aplicativos para relacionamentos de nicho, como o Lefty, não são inéditos. Em 2019, por exemplo, foi lançado o PTinder, também voltado a relacionamentos entre casais de esquerda política – cujo nome vem da sigla do Partido dos Trabalhadores, o PT, que, atualmente, está na disputa pela presidência do Brasil a partir do próximo ano, sendo representada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora o novo aplicativo tenha agradado parte do público, em matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, a outra parte dos seus usuários têm críticas quanto ao experimento. Isso porque, segundo algumas das entrevistadas pela reportagens, um medo ainda ronda o uso do aplicativo: a possibilidade de encontrar esquerdomachos ou “feministos” (outro termo utilizado para classificar o grupo).
Uma das entrevistadas da reportagem, Camila Vieira diz utilizar o Tinder desde 2020, sem dúvida o aplicativo mais conhecido entre as plataformas para relacionamento virtual. Segundo ela, para sair com alguém, esta pessoa deve ter pensamentos próximos ao seu. Vieira, que se considerada feminista, no entanto, tem uma ressalva: “se deparar com um esquerdomacho”.
“Eu acho até legal que apoiem certas causas benéficas para as mulheres, mas, ao mesmo tempo, são muito chatos. Eles querem saber mais que nós, que passamos por situações de desconforto diariamente. Isso continua sendo um pouco machista“, declarou ela em entrevista à publicação. Segundo Camila, após ver o anúncio da plataforma, ela pensou na possibilidade de ter de lidar com homens desse tipo, e logo optou por não se cadastrar.
Essa possibilidade, no entanto, não assusta Gabriela de Paula, de 20 anos, pois, “embora tenha toda essa questão de os ditos esquerdomachos serem meio estranhos ou agirem por certa conveniência, eles ainda são mais suportáveis que muito homem de direita“.
Ela também ressalta que, embora a superficialidade de homens com ideias esquerdistas possa parecer superficial, nem todos seguem o estereótipo de esquerdomacho. “No geral, os esquerdomachos se acham mais cultos e mais evoluídos, quando ainda continuam com preceitos machistas. Eles pagam de desconstruídos, mas o conhecimento que eles buscam acaba sendo seletivos e as pautas que defendem são por conveniência. Não são todos, mas eles estão por aí e não são poucos“, conclui.
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A Drag Queen Lorelai Fox também publicou um vídeo hilário sobre esquerdomachos, que ajuda a definir o arquétipo. Confira:
Agora que você conheceu o que é um esquerdomacho e como reconhece-lo, o Fashion Bubbles conta com outras pautas sobre relacionamentos, comportamento, relacionamentos e movimentos sociais, especialmente o Feminismo.