Escolhas: Faça uma – Por Vinícius Moura

Pelo menos havia duas coisas boas: banquetas e revistas! As lojas femininas têm a proposta de vender para ELAS, mas normalmente esquecem que elas vão acompanhadas por ELES e deixam de nos acomodar. O sujeito sentado na banqueta ao lado já folheava a terceira revista com artigo exclusivamente feminino com as manchetes: “Como lidar com eles”, “Dome a TPM”, “Sofrer por amor, nunca mais”. Impaciente ele bufou e lançou de volta a revista na pilha.

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Denise, minha esposa, depois de longo garimpo aparece com dois modelitos, um azul e outro amarelo.

– Qual fica melhor? – Encostava um no corpo, depois o outro. “Qual fica melhor?”

– Experimente os dois, depois te digo. – Não entendo de plissados ou drapeados, entretanto eu já sabia de longa data que este é um assunto propício para confusão.

A namorada do sujeito sai do provador: “E este calça, benhê? Ficou melhor que a saia? Eu levo qual? Amei a SAIA” – perguntava ela dando a dica de sua predileção.

– Você vai de calça! – O tom do cara era um ponto final. Era aquilo que ela levaria e fim de papo! Ela jogou a saia numa pilha de roupas ao lado do provador e seguiu para a fila do caixa com a calça dobrada no braço. Vi ali a Amélia (a mulher de verdade, submissa, obediente, que dobra sua opinião para agradar seu homem). Ah! O desejo masculino passa por isso. Como posso dizer que não? É um deleite. Anseia-se por isso. Faz o homem se sentir mais macho, mais homem e a mulher, mais mulher.

Denise sai do provador com o vestido amarelo, lindo, curto, cinto preto na cintura e com estampas clarinhas que quebravam o amarelo vibrante. Destacava suas pernas, realçava os ombros e seus cabelos muito pretos. “Ficou ótimo!” foi meu veredicto. “Experimente o outro também”. E lá volta ela, vestida de azul, minha cor preferida. Este cobria apenas um ombro e era de tecidos sobrepostos para deixar a saia esvoaçante. “Bonito” eu disse sem convencimento. “Qual eu levo?” ela insistiu. “Sem sombras de dúvidas, você ficou linda com o amarelo, é este!”.

Ela voltou para o provador e saiu de lá convencida. Jogou o amarelo sobre a mesma pilha de roupas onde se encontrava a saia e foi para a fila do caixa.

Já brigamos mil vezes por este mesmo motivo. Ela sempre tem a escolha feita por critérios que jamais passarão pelo imaginário de um homem. Ela se lembra das bolsas e sapatos que tem. Lembra-se de acessórios e maquiagem que combinarão entre si. Considera o tecido que não amassa e a peça que pode ser facilmente combinada com outras modificando o look. Sabendo disso tudo ainda me pede opinião.

Do meu lado, me lembrava da moça da calça que adorou a saia, tão servil… E me bateu uma ponta de tristeza. Esta moça está há anos de descobrir que o amor acontece, algumas vezes, justamente porque Denise escolhe o azul.

Por Vinícius Moura

Imagens via efaithfulbefabulous

 

Vinicius Moura: Empreender tem sido minha vida e escrever é o que me eleva. Os assuntos são totalmente aleatórios.
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