A saudade, um sentimento tão legitimo quanto todos os nossos sentimentos, é mágica por nos possibilitar um movimento no tempo e no espaço. É mais do que sentir falta de algo ou de alguém. É um sentimento que nos toma de tal forma para nos transportar para perto de alguém ou algum lugar. Basta sentir o cheiro ou o gosto para que submerja das profundezas do inconsciente uma lembrança que nos envolve.
Quem durante uma viajem nunca olhou para algo que lembrasse de alguém, excedeu no número de fotos para poder ser fiel ao registrar um lugar ou na tentativa de congelar uma experiência, pensando em alguém. Quem nunca chorou ao ler uma carta ou cartão postal de emoção?
Pensamos, sentimos, escrevemos, produzimos e criamos ritos em tributos motivados a este sentimento que identificamos como saudades. Olhamos um livro sem lê-lo, abrimos um álbum de fotografia e nos fixamos em uma foto, seguramos um cartão de aniversário ou de natal por um tempo, preparamos um prato predileto ou organizamos aquela festa tradicional. Muitas vezes vestimos uma roupa fora de moda e que não nos serve mais, e mesmo assim não nos desfazemos dela por ela representar algo a mais. Vamos a igreja ou ao cemitério nos encontrar com alguém que não esta lá ou ficamos horas ouvindo canções de um cantor a quem nunca fomos apresentados mas que parece conhecer tantos nossos sentimento.
A moda nos traz registros marcados por um tempo e espaço, e podemos perceber as referências de determinada época nas criações atuais, como o retorno ao romântico, rippie chic, etc. A culinária, a poesia, as produções cinematográficas e os documentários também nos transportam fazendo transbordar tal sentimento. O que fazer quando alguém que amamos esta longe?
Ouvi uma expressão marcante de Ignez Pitta outro dia, antes de partir de São Paulo rumo a sua cidade natal, Barreiras, BA, localizada a quase dois mil quilômetros: “gostaria de fazer uma dobra para aproximar os lugares. Nem fui embora e já estou com saudades!!”. Eu posso imaginar quanta saudade sente uma mãe que mora em Barreiras, BA e tem filhos em Petrolina, PE e São Paulo, SP. Quando estamos em um lugar, sentimos saudades dos outros e assim se sucede.
O que fazer para aproximar o que está distante e experienciar algo que já foi. Sentimos saudades de nós mesmos, do tempo que passou e muitas vezes podemos antecipar a saudades de um lugar que não tivemos ou de alguém que amamos muito, que esta prestes a partir.
Uma dobra (ou prega) é usada para ajustar, aproximar – uma dobra na saia, na bainha, um plissado… Pensando nisto, e com saudades de muita gente, experiências e lugares, eu gostaria que fosse possível fazer uma dobra no tempo e no espaço para me aproximar do que me faz falta. Neste momento me dei conta de que o desejo de fazer uma dobra nada mais e do que sentir saudades.
Por Carlos Silva