Ao gritar contra a corrupção não se está defendendo um partido. Vou ser sincero o bastante para questionar se há “um tanto de corrupção” que deva ser aceito… Pelo menos por enquanto, afinal, todos estamos submetidos a ela, o tempo todo, desde que nascemos e levará tempo para aprendermos a fazer diferente em nosso arraigado jeitinho brasileiro.
A princípio sou um cidadão de bem e honesto, mas fazendo caminhada pelo meu bairro avisto um sujeito que tira da sua mochila filmes em DVD e me oferece. Aleatoriamente ele me mostra o “Spotligth”, ganhador do Oscar, não resisto e digo que vou levar. Quanto? Cinco reais. Tiro 10 pratas e ele reforça a oferta: três por dez. Estava sendo corrompido por 1, mas com uma vantagem destas porque não aceitar os 3? A (pequena) corrupção é assunto pouco discutido e muito bem assimilado, inclusive é pecado pequeno e parece não tirar o visto de entrada do céu. Será mesmo?
Estes amigos que tanto admiro provavelmente compartilham de tudo que disse até aqui, mas mesmo assim, contrariando provas, falcatruas totalmente imorais, áudios vazados, ex-comparsas em delações informando como tudo funcionava, ainda assim, postam publicações a favor do tal partido, “o tal perseguido”…
Eu me mordo. Não pelos petistas em geral. Eles tem todo direito de expressar sua preferência e convicção. Assim como qualquer um que pense diferente, também tem. Mas, aquelas pessoas que gosto demais me causa profunda decepção, vergonha alheia e não-sei-o-quê mais. Carinha triste me representa.
No começo dos anos 80 nascia o PT e era a representação mais legítima de honestidade. Coisa realmente nova, não MDB e ARENA renomeados e com as mesmas e viciadas práticas. Eu era um “di menor” e entregava santinhos de candidatos por um dinheirinho e um lanche. Cumpria minha meta e depois estava livre para fazer o que quisesse: distribuir panfletos do PT de graça e junto a isso, tentava convencer com meus poucos argumentos de que aquele partido tinha uma proposta revolucionária, que o PT continha o conhecimento daqueles que sofrem e por isso tem a disposição e a vontade de fazer diferente… Quero crer que naquele tempo em que eu ainda não podia votar, tenha conseguido convencer os indecisos que abordei de que a bandeira que eu empunhava era a melhor opção.
Deixaram de ser, quando deixaram de ser. E quando é que se esgota um modelo? Garanto que mesmo sem provas, sem áudios, sentimos que o bichinho da corrupção deixou de ser DVDs e pulou para um balcão escandalosamente instalado para negociar cargos e foros privilegiados a quem possa servir como solução à confusa situação que se instalou no país.
É incrível porque foram pelas associações e negociatas irresponsáveis que chegamos onde chegamos. Agir do mesmo modo, apenas mudando os negociadores também não deve dar certo, de novo. Corrupção. Quanto dela é aceitável? Antes de responder pense, afinal, um pouco dela deve ser… A compra de DVD pirata, é? Entregar um ministério que muda a vida de milhões de pessoas a um partido ou pessoa incompetente, é?
Porque aquelas pessoas que gosto tanto me soam imbecis ao defenderem uma ideia que há muito se transformou, e agora parece manter somente o pouco que resta: um discurso vazio de liberdade e mudança. São imbecis por acreditarem? Ou sou só eu o imbecil ao esperar que defendessem pontos de vista iguais ao meu?
Não, não somos imbecis. Estamos apenas com a lembrança estagnada numa época em que aquele partido significava um modelo de honestidade, liberdade e oportunidade. Estamos presos num ano qualquer em que alguma coisa boa estava por vir, trazendo uma esperança de boa fé. Partindo de alguém que conhecia a fundo a dor da falta de educação, saúde, moradia e por ter vivido isso tão de perto poderia empreender verdadeiramente uma mudança com métodos mais honestos que os velhos conhecidos de nossa política.
Queridos amigos, adoro vocês… e muito! Não quero bloquear, deixar de seguir, ou qualquer outra coisa. Tenho certeza que o que queremos é o melhor para o nosso país. Muitas vezes a impressão é de que queremos coisas distintas por pensarmos por caminhos diversos. Mas pela afinidade que temos, sei que queremos o melhor para todos os cidadãos, nada menos que isso nos interessa.
Poderia sugerir que, talvez, a solução esteja entre a certeza polarizada de um e a paixão exacerbada do outro. Contudo, o que me dá verdadeiramente um alento é acreditar que alguns amigos resistem a mudança porque em algum lugar resta aquela bela lembrança de um partido que valia entregar o panfleto e pedir com sinceridade que lhe confiasse o voto. Porque afinal, se não fosse por aquele partido tão parecido com a gente mesmo, tão conhecedor das dificuldades, qual outro seria capaz de fazer a mudança?
Por Vinícius Moura