Burnout afetivo e os aplicativos de relacionamentos
Já sentiu exaustão na busca pelo par perfeito usando apps de paquera? A terapeuta Camila Custódio explica o que é burnout afetivo e como lidar com ele
Recentemente, o aplicativo de relacionamentos mais famoso do mundo, o Tinder, completou 10 anos. Com toda a certeza, nesse meio tempo, ele mudou a forma de nos relacionarmos.
Será que ele, assim como tantos outros apps, vieram para facilitar a nossa vida, a comunicação e a conexão com o outro? Ou é a prova de que não sabemos nos relacionar?
O fato é que grandes e importantes encontros e histórias de amor nascem por meio dos aplicativos, esperança para os românticos de plantão. Mas eles também têm um lado sombrio que vem afetando e muito a nossa saúde mental e emocional e precisamos falar sobre isso.
Amigas, pacientes e seguidoras do @consultorioemocional relatam uma exaustão na busca pelo par perfeito, o chamado burnout afetivo, ou dating burnout, isto é, esgotamento de encontros. O fenômeno se reflete na dificuldade em iniciar ou manter relacionamentos nos apps de paquera. Saiba mais!
O que é burnout?
Burnout é o nome usado a fim de explicar uma condição de estresse crônico no ambiente de trabalho. Em 2021, entrou para o CID-11 como doença ocupacional e tem como alguns dos sintomas mais comuns exaustão física e psicológica, diminuição de energia, crises de choro e de ansiedade.
Entretanto, mais recentemente, o termo burnout passou a ser usado também no âmbito dos relacionamentos amorosos, para descrever o quadro de exaustão emocional nessa busca para encontrar um parceiro.
O burnout afetivo ocorre quando vivemos experiências amorosas que demandam tempo e envolvimento emocional. Só que elas não trazem o retorno esperado ou se transformam em um grande desapontamento.
Com essas experiências vem não só a frustração, como também o sentimento de inadequação, o aumento de ansiedade e, consequentemente, a baixa autoestima.
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De acordo com uma pesquisa realizada pelo aplicativo de relacionamento Happn, os brasileiros estão com dificuldade de construir relacionamentos amorosos.
Ela aponta que 93% dos usuários afirmam que está cada vez mais difícil estabelecer uma conexão verdadeira e significativa dentro de apps de paquera, o que resulta no dating burnout.
Fica, então, o questionamento: será que a dificuldade de manter uma conversa, preguiça de ir para um segundo encontro, desilusão para relacionamentos futuros e normalizar o sumiço do outro são sentimentos comuns para quem faz uso dos aplicativos de paquera? Ou são sintomas do burnout afetivo?
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Quais os sintomas do burnout afetivo?
Veja, abaixo, alguns dos sinais e fique atenta para mudar isso e recuperar sua saúde emocional:
1. Você recorre a diversos apps de namoro ao mesmo tempo
Conforme a pesquisa do Happn, 78% dos brasileiros usam ou já usaram mais de um aplicativo de encontros ao mesmo tempo.
Ou seja, as pessoas baixam diversos apps em busca de novos rostos, acreditando que vão, em algum lugar online, encontrar a pessoa perfeita que se encaixa em todas as suas expectativas.
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2. Mais curtidas, menos papo
81% dos brasileiros afirmaram que, nos aplicativos de paquera, passam mais tempo dando like nas outras pessoas do que conversando com elas e buscando, de fato, conhecê-las.
Além disso, 94% disseram que sentem que está cada vez mais difícil engatar uma conversa e manter interações mais significativas. Em resumo, os papos online não se desenvolvem e ficam no clichê “Oi, tudo bem? De onde? Qual sua profissão?”.
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3. Você se interessa por alguém – mas nem tanto
É possível que você se interesse por alguém, só que não ao ponto de querer sair com essa pessoa para um encontro. Mesmo assim, vai. E esse comportamento é normal para 64% dos brasileiros.
Com mais dates ruins, com pessoas com as quais você nunca teria um encontro, o usuário se sente ainda mais exausto em iniciar ou construir um relacionamento.
4. É melhor estar online do que perder algo
71% dos brasileiros afirmaram sentir ansiedade ou que estão perdendo algo quando não estão conectados a um app de relacionamento.
Esse sentimento tem até um nome: FOMO (sigla em inglês para Medo de Perder Algo), que caracteriza o medo de ficar fora do mundo tecnológico ou de não se desenvolver no mesmo ritmo que a tecnologia.
5. O sumiço repentino se tornou normal – o famoso ghosting
Outro sintoma de que você está sofrendo de burnout afetivo é achar normal quando uma pessoa com quem você está conversando para de responder às suas mensagens do nada, sem motivos aparentes. Pelo menos 58% dos brasileiros acham isso um comportamento normal.
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As mulheres e o burnout afetivo
Outro fator que leva ao esgotamento e que da mesma forma houve boom durante a pandemia é a forma abusiva com que o homens abordam as mulheres, enviando nudes ou pedindo favores sexuais antes mesmo do clássico: “Oi, tudo bem?”
Sem falar nos inúmeros casos de golpes, já popularizados e conhecidos como 171 do amor, que cada vez mais têm lesado as usuárias dos aplicativos de relacionamento.
A pergunta que fica é: como nos protegermos de tudo isso que acontece no mundo virtual dos relacionamentos? Já vivíamos uma fragilidade emocional antes da pandemia, e ela foi intensificada nesse novo momento. Afinal, ele exige muito mais da nossa saúde, principalmente na forma de nos relacionarmos com o outro.
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Como lidar com burnout afetivo?
Equilibrar expectativa versus realidade, a grande oferta desse catálogo de pessoas, o medo da solidão, os relacionamentos tóxicos, a insegurança com a própria imagem nas redes, a vulnerabilidade emocional, a falta de empatia…
Essas são apenas algumas situações que compõem esse quadro exaustivo, que também está associado ao estímulo na busca incessante pelo match perfeito.
Precisamos falar mais sobre relacionamento virtual e real. Ter espaços seguros para essa troca de informações e sentimentos, aprender a nos proteger das ciladas emocionais e, principalmente, não normalizar situações que são inaceitáveis.
É essencial investir no autoconhecimento, no fortalecimento da nossa autoestima e em processos terapêuticos. Afinal, o problema não são os apps de relacionamento, e sim a forma como fazemos uso deles.
São pessoas que estão por trás da ferramenta. E, se queremos relacionamentos melhores e saudáveis, precisamos ter um comportamento melhor na rede social também. Isso é um aprendizado sobre a nossa saúde, sobre aquilo que nos encanta, que nos adoece, mas que também nos cura.
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Sobre a colunista
Camila Custódio é idealizadora do Consultório Emocional – @consultorioemocional nas redes sociais. Camila é Assistente Social, Terapeuta de Família e Casal, Terapeuta Relacional Sistêmica, Psicanalista e Coach. Além disso, é Especialista em Gestão da Emoção e Consultora em Desenvolvimento Humano.
Escreve sobre saúde emocional, relacionamento e empoderamento feminino para sites, revistas e blogs. Atende pacientes online de todo o Brasil e do exterior.
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