Bubbles in the City – De repente, fico invisível

Então… Eu moro num prédio que não tem porteiro. Quem chega, precisa interfonar para eu abrir a porta. Suuuper Nova York! Mas aí meu irmão mais velho, que mora no Sul, veio passar uns dias em casa. Deu uma saída e levou minhas chaves e o controle remoto da garagem.

O Toco precisava ir embora, mas estávamos presos. Ele teve a brilhante idéia de ficar na recepção e esperar alguém chegar para abrir a garagem. E não é que “alguém” chegou mesmo? Mas quando eu vi quem era… Xiiii: era “a véia”.

“A veia” é uma “véia” muito, muito estranha. Pense numa “véia” muito, muito mal encarada. Tipo, irmã do Pedro de Lara – porque além de carrancuda, é feia que dói. Se bem o Pedro de Lara era um personagem… E essa “véia”, não. Ela é assim mesmo.

É como diz o pai de uma amiga minha: “nossa, benhê, de repente, ficamos invisíveis!”. Porque a pessoa entra no elevador, dá de cara com você e… Silêêêncio… Nenhum bom-dia-boa-tarde-boa-noite. Sequer um sorrisinho amarelo. Vira as costas como se você simplesmente não existisse – “nossa, benhê, de repente, ficamos invisíveis!”. Outro dia ela quase me matou: abriu a porta do elevador com tudo e me nocauteou. Pediu desculpas? Óbvio que não – “nossa, benhê, de repente, ficamos invisíveis!”.

Eu tenho um pouco de dificuldade com pessoas assim. Não consigo entender de onde vem taaaanto mau humor, tanta cara feia, tanta falta de gentileza. Tudo bem, tem dias que eu também não quero ver ninguém, não quero dar bom-dia-boa-tarde-boa-noite. Mas eu não consigo. Procuro, nas profundezas do meu ser, uma coisinha chamada “boa educação”. Ela nunca falha. E quando dou por mim – ops! -estou dizendo bom-dia-boa-tarde-boa-noite.

E “a véia” é mulher do síndico, o que só piora a minha situação. Não posso mandar tomar no furévis porque corro o risco de ser expulsa do prédio. Então, preciso apelar para minha, digamos, criatividade. Por exemplo: assinei o Estadão e a Folha – de novo. E o entregador deixava o jornal no lugar mais correto: a caixa do correio. Só que a caixa do correio fica trancada – e só o zelador tem a chave.

Como saio cedo de casa, o zelador ainda está “nanando”. Ou seja, durante dias meu jornal ficou “preso” e eu só podia ler à noite, quando o planeta todo já tinha mudado e as notícias eram todas velhas. Eu vivia, assim, numa espécie de “flashback” constante. Pedi uma cópia da chave, mas claaaaro que isso é “proibido’ – “véio” tem cada mania…

Aí, fui obrigada a tomar uma atitude extrema. Fiz um monte de cartazes, pedindo ao entregador para não colocar o jornal na caixa do correio, explicando o motivo e indicando um novo “local”, mais “público”, ao qual tenho acesso: praticamente a calçada. Colei meus cartazes por toda a entrada do prédio: na caixa do correio, na porta da garagem, no chão… Foi uma festa. Se o Kassab visse, ficaria horrorizado. Mas deu certo. Agora, leio meu horóscopo todo dia beeeem cedinho.

O mais incompreensível é que eu acho que “a véia” é mãe de um carinha super simpático e gente boa. Com quem ele aprendeu regras básicas de gentileza e boa educação? Mistéééério.

Espero que nem ele, nem “a véia”, nem o síndico sejam leitores desta famigerada coluna. Se não, além de expulsa do prédio, posso ganhar um processo por “difamação”. Aí vou ter que apelar para a “liberdade de expressão”, contratar advogado etc. “Mó trampo”.

Mas acho que estou salva. Porque eu devo ser, assim, uma espécie de “super herói”: Juro que estou no elevador, mas ela não me vê. Sim, devo ter superpoderes – “nossa, benhê, de repente, fico invisível!!!”.

Por Mila Brito

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