Este não é um post sobre o último filme ou livro do Harry Potter, apesar de começar com o Lord Voldemort, vilão da série! Para quem não sabe, Lord Voldemort é tão temido pelo povo bruxo que é referido como “You-Know-Who” (“Você-Sabe-Quem” ou “Quem-Nós-Sabemos”) e ainda “Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado” ou “Aquele Cujo Nome Não Deve Ser Pronunciado” em vez de seu próprio nome.
Este tabu – não se pronunciar um determinado nome – é recorrente na história da humanidade e está presente em todas as civilizações. Também varia de polaridade: ora quem não pode ter seu nome pronunciado é o Representante do Mal, caso do Lord Voldemort ou do Diabo, nas sociedades católicas; ora, é o Representante do Bem, por exemplo o nome de Deus na religião judaica primitiva (Aquele cujo nome nunca deve ser pronunciado porque o profano não compreenderia que o Deus Todo-Poderoso, o Deus dos Exércitos não pudesse ter nenhum outro nome a não ser o verbo Ser.).
As explicações para este tabu variam conforme a ciência que o tenta explicar (antropologia, psicanálise, etc), mas, em resumo, seria este decorrente de uma tendência das culturas ditas primitivas de acreditarem nos poderes mágicos da palavra.
Também na nossa tradição judaico-cristã, foi com a palavra que Deus criou o mundo, dando-lhe forma a partir do caos (“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele” – João 1:1-3). Ao proferirmos o seu nome, Ele está conosco. O nome reifica-O e presentifica-O.
Na nossa cultura aprendemos desde cedo sobre o poder mágico da palavra: palavras sagradas (Deus, Não usar seu santo nome em vão), palavras mágicas (Abre-te Sésamo!, Abracadabra!), rezas, pragas, etc. Também aprendemos que há palavras a serem evitadas. No caso do maligno, evita-se pronunciar seu nome para não trazer à existência toda a potência do seu poder que está adormecido – veja abaixo a grande quantidade de sinônimos utilizados nas várias regiões do Brasil para se referir ao “demo” sem nominá-lo.
Coisa de cultura primitiva – eu disse?
Pois bem, um dia desses, lendo um post no excelente Tiago Dória Weblog sobre um site anti-semita (De como nasce o ódio racial), deparei-me com o seguinte trecho:
O motivo de o nome do site não ser citado neste post é simbólico: quanto mais as duas palavras de seu nome estiverem juntas na Internet, maior sua relevância perante o sistema de buscas. É também por isto que não vai, cá, um link para o site. Recomendo a mesma cautela – de não publicar nem o nome, nem o link, aos comentaristas.
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Pois é, em tempos de Google e sua busca textual, parece que voltamos a acreditar nos poderes mágicos da palavra!
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Sinônimos de Diabo, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:
anhanga ou anhangá, anhangüera, arrenegado, azucrim, barzabu, barzabum, beiçudo, belzebu, berzabu, berzabum, berzebu, bicho-preto, bode-preto, brazabum, bute, cafuçu, cafute, caneco, caneta, canheta, canhim, canhoto, cão, cão-miúdo, cão-tinhoso, capa-verde, capeta, capete, capiroto, careca, carocho, chavelhudo, cifé, coisa, coisa-à-toa, coisa-má, coisa-ruim, condenado, coxo, cramulhano, cujo, debo, decho, demo, demonho, demônio, demontre, diá, diabinho, diabrete, diabro, diacho, diale, dialho, diangas, diangras, dianho, diasco, diogo, dragão, droga, dubá, éblis, ele, excomungado, farrapeiro, fate, feio, figura, fioto, fute, futrico, galhardo, gato-preto, grão-tinhoso, guedelha, indivíduo, inimigo, jeropari, jurupari, labrego, lá-de-baixo, lúcifer, macacão, macaco, mafarrico, maioral, má-jeira, maldito, mal-encarado, maligno, malino, malvado, manfarrico, mau, mico, mofento, mofino, moleque, moleque-do-surrão, não-sei-que-diga, nem-sei-que-diga, nico, pé-cascudo, pé-de-cabra, pé-de-gancho, pé-de-pato, pé-de-peia, pêro-botelho, pedro-botelho, peneireiro, porco, porco-sujo, provinco, que-diga, rabão, rabudo, rapaz, romãozinho, sapucaio, sarnento, satã, satanás, satânico, serpente, sujo, taneco, temba, tendeiro, tentação, tentador, tição, tinhoso, tisnado, zarapelho
O meu preferido? Cafuçu!