A necessidade da reafirmação que “eu sou eu mesmo” sempre tem respingos na língua. O idioma é vivo e vai se construindo geração a geração independente de leis que gostariam de impedir esta mudança natural. Às vezes a mudança não parece, nem de longe, melhor que o idioma formal. Mas não adianta espernear, vai mudar assim mesmo. O que estou dizendo hoje será dito de forma diferente amanhã, e só será compreensível e acessível a grande massa se for dito de outra futura maneira, qual será?
A grande maioria das pessoas resiste a avançar para a data presente (quanto mais ao futuro!). Talvez seja por isso que somos chamados de velhos e não de “jovens há mais tempo”. Por conta disso, empresas tradicionais quebram ainda que tenha sido sinônimo de progresso, pois se apegaram aos anos de glória e não chegam à data presente.
A forma tradicional de educar com quadro negro, cartilha e lição de casa, apesar de ter sido eficiente antes, não atinge mais nem o resultado nem o interesse dos estudantes. O que seria dos anúncios comerciais se mantivessem o mesmo enredo de outrora, será que estariam vendendo?
A língua fácil e volátil escapa de tudo isso. Vai se modernizando, invadindo os meios de comunicação e as pessoas querem fazer parte deste movimento. Você diria – ainda que tentasse esconder – a sua idade. Bastaria que soltasse sem querer : “É uma brasa, mora?”, ou “Falou aí bicho!”. A língua também classifica as gerações.
A linguagem não verbal também se sujeita a atualizações. Um decote ou uma mini saia já significou os piores adjetivos. Hoje um tapa-sexo de 4cm significa: “Estou pronta para ser a nova celebridade”, e é isso mesmo que acontece. A famosa “Quem?”, ganha páginas e entrevistas até alguém inventar algo ainda mais ousado. Neste caso para chamar mais atenção, já que não existe mais o segredo (o que ela supostamente encobriria era segredo para os marmanjos de outras gerações) a forma mais extravagante no futuro próximo será desfilar de burca. Isso sim, causará um furor.
A Internet não fica atrás. Há algum tempo, um símbolo digitado expressava: feliz, alegre :) , ou um charme com piscadela ;) , não gostei ou não teve graça :( . Hoje os símbolos são emoticons do MSN. A Xuxa com os exageros dos xis também foi assunto de discussões porque a criançada escrevia tudo com X, bixo, caxos… Ainda bem que a língua é viva e por ser viva, morre! Pelo menos parte dela.
Na net (ex-internet) o diálogo durava horas na base da abreviação e fonética: flw, blz, tb,vc, bj… (falou, beleza, também, você, beijo…). Gostando ou não, a língua flexível e não pára. Por sinal, essas quase palavras também já envelheceram.
Uma deficiência que a net (e outros meios escritos) encontrava era não ter o “jeitinho” de expressar “sem fazer doer muito”, em outras palavras, a deficiência é que você lê e não tem como perceber a feição, o sorriso maroto ou o tom de ironia de quem escreve. Por exemplo num diálogo você encontra aquela velha amiga na rua: – Nossaaa! Você ainda está com ele? – Hahahaha brincadeira… Na verdade o sorriso disfarça a brincadeira que quis dizer nada mais do que a verdade, neste caso o “ele” já devia há muito ter ido há muito tempo pro espaço. O risinho é falar “sem fazer doer muito”.
Como diria um velho deitado: Só não há jeito pra morte… Olha que curioso, capturei num blog um trecho de uma matéria com estas entrelinhas que não era para você ter lido (nem quem escreveu, pensado), mas já foi! Hahaha brincadeirinha:
Mário–Malhação-Good-Times-Frias resolveu casar e eu nem sabia que ele tava namorando. Numa cerimônia fodida íntima, barata na praia, ele trocou as alianças com a publicitária Juliana Camatti (who?). E, assim, no dia marcado para o casamento, choveu, então Mário aquele que te comeu atrás do armário teve que adiar o evento pro dia seguinte porque o padre disse que não ia ficar pegando chuva na praia. Daí, assim, ninguém compareceu, além da família e a cerimônia se tornou ainda mais íntima. Por causa disso, não tenho muito o que comentar, só que a Ju, a noiva, esqueceu de retocar a raíz, o caule, as folhas, as flores e até os frutos. Ah, falei.
A língua não assume a idade que tem. E será sempre renovada pela nossa necessidade de dizer (literalmente) que somos diferentes daqueles que nos antecederam. Sendo assim, o futuro da língua é de continuar jovem – sob protestos ou não – até onde a vista alcançar.
Por Vinícius Moura