A Filosofia da Qualidade de Vida
Foto: Edu Euksuzian Já reparou que quando estamos procurando vaga em um estacionamento de shopping ou supermercado, para dar dois exemplos, e encontramos um monte…
Foto: Edu Euksuzian
Já reparou que quando estamos procurando vaga em um estacionamento de shopping ou supermercado, para dar dois exemplos, e encontramos um monte delas à disposição, isso nos cria momentaneamente uma dúvida: em qual parar? Essa aqui é melhor, não, não, aquela outra. No entanto, quando existe somente uma vaga disponível, vamos diretamente a ela e está acabado. É mais ou menos o que sinto quando vou dar uma palestra ou escrever artigos sem estar previamente pautado.
Dentro do que faço, existe um universo tão vasto, que nos fornece inúmeras opções de abordagem que às vezes fica difícil de escolher uma vaga para “estacionar o pensamento”.
Qualidade de vida é um desses assuntos, nos abrem várias janelas, deixando-nos atordoados em fechar algumas. Deixei esta aberta para nosso artigo de hoje. Vamos começar com você prestando atenção a sua respiração. Respire profundamente, pelas narinas, expandindo o abdômen a cada inspiração e contraindo-o a cada expiração, procure perceber o amenizar das dispersões mentais, a comunhão de energia e a geração de um estado de graça biológico, pela simples respiração consciente, profunda e ritmada.
Imagem do site Universo Yoga
Nas próximas respirações, inclua prazer, o mesmo de quando você se alimenta, pois afinal, você o está fazendo também, de bio-energia. No Yôga, aprendemos que alimento não é somente o que adentra nossa boca e sim o que penetra nossas cinco portas de entrada do conhecimento; o que entra pelos ouvidos, narinas, olhos e pele também é alimento.
Nunca mais me esqueci de uma entrevista que o ator Johnny Deep concedeu ao programa estadunidense Actor`s Studio. Em certa parte do show, lhe foi perguntado qual era o maior prazer que sentia na vida, e ele respondeu: respirar! Confesso que esperava qualquer outra resposta esdrúxula, mas essa, realmente me surpreendeu. Bem, voltemos as suas respirações. Nos primeiros ciclos, você amenizou a confusão mental e gerou um estado de harmonia interior, diminuindo o stress e, nos últimos, você desenvolveu o amor, no formato de satisfação e bem estar. Pois então, toda esta introdução, serviu para mostrar que em minha opinião, descansam ai, os dois principais tópicos para se obter qualidade de vida seja ela qual for: amenizacão do stress e inclusão da paixão nas atividades do cotidiano.
Bem, parece que o Yôga entrou nessa de gaiato; na verdade, nem creio que seja ele que tenha entrado, mas o colocaram nessa, pois é muito provável que lá atrás, quando Shiva o criou, não o tenha feito com o intuito de fornecer qualidade de vida às pessoas, mas como conseqüência daquilo que ele nos ensina, ele acabou ficando inevitavelmente ligado a isso. Tanto é verdade que hoje em praticamente qualquer programa de qualidade que se instale em empresas, academias, hotéis, spas, resorts etc, esta lá o Yôga. Em nossas escolas, nas representações da Uni-Yôga, perguntamos aos pretendentes a alunos, a razão de quererem praticar Yôga e suas expectativas, e uma das respostas campeãs de bilheteria é a busca pela famigerada qualidade de vida.
Foto: Edu Euksuzian
Antes de dar atenção ao stress e a paixão, deve-se atentar a quatro observações centrais para melhor compreensão do processo de obtenção da qualidade. A primeira delas é que estamos em uma fase global e preferencial de quantidade em detrimento a qualidade, em praticamente todas as áreas de nossas vidas. Prefere-se produzir, namorar, ler, mais do que melhor. Atualmente o que contam são os números. Obviamente que eles possuem sua importância. No entanto, hoje é mais valorizado o “fazer mais, em menos tempo”, não importando os resultados qualitativos.
A segunda observação: cada pessoa tem o seu próprio ideal de qualidade de vida. Se perguntarmos a cada um que ler este artigo o que ele entende pelo tema, certamente teríamos varias definições diferentes. Portanto, não há um modelo exemplar e padronizado.
Terceira e talvez a mais difícil de todas: tem que querer muito. Querer o quê? Mudar. Porque mudar? Pra se obter a qualidade, fatalmente algo precisara ser modificado. Somente dizer que se deseja, é fácil, porém não desprezível, pois a pessoa de alguma forma, já se predispôs a uma tentativa. Mas o que conta mesmo é o quanto essa pessoa quer essa mudança e o quanto ela estará disposta a renunciar.
E a quarta e última nos diz que após decidir que realmente se quer mudar, deve-se saber o que se quer modificar. É comum alunos me dizerem que estão insatisfeitos e querem mudar. Eu pergunto qual a razão da insatisfação e o que eles querem transmutar? Com poucas variações, a resposta é: não sei. Costumo dizer: só se modifica aquilo do que se tem ciência. Calma, não é necessário entrar em desespero, esses quatro elementos não são difíceis de serem resolvidos. O importante é saber que eles existem para sobrepujá-los.Como costumam dizer os advogados: temos que conhecer as leis para poder “navegar” através delas. E como o Yôga nos auxiliará nesta empreitada? Através de certos conceitos metafísicos, que incluem dentre outras coisas, senso de disciplina, observação e reflexão. Bem, você já deve estar se perguntando: e a bem construída e alicerçada administração do stress e o amor presente em cada ato, sorriso e respiração, cadê? Vá até o próximo parágrafo.
Compreendamos a cultura yôgi como um conjunto de técnicas e conceitos que visam o aprimoramento e a lapidação do ser humano. Através das técnicas propriamente ditas ameniza-se o já instalado stress. O escopo de uma prática completa do Yôga que professo é composto de linguagem gestual, projeções energéticas, vocalizações de sons e ultra-sons, exercícios respiratórios, técnicas de purificação e orgânicas, relaxamento e meditação.
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Todas estas técnicas citadas, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente nos auxiliarão no combate ao stress. Por exemplo, reaprende-se a respirar corretamente.
Todo mundo sabe (ou já viu) que quando alguém esta sob intensa pressão, quem está próximo recomenda que ela respire. Há exercícios de respiração para sedar e outros para estimular; por meio deles, facilita-se a ligação do inconsciente com o consciente, aumenta-se a sensação de bem-estar, o sangue torna-se mais ventilado. Ao expirar de forma longa e prolongada, estimula-se o nervo vago, o que promove uma descontração maior, baixando assim a carga emocional. Com a estimulação total do corpo, através das técnicas corporais, fortalece e alonga-se músculos, flexibiliza-se articulações e estimula-se o sistema endócrino.
Com as posições de inversão e outras, estimula-se a glândula pineal que libera melatonina, neurotransmissor que combate radicais livres e que regula nosso humor e sono. Os exercícios de concentração e meditação diminuem as flutuações de nossa mente, amenizando nosso desgaste e sobrecarga mental, alem de regular a ansiedade. Estudos mostraram que a meditação reduz o metabolismo, fazendo que os batimentos cardíacos e a respiração fiquem mais lentos e o consumo de oxigênio pelas células cai. É isso que dá a sensação de relax e tranqüilidade.
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As técnicas de relaxamento com indução verbal, auxílio de luzes e visualizações, promovem um maior controle sobre a contração muscular e nervosa. Enfim, o escopo técnico do Swásthya Yôga nos auxilia a implodir o stress. No entanto, a graça do Yôga se dá quando você o leva para fora da sala de aula, ou seja, o aplica nas atividades diárias, afinal, como disse certa vez, um sábio: filosofia que não possa ser aplicada no dia a dia não tem utilidade. Estou me referindo muito mais em uma nova velha forma de enxergar o mundo do que propriamente dos exercícios em si, apesar de que você pode e deve usá-los, sempre com descrição. Por exemplo, se está preso no trânsito, pode-se fazer respirações, contrações de plexos e glândulas; no consultório médico, visualizações e mentalizações; na fila do supermercado, concentração e abstração, e por aí vai.
Costumo dizer que o Yôga é uma metáfora pra vida. Muito do que se faz dentro de uma aula pode ser usado conceitualmente fora da sala. Aprende-se e treina-se em aula, por exemplo, que para conquistar o equilíbrio físico, deve-se passar por momentos de instabilidade. Assim é na pratica, assim é na vida. Aprende-se que ao fazer uma posição para um lado, por exemplo, o esquerdo, como uma torção ou lateroflexão da coluna vertebral, você não deve repetir os mesmos erros que foram constatados por você ou pelo seu professor quando o fizer para o direito, afinal, você acabou de aprender a forma certa de execução e deve ter a capacidade de assimilá-la rapidamente. Assim é na prática, assim é na vida.
E quando fazemos a posição de inversão? Curioso perceber que frequentemente os praticantes com idéias mais conservadoras são os que geralmente têm mais dificuldades para concluir a posição, pois ao fazê-la, você fica obrigatoriamente de ponta cabeça e é obrigado a enxergar o mundo ao contrário, por um prisma diferente do habitual. E por outro lado, aqueles que temem menos as mudanças, sejam elas de qualquer natureza, executam a posição em menos tempo, muitas vezes, até na primeira aula.
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Enfim, com o Yôga, tende-se a extirpar o cabestro e perceber que há outras formas de encarar a vida e suas esquinas. Portanto, com tudo isso e muito mais, é extremamente natural que o praticante melhore a qualidade do seu sono, alimentação, digestão, excreção, pensamentos, relacionamentos e afins. E com maior atenção no dia a dia, gera-se uma melhor compreensão das situações de stress e suas raízes. No entanto, assim como a saúde não é somente a ausência de doença, o simples fato de ter minimizado e controlado o stress não é prerrogativa obrigatória da aquisição de qualidade de vida em sua totalidade.
Falta-nos aquela sublime força que é invisível aos olhos, mas incrivelmente visível ao coração: a paixão. Sabe aquela pulsação de vida que brota em seu âmago quando se identifica fortemente com algo ou alguém? Aquela chama de luz que nos ilumina o caminho, desde que saímos da cama pela manhã? Pois é, o amor, a sensação de devoção, entrega e puro prazer, devem estar presentes em cada segundo de nossas vidas.
Mas para isso, devemos gostar daquilo que fazemos; e não digo somente na área profissional, mas em todas que englobam nossa existência. Meus alunos me perguntam se nunca tiro férias; digo a eles que vivo nelas. A importância do Yôga neste contexto, é que ele nos deixa mais conscientes para evitarmos os erros que por ventura cometeríamos, como por exemplo, nos depararmos com aquilo que sonhávamos e abrir mão disso.
Por vezes, me pergunto e aos outros: será que temos a noção da quantidade de pessoas ao redor do mundo que passam a vida inteira a tentar encontrar aquilo que gostariam de fazer e não encontram? E muitas vezes, nós esbarramos com aquilo que sempre sonhamos e…bobeamos. Da mesma forma que, algumas vezes, deixamos passar tão facilmente pessoas especiais que adentraram nossas vidas. Creio que muitas vezes, não reconhecemos a beleza, magnitude e importância daquilo que está bem diante de nós, pois esperamos sempre, que quando algo importante surja, deva ser anunciado ao som de trombetas.
Ouso dizer que sem o amor não haveria razão pra nada nesse mundo. Portanto, no meu ponto de vista, qualidade de vida, refere-se principalmente a essas duas características: bom entendimento com o stress e a presença incondicional do amor.
Vamos encerrar nosso bate papo com um pensamento do filosofo francês Montaigne: filosofia é a ciência de viver bem. Portanto, meu amigo, faça da sua vida, uma filosofia.
Fábio Euksuzian
Autor dos livros A Ancestral Arte da Poesia, Yôga em Dupla e o CD Relaxe e Desperte!
www.fabioeuk.org
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