Sabe quando eu falava que gostava de estar sempre pronta, de banho tomado, linda e formosa e com a cozinha limpa quando o Ciro chegava em casa? Pois é: não estou conseguindo, não, viu? O tempo está cada vez mais escasso e a vida, cada dia mais corrida.
A verdade é que eu estava tentando fazer e ser tudo aquilo que sempre disse que era impossível: ser e fazer tudo. Sempre vi as amigas que trabalham e são “casadas” sofrerem por não terem tempo pra tudo que supostamente é esperado delas. Ter a casa arrumada, dar atenção pro “ômi” e pra família, estar presente na vida dos amigos, ser uma profissional excelente e sem falhas, estar com o cabelo ótimo e manicure em dia, ler jornais, revistas, acessar o Twitter e o Facebook pra estar “atualizada”. Imagina? Fazer “de um tudo” – incluindo ir à academia, porque, afinal, tem que ser gostosa – e ainda chegar em casa e esperar o bophe com uma “jantinha” à mesa? Quem inventou isso de mulher multitarefas que dá conta de tudo só pode ter sido um HOMEM. E um homem bem canalha.
O fato é: não dá tempo. Mesmo pra quem trabalha em casa, como eu. Aliás, isso é pior. Pelo menos pra mim, psicopata da perfeição. Fico achando que, como estou em casa, TENHO que conseguir fazer tudo. Só que não dá. Se eu passasse o dia cuidando da casa e da minha vida pessoal, não sobraria tempo pro trabalho.
Me dei conta disso quando resolvi fazer um almoço pro Ciro. Como o trabalho dele fica a três quadras de casa, dá pra ele vir almoçar. E a gênia aqui quis fazer surpresa e esperá-lo com um “almocinho”. Pensa num caos.
Primeiro que, claro, não me programei. Era pra eu ter me inspirado em alguma receita da Rita Lobo, que tem soluções ótimas e o pouco que me aventuro a fazer na cozinha, em boa parte, vem dos livros dela. Mas tive que inventar alguma coisa muito rápido e com o que tinha em casa – como se cozinhar fosse um dos meus talentos, né? Segundo que, claaaaro, foi eu pisar na cozinha que o mundo caiu: cliente ligou pedindo coisa urgente. Mandou e-mail, que não chegava completo. Quando chegou, eu precisava de apoio da galera da agência, que fica onde? Na AGÊNCIA. E que horas eram? Horário de almoço. Não tinha ninguém lá. Nesse meio tempo, Ciro me chamando. Queria que eu medisse o lugar do corredor onde queremos colocar um móvel. Eu falava ao telefone, checava e-mail, media o espaço com a trena, refogava a carne, cozinhava a massa e cortava o tomate. Praticamente uma Lula Lelé com cada coisa num tentáculo.
Comi tão rápido pra voltar logo pro computador, que mal senti o gosto. Mas o Ciro disse que ficou bom, então, estamos postando a receita. Usei bacon porque não sou boba e tasquei logo um dos ingredientes que ele mais gosta pra minimizar as possibilidades de um desastre total.
Não sei como a cozinha não pegou fogo. Só sei que mulheres perfeitas, só mesmo em Hollywood, naquele filme que tem Nicole Kidman, Bete Middler, Glenn Close, Christopher Walken e Mathew Broderick. Aliás, elas, as mulheres perfeitas, mesmo no filme, eram robôs – e só cuidavam da casa e da família.
Antes de o Ciro ir embora, falei: fica milionário logo pra eu não ter que trabalhar mais. Mas, aí, pensei: ser uma dona de casa nunca foi o meu sonho. Por não ser o meu sonho, eu não seria feliz. E, como cantam, é melhor ser alegre que ser triste. Ainda que a gente não seja perfeita.
Obs: Ciro deve ter percebido toda a minha crise existencial e culinária. Lavou toda a louça e deixou a cozinha “um brinco” antes de voltar pro trabalho. How cute is that?
O que usamos
Um bife de filé mignon
Bacon
Azeite
Mix de alho com cebola triturados
Sal
Pimenta-do-reino
Caldo de carne líquido
2 tomates sem pele
Queijo parmesão
Penne
Como fizemos
Cortamos o filé mignon e o bacon em tiras. Refogamos o mix de alho com cebola no azeite, douramos o bacon e adicionamos a carne. Temperamos com sal, pimenta-do-reino e caldo de carne líquido. Deixamos “fritar” e reservamos.
Depois de o penne estar cozido, refogamos os tomates no azeite e temperamos com sal. Juntamos o penne e mexemos. Já no prato, colocamos a carne com o bacon por cima e servimos com parmesão ralado.
O que bebemos
Carménère (uma tacinha, pra relaxar porque foi tenso)
Na cozinha tocou
Nada. Não deu tempo de pensar nisso!