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Uma corda, um abismo – A dífícil decisão de mudar por Vinícius Moura

Desistir da vida? Não. Isso definitivamente, não. Faltava coragem? Isso podia ser. E fazia sentido, esta era a tradução daquele momento. Em seu balanço íntimo…

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Desistir da vida? Não. Isso definitivamente, não. Faltava coragem? Isso podia ser. E fazia sentido, esta era a tradução daquele momento. Em seu balanço íntimo reconhecia a falta de coragem. Qualquer outro, ao olhar suas conquistas, diria que não. Ele era um homem duro, de decisões práticas, essencialmente objetivo. Para ele, esta falta lhe roubou a ousadia, tanto quanto, a autoria de seus passos. No balanço de sua vida até aqui, sentia que não havia realizado nada que pudesse ter verdadeiro orgulho. Já que tudo que tinha realizado, não era senão, uma ordem, que seguiu sem contrariar. Sua vida não era uma trajetória de fracassos. Claro que não! Ele sabia bem da relevância de seu papel social.

No começo de carreira foi um bom funcionário, consequentemente bom gerente e em seguida diretor. Conseguiu acumular recursos suficientes para fundar empresa própria. Quase cinquenta funcionários, isso era pouco? Não importava a resposta, a ele não importava, tinha sido pouco. Não tinha sido verdadeiramente ele. Havia se distanciado de si. Nunca havia experimentado o risco de ser ele mesmo, nenhuma atitude havia sido autêntica. Desistir da vida era, portanto, desembarcar no meio da viagem que nunca escolheu ter feito. Pensava seriamente nisso, sem culpa e, ressentimento se tinha algum, era dele mesmo. Já que, literalmente, obrigado a fazer isso ou aquilo, também não era verdade, nunca havia sido.

Desta vez, não ia pedir, não ia mandar, não iria apresentar um cartão que precedesse seu “eu mesmo”. Ia ser ele, seja lá o que pudesse ser isso… E justamente por não fazer ideia de quem realmente era, é que ele se sentia assim, tão diferente daquilo que se apresentava. O torturava saber que, por toda sua vida, apenas havia seguido uma ordem implícita em suas decisões e escolhas. Desta vez ia ser pelas mãos dele o feito.

Estendeu uma corda, de um prédio a outro em segredo, para não criar alarde. Esticou, esticou e esticou prendendo de forma que fosse possível caminhar sobre ela e o abismo. Era isso. Pronto! Isso seria a realização de sua busca. Era isso? Não sabia. Sabia apenas que o que faria era parte importante de alguma coisa perdida, não se sabe quando. Ainda criança havia visto a foto de um homem equilibrando-se numa corda… Ah! Era aquilo que ele queria fazer desde o início. E anunciar com entusiasmo que faria parte da trupe de um circo foi o erro. Pura inocência. Dizer em alto e bom som que havia encontrado seu destino foi realmente um grande erro.

– Isso não moleque. Que futuro há nisso? – Foram as palavras de ordem de sua mãe. Foram palavras muito firmes de uma mãe que mantinha sozinha seus três filhos. Ele entendeu perfeitamente, era o mais velho. Cabia a ele, se não cabia achou que coubesse, a obrigação de suprir a ausência do pai. Esta era a voz e a ordem que não o abandonava e que ele obedecia até então. O sucesso que encantava os olhos alheios teve o custo de afastá-lo de seus sonhos, suas vontades e pior que isso, o manteve afastado de si.

Treinou antes, em terreno mais baixo, claro que não ia abandonar sua vida. Pensando bem, ia. Esta era sua pretensão, pelo menos simbolicamente. Era manhã clara, fria ainda antes mesmo do nascer do sol. Não era um evento, não era um show e era tão manhã propositalmente para não ter expectadores, disso não precisava. Este era um projeto totalmente seu. E lá foi ele segurando uma vara imensa para manter o equilíbrio. Um passo, dois, três… Não havia vento e os sons da cidade ainda estavam mudos. Não teria com quem comemorar, caso chegasse do outro lado, mas estava feliz. Caminhar na corda era totalmente suficiente.

Não, não era! Estranhamente, se sentiu solitário e sentiu ser apenas alguém irresponsável, tolo, e aquilo não era mais a realização do seu sonho. Caminhar sobre aquela corda não mais o tornaria um homem corajoso. Dono de seus passos. Acreditava que devia rir, devia gritar, devia urrar de prazer, havia planejado e estava realizando tudo aquilo com êxito. Mas, só estando ali, no meio da corda estendida, que ele percebeu: aquilo era só um sonho infantil. E só lhe restava um caminho: seguir em frente. Cair para um lado, ou outro, também era possível, mas isso não era um caminho viável, era o fim. O que não fazia parte do plano. Faltava-lhe novamente a coragem para decidir pelo fim. Coragem não é coisa que se esquece. Jamais se esquece.

Fazer a travessia seria seu renascer, pela primeira vez teria realizado um feito seu. Um passo sobre o abismo deveria ser, seu reencontro com aquele que julgava nunca ter sido. Mas só estando ali pôde novamente perceber suas tão poucas opções: voltar, seguir, cair para um lado, para outro. Era de novo a mesma ordem. Só assim descobriu: queria cortar aquela corda e continuar, sem cair. Pairando, livre. Era só o que queria.

Por Vinícius Moura

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