Em Portugal – Travesseiro de Saramago e o Condicionamento

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Há alguns meses estive em Portugal para um ciclo de cursos e aproveitei para conhecer a bela Lisboa, Porto e Sintra. Além de me deliciar com a história, arquitetura e beleza natural das terras lusitanas o fiz literalmente também com os inebriantes doces da terra de Cabral.

A arte da boa gastronomia, um dos grandes prazeres da vida de um ser humano, é acentuada quando se experimenta algo delicioso pela primeira vez.

Nunca havia escutado sobre o travesseiro, um doce típico da região de Sintra, vilarejo localizado poucos quilômetros da capital de Portugal. Quando por lá cheguei, me indicaram uma casa tradicional de doces chamada a Periquita para degustar o tal travesseiro.

Com boa aparência, o travesseiro sentiu minha mordida pela primeira vez: foi uma explosão de estímulos às papilas gustativas e a todo meu campo sensorial. Assim que o doce sumiu de minhas mãos já queria pedir outro mas me contive. Deveria ter pedido o travesseiro de casal (é com esse nome mesmo, duplo), pensei naquele momento, mas aí já seria demais poder dizer que comi um travesseiro de casal na Periquita!

Como um amor perdido nas envelhecidas e nostálgicas vielas de Lisboa, procurei a iguaria em cada empoeirada vitrine das charmosas boulangeries portuguesas, mas minhas papilas choravam por sua ausência.

Os resíduos daquela estreante degustação me faziam querer repetir a experiência. Se eu tivesse obtido êxito, a constante repetição daquela ação reforçaria dentro de mim o que havia sentido da primeira vez que travei contato com o dito cujo e isso talvez gerasse um condicionamento, quase um vício e, a partir de então, sempre que eu visse a tal coisa a comeria, mesmo que estivesse sem fome ou vontade.

Em outras palavras, o quero demonstrar é que a primeira impressão sensorial e emocional que ficou guardada em mim após aquela fatídica tarde fria em Sintra seria reforçada como se fosse um sulco aprofundando-se em meu sub-consciente, até que se tornaria um desejo automatizado sobre o qual eu teria pouco controle enquanto ele permanecesse escondido de minha plena consciência.

Nós todos temos dezenas de vásanas, termo sânscrito designado para explanar esse tipo de condicionamento, que acabam por “comandar” nossas vidas uma vez que estão fortemente construídos, quase sempre repetidos e quase nunca conscientes. Portanto, prestemos atenção para não sermos completamente conduzidos. O primeiro passo para isso, como eu mesmo disse no livro A Ancestral Arte da Poesia, é que saibamos que para modificar algo temos que, antes de mais nada, compreendê-lo.

Boa sorte!

Por Fábio Euksuzian, autor dos livros A Ancestral Arte da Poesia, Yôga em Dupla e o CD Relaxe e Desperte!

www.fabioeuk.org

Foto de abertura: Panike

Fábio Euksuzian: Fábio é Diretor da Uni-Yôga Vila Olímpia e Presidente da Associação dos Profissionais de Yôga da Vila Olímpi. Autor dos livros A Ancestral Arte da Poesia, Yôga em Dupla e Contos de Shiva, além do CD Relaxe e Desperte! a - www.universoyoga.org.br - (11) 3845-5933 - fabio.euk@metododerose.org
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