O “elogio” à preguiça

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É absolutamente pasmado que leio na Folha artigo sobre uma palesta da filósofa Marilena Chauí num ciclo de conferências cujo tema é “Elogio à Preguiça”  (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/961616-intelectuais-se-dobraram-a-alienacao-do-trabalho-diz-marilena-chaui.shtml).

“Com misto de acusação e lamento Chauí afirma que na chamada sociedade da informação, os intelectuais se dobraram à alienação do trabalho: não têm mais controle sobre o que produzem, e sua obra é uma mercadoria que não revela a subjetividade do autor”. As palavras de ordem de sempre: alienação, mercadoria…

“A maneira pela qual os acadêmicos se renderam à ideia de produtividade, de controle de qualidade e de ranking é um escárnio. É a destruição da vida do pensamento”, disse a professora da USP. O que ela espera então: ineficiência? baixa qualidade? gasto sem controle dos recursos públicos? Não é o que vemos na China, único país relevante que ainda se diz marxista.

“Hoje todas as ciências deixaram de ser um conhecimento que passa ao largo do capital para depois serem aplicadas. Elas se tornaram uma força produtiva. É isso que significa a afirmação de que todo poder está na informação. A subordinação do intelectual à lógica do capital se fará com a mesma ferocidade em que ela se fez sobre o proletariado.” Hein? Não alcancei, matei essa aula…

E nesse ritmo a coisa vai…

“No Gênesis da Bíblia, por exemplo, o trabalho é imposto como pena eterna a Adão e Eva, que não mereceram o paraíso. A preguiça, portanto, é um pecado capital. Ao mesmo tempo, a ideia do trabalho como “desonra e degradação” faz com que ele não seja visto como opção de quem tem livre arbítrio.”

“Essa ideia aparece nas sociedades escravistas como a grega e a romana, cujos poetas não se cansavam de proclamar o ócio como um valor indispensável para a vida livre e feliz”, disse Chauí. A palavra trabalho não existia em grego e em latim, lembrou ela. “Os vocábulos ergon (em grego) e opus (latim) se referem às obras produzidas e não à atividade de produzi-las.”

A ilustre filósofa, no entanto, esquece-se de mencionar uma das principais obras fundadoras da cultura grega que trata exatamente do elogio ao trabalho. Transcrevo a seguir Werner Jaeger, em “Paidéia – A formação do Homem Grego”:

“Em Hesíodo revela-se a segunda fonte da cultura: o valor do trabalho. O título de “Os Trabalhos e os Dias”, dado pela posteridade ao poema rústico didático de Hesíodo, exprime isso perfeitamente. O heroísmo não se manifesta só nas lutas em campo aberto, entre os cavalheiros nobres e os seus adversários. Também a luta silenciosa e tenaz dos trabalhadores com a terra dura e com os elementos tem o seu heroísmo e exige disciplina, qualidades de valor eterno para a formação do Homem. Não foi em vão que a Grécia foi o berço de uma humanidade que põe acima de tudo o apreço pelo trabalho. A vida despreocupada da classe senhorial, em Homero, não deve induzir-nos em erro: a Grécia exige dos seus habitantes uma vida de trabalho.
(…)
O trabalho é celebrado como o único caminho, ainda que difícil, para alcançar a arete. Este conceito abarca simultaneamente a habilidade pessoal e o que dela deriva – bem-estar, êxito, consideração.(…) O Homem deve ganhar o pão com o suor do seu rosto. Mas isso não é uma maldição, é uma benção. É este o preço da arete.”
(…)

Esse pensamento e suas palavras de ordem, aplicados à educação produziram o descalabro a que assistimos no Brasil. Ensinar gramática é escravizar o aluno, assim como é induzi-lo a falar e escrever corretamente…

Diante desse blá-blá-blá, o que dizer? Hoje é dia de preguiça, bebê!

Por Edgard Almeida

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