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Gênesis – Por Vinícius Moura

Os rios e mares já estavam lá, árvores e montanhas sentiam o vento soprar por elas. O sol, a lua, as estações, já estava tudo…

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Os rios e mares já estavam lá, árvores e montanhas sentiam o vento soprar por elas. O sol, a lua, as estações, já estava tudo definido, mas aquilo Ele não considerou um começo. Precisava haver olhos, só com eles seria possível entender o todo que havia construído.

De que adiantariam flores de formas e cores tão diferentes, chapadões, baías, quedas d’água e vulcões quando não se há olhos para observar? Assim foi feito. Pássaros passaram a cruzar os continentes, animais rastejantes observavam de perto todos os detalhes. Na sequência, toda sorte de bichos foram tomando o mundo. Ainda assim, havia uma decepção, por mais beleza que houvesse, ainda não era a marca digna de um início. Tantos milhares de anos, tanta dedicação e paciência para quê? Asas, patas, escamas, antenas, unhas, dentes e narizes de infindáveis formas estavam acompanhados, cada um com seus olhos.

A decepção era que estes olhos não admiravam, nem se impressionavam com a grandiosidade. Toda reação era somente um movimento instintivo. Não demonstravam emoção ante o fabuloso. Que obra é esta que não obtém uma resposta? Um sim, um não, uma interjeição qualquer, bastaria. O que se ouve? Apenas o nada. A perfeição daquele mundo onde tudo era permitido, onde tudo era possível, tornou-se tediosa ao Criador. A Ele não chegava nenhuma palavra de reconhecimento ou ingratidão.

Assim, surgiu a maior de suas inspirações: a transgressão. Esta era a chave para que se instalasse o desejo. No mundo onde tudo era possível, não havia possibilidade de desejo. Como poderia? Sem a tentação do desejo, também não haveria uma resposta de satisfação ou frustração.

A solução? Os frutos de uma única árvore não seriam permitidos. Isto bastava. Não necessitava serem os maiores ou os mais bonitos, apenas proibidos. Assim foi. E aqui estamos nós. Donos dos únicos olhos que desejam e, só por isso, os que separam o bem do mal. Se por um lado, para o criador sua grande inspiração foi permitir a transgressão, para suas criaturas, o passo imediato foi inventar fechaduras e trancas. Já que um podia desejar, outro também poderia.

A lógica? Deve-se guardar o que lhe é caro antes que outro pense em dele se apropriar. Assim Ele obteve o seguinte retorno: o que era passível de ser guardado era a resposta sim, um: “obrigado por ter me criado isto”. O que não merecia a guarda era um não, um: “nisto poderia ter caprichado mais”. Em pouco tempo os donos dos únicos olhos que desejam passaram a refletir: “E se o que me sobra hoje vier a faltar amanhã?”.

Não se precisou de mais nada para que a fraternidade da criação inicial fosse praticamente extinta. Dela, o que resta é o pouco que não se pode trancafiar, como o pôr do sol ou uma boa recordação. Essas são coisas que se compartilham. E só acontecem pela certeza de que não serão tomadas por outro.

Para tudo, enfim, Ele obteve resposta. Da mesma forma que há os que dão sua vida por Ele, existem os que matam em nome D’ele. E como não poderia deixar de ser, existem os indiferentes, que sequer acreditam na sua existência.

A perfeição que não se atinge continua aí.  E Ele ri. O que mais poderia fazer?

Por Vinícius Moura

 

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