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Os Profissionais do Carnaval – Quem são profissionais das Escolas de Samba – Parte 3

O Carnaval brasileiro está entre os espetáculos mais belos do mundo, transmitido para mais 100 países em uma verdadeira mostra da nossa cultura. Para desvendar…

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O Carnaval brasileiro está entre os espetáculos mais belos do mundo, transmitido para mais 100 países em uma verdadeira mostra da nossa cultura.

Para desvendar os segredos dos profissionais responsáveis por essa grande festa, fomos ao barracão de uma das mais tradicionais escolas de samba do carnaval paulistano – a Nenê de Vila Matilde. Em entrevista exclusiva com o diretor geral de harmonia da escola, Carlos Seles e com o carnavalesco Magoo, vamos saber um pouco mais sobre os profissionais do samba.

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Os Profissionais do Samba

Uma escola, em média,  tem cerca de 120 pessoas contratadas, direta e indiretamente, em diversos ramos de atividade. A confecção de fantasias e alegorias envolve profissionais como marceneiro, serralheiro, escultor, artesão, desenhista etc. Essas pessoas trabalham integralmente no carnaval e costumam prestar serviço para diversas escolas.

Muitas pessoas pertencentes à comunidade fazem trabalhos voluntários ou recebem apenas ajuda de custo para suas atividades na escola. Uma grande porcentagem dos profissionais do carnaval tem uma profissão paralela durante o ano.

Carlos Seles também revela que Parintins é o grande celeiro de profissionais para o carnaval das escolas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Com a Festa do Boi, a cidade desenvolveu um grande número de profissionais especializados, como escultores e artesãos, além de muitas técnicas que favorecem os desfiles das escolas de samba, entre elas os movimentos mecânicos de braço e cabeça dos carros alegóricos. Esses movimentos são feitos manualmente por uma pessoa que se encontra dentro da estrutura do carro. Também desenvolveram novas tecnologias de decoração e acabamento.

Estes profissionais, além de ser uma mão de obra mais abundante, têm um custo muito menor para escola, quando comparados aos profissionais da capital paulista.

A porta-bandeira e o mestre-sala são de extrema importância e têm uma coordenação especial responsável por eles com um cuidado muito grande, afinal o casal equivale a cinquenta pontos, assim como os quesitos de comissão de frente, bateria, eles tem que ter muito ensaio e muito comprometimento.

Entre os maiores valores de uma escola de samba, estão a comunidade, a rainha da bateria, o mestre de bateria (que não pode errar o compasso), as baianas e a velha guarda.

As escolas cada vez mais têm optado por uma diretoria executiva, que não depende do carnaval para viver, geralmente são profissionais de outras áreas.

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Os profissionais do samba geralmente frequentam a comunidade desde pequenos, costumam ter outro trabalho paralelo ao carnaval e tem uma enorme paixão pela escola. Carlos Seles, Magoo, D. Laurinha, Kaiene Muriel,  Rúbia Angélica.

Dirigentes

É o nome pelo qual podem ser chamados o presidente, o presidente de honra e o patrono da escola. Também pode-se referir dessa forma aos diretores de carnaval que são responsáveis por transmitir aos profissionais contratados as diretrizes e filosofia de carnaval da escola. Eles participam da escolha de vários integrantes dos setores e até do enredo, coordenando também o barracão onde são feitos as alegorias, a compra de material, pagamentos e o desenvolvimento de todo o projeto da escola.  Já não é raro que os diretores de carnaval sejam profissionais remunerados.

Também pode-se referir dessa forma ao diretor de harmonia, sendo este originalmente um termo usado para conceituar um diretor de escola de samba que também tem a missão de ordenar o desfile e coordenar a evolução das escolas de samba, impedindo amontoamentos ou largos espaços e, acima de tudo, zelando pela cronometragem. Diretores de harmonia são os responsáveis, portanto, pelos quesitos evolução, harmonia e conjunto.

Seles, diretor geral de harmonia da Nenê de Vila Matilde, explica que é um cargo  com uma responsabilidade muito grande, atualmente ele comanda 82 pessoas, divididas por cinco setores de desfile, mas no dia a dia são oito setores como transporte, baianas, bateria, mestre sala e porta-bandeiras etc.

Carnavalesco

É o profissional responsável pela concepção e desenvolvimento do enredo a ser apresentado por uma escola de samba, bem como a concepção, desenvolvimento e construção das alegorias e fantasias relacionadas ao enredo por este proposto. Em alguns casos, os carnavalescos desenvolvem o enredo a partir de um tema proposto pela direção da escola de samba. Em outros, ele mesmo sugere o tema a partir de uma ideia original sua. Muitos carnavalescos têm formação ou alguma ligação com artes plásticas, artes cênicas, teatro ou dança.

O carnavalesco é uma figura muito importante, eles são contratados e são pagos para fazer todo o trabalho de criação do desfile. Dependendo da escola, ele não ganha quase nada ou pode ter um salário de 80 mil a 150 mil reais.

Na verdade, ele deveria desenvolver e trazer o enredo para a diretoria da escola, montando propostas de trabalho e defendendo suas ideias para o enrendo, tanto tecnicamente como financeiramente.

Segundo o Carlos Seles, atualmente é comum o enredo ser desenvolvido pelos diretores da escola, devido à questão financeira. Eles o escolhem pensando em temas que sejam fáceis para conseguir patrocinadores, são os chamados enredos corporativos.

Magoo revela que a parte mais difícil de ser carnavalesco é o dia a dia, em que tem que administrar mais de 100 pessoas só em carro alegórico. São profissionais, cada um com seu jeito, com seu gênio. Administrar toda essa equipe e construir engrenagens para que tudo dê certo no final é um dos maiores desafios do carnavalesco e também uma das partes mais trabalhosas. Já o processo criativo, para quem gosta de arte e criação, é praticamente uma diversão, conta ele.

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O carnavalesco Magoo, acompanhado por Vinícius Moura, mostra as maravilhosas esculturas que idealizou para o carnaval 2013 da Nenê de vila Matilde

Para quem sonha ser carnavalesco

Atualmente a profissão do carnavalesco está em processo de mudança,. Antigamente ele fazia tudo e tudo tinha que ser centralizado nele, mas hoje, a grande tendência é saber trabalhar em equipe, tem que saber liderar pessoas. Você precisa saber montar uma equipe boa e também tem que saber delegar tarefas – é preciso ter o melhor escultor, o melhor soldador, o melhor pintor, o melhor profissional de fibra, de decoração etc.

Magoo até costuma brincar que nunca fala meu abre alas, meu carro, meu carnaval – é o abre alas da Nenê, o carro alegórico da Nenê, o carnaval da Nenê. Ele pode ter criado o enredo, mas se não tivesse uma equipe competente, suas ideias não iriam sair do papel ou seriam apenas uma caricatura daquilo que ele tinha imaginado, portanto o grande segredo do carnaval, é saber trabalhar em equipe.

Para quem sonha iniciar, a primeira coisa é gostar do que faz, tem que ter paixão, porque é um trabalho de muita dedicação, você abre mão mesmo, de família e de muita coisa. Por exemplo sábados, domingos é comum ele permanecer no barracão até  22h, 23h.

Outra coisa é gostar de arte: tem que ter o dom artístico, tem que ter percepção e estar antenado com as coisas que estão acontecendo no mundo, para que possa criar enredos que emocione as pessoas, conta Magoo.

A Força das Comunidades das Escolas de Samba

As escolas costumam ser muito presentes em sua comunidade. Quase que viram uma espécie de religião e matém seus integrantes por gerações, além de desenvolver diversos projetos sociais.

No caso da Nenê de Vila Matilde que desfila há 64 anos no carnaval de São Paulo, representando a Zona Leste, essa presença é ainda maior, mantendo projetos sociais como aula de canto, aula de violão, cavaquinho, ambulatório com dentistas etc.

Outro fato marcante é o respeito com sua velha-guarda,  grupo de sambistas mais antigos, quase sempre já bastante idosos, muitas vezes fundadores das escolas, que não mais ocupam cargos dentro da hierarquia da agremiação, mas que constituem um departamento à parte, e no Carnaval desfilam em posições de honra, trajando não fantasias de carnaval convencional, mas roupas de gala, típicas de sambistas, como por exemplo ternos nas cores da escola e chapéus em estilo Panamá. Esse respeito fortalece a tradição e homenageia pessoas que se dedicaram à escola por toda uma vida.

É também emocionante ouvir as histórias dos integrantes da comunidade, que geralmente frequentam a escola desde muito pequenos, o que a torna uma parte importante da sua identidade.

IMG_0019Denise Pitta no Barracão da Nenê com o carnavalesco Magoo, XX, Carlos Seles, diretor Geral de harmonia, Kaiene Muriel, coroada este ano como primeira princesa do carnaval de São Paulo, D. Laurinha, presidente da Embaixada do Samba, Rúbia Angélica, primeira porta-bandeira da Nenê.

Trajetórias

Carlos Alberto Seles

Seles desde pequeno tinha paixão pelo carnaval. Aos 13 anos já assistia desfiles de escolas de samba com a mãe e aos 14 conheceu a quadrada da Nenê de Vila Matilde e por tocar pandeiro, recebeu um convite para desfilar.

Quando ele falou que ia desfilar, o pai foi contra, mas Seles já estava mordido pelo vírus do carnaval e mesmo não tendo dinheiro para comprar a fantasia, estava disposto a vencer o desafio e para desfilar pensou até em vender um anel, joia que havia recebido da madrinha.

Mas sua mãe o apoiou e deu um jeito para que fosse para avenida sem precisar vender seu valoroso anel. Aí começa uma trajetória vitoriosa no carnaval paulistano.

Já no primeiro desfile, em uma ala de pandeiros, fizeram um enorme sucesso, ao desenvolver uma pirâmide humana, que fazia malabarismos com os pandeiros, algo novo e que foi a sensação daquele carnaval. Desde então o amor pela escola só cresceu.

Carlos é diretor geral de harmonia da Nenê desde 2011. Para ele, o mais fascinante é a criação do desfile, o movimento na quadra, os ensaios, a criação das esculturas. O dia do desfile propriamente dito é muito estressante, você tem que montar seus destaques, seus componentes e tem que estar muito atento para não deixar passar nenhuma falha.

Atualmente, tem uma responsabilidade muito grande, comanda 82 pessoas, divididas por cinco setores de desfile, mas no dia a dia são oito setores como transporte, baianas, bateria, mestre sala e porta-bandeiras etc.

Entretanto, o carnaval é uma atividade paralela, pois Seles tem duas empresas e vive uma rotina de muito trabalho e disciplina.

Dentre as atividades que mais gosta, está a magia de acompanhar a transformação das esculturas, a escolha do samba e a definição do enredo que será desenvolvido durante o ano. Para os participantes da comunidade o mais fascinante é o que antecede o carnaval, finaliza Carlos Seles.

Pedro Alexandre, mais conhecido por Magoo

Magoo atualmente é carnavalesco da escola Nêne de Vila Matilde. Ele conta que foi parar nesta profissão, porque no bairro em que foi criado na Zona Leste, frequentava uma pequena escola de samba, que hoje desfila no grupo 2.

Como sempre gostou muito de desenhar, fazia histórias em quadrinhos, além de trabalhar com criação. Aos 14 anos, o pessoal dessa escola começou pedir para ele desenhar e criar coisas para eles.

Magoo pertencia ainda à torcida de arquibancada do Palmeiras, a Mancha Verde, que também tem uma escola de samba e o presidente sempre o convidava para fazer parte da Mancha, mas ele não aceita o convite, porque não queria deixar sua escolinha. Até que este mesmo diretor propôs conseguir o material para fazer as esculturas da escola dele, foi aí que Magoo entrou para Mancha Verde que é do grupo especial, e os três anos em que ele trabalhou, como carnavalesco, a escola ficou entre as primeiras do carnaval de São Paulo.

Em seguida foi convidado para ir par Nenê de Vila Matilde e o carnaval 2013 é seu primeiro ano em uma das mais tradicionais escolas de São Paulo.

Magoo revela que a parte mais difícil de ser carnavalesco, é o dia a dia, em que tem que administrar mais de 100 pessoas, só em carro alegórico. São profissionais cada um com seu jeito, com seu gênio. Administrar toda essa equipe e construir engrenagens para que tudo dê certo no final é um dos maiores desafios do carnavalesco e também uma das partes mais trabalhosas. Já o processo criativo, para quem gosta de arte e criação, é praticamente uma diversão.

Entretanto, o carnaval é uma atividade paralela. Magoo trabalhou por 18 anos em jornais, 10 no Estado de São Paulo e 8 no Diário de São Paulo, criando trabalhos especiais, como o projeto gráfico para dia dos pais e outras data comemorativas.

Atualmente, ele trabalha em casa, terceirizando departamento de criação de pequenas agências de propaganda. De novembro a fevereiro ele precisa ficar mais dedicado ao carnaval, enquanto isso a esposa e outros profissionais contratados por ele o ajudam com os trabalhos da empresa.

Magoo também é freelancer para empresa de design Integration, para quem cria logotipos e trabalhos visuais para clientes grandes como Vale do Rio Doce e outros.

Em meio a tantas atividades, às vezes dorme, às vezes come, o carnavalesco vive em uma rotina de muito trabalho e dedicação. Entretanto, quando assiste ao desfile e começa a lembrar daquelas madrugadas em casa, com o sofá cheio de caneta, tinta, lápis e toda a correria do dia a dia, toma consciência que tudo aquilo saiu da sua cabeça e sente-se recompensado, com muito orgulho, ao ver pronto, o fruto do seu trabalho.

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Carlos Seles e Pedro Alexandre, o Magoo

Laura Iris Pereira da Silva

Articulada e com muita história para contar, D. Laurinha, como é conhecida, pertence à Velha-Guarda da Nenê e também é presidente da Embaixada do Samba e das Velhas-Guardas. Está no carnaval desde os 5 anos, inclusive tem fotos do seu primeiro desfile vestida de baiana, ainda uma menininha.

Desde então nunca mais parou. No início foi destaque de chão, depois vieram os carros alegóricos e os destaques começaram a gastar o dinheiro de um fusca para fazerem as fantasias, relembra.

Sua família já pertencia ao carnaval desde antes da fundação da Nenê. Eles tinham uma escola de samba chamada Garotos da Penha. Seu pai, quando ainda era solteiro, junto com seu Nenê, tinha o que hoje é chamado grupo de pagode, mas naquele tempo era Regional e participavam de festas nos bairros. Depois ele virou tenente da força aérea brasileira.

D. Laurinha conta ainda que sua família tinha um terreno muito grande chamado de Fazendinha, na Vila Esperança, e lá eram realizados ritos folclóricos, aquelas festas de negros como cateretê, congada e outras da época dos seus avós, que eram remanescentes de um quilombo da Aparecida do Norte, até que vieram para Vila Matilde, período em que conheceram seu Nenê, fundador da escola.

Sua trajetória foi construída com muito trabalho e luta. Fora do samba ela é enfermeira formada, criou os filhos, formou os filhos. É uma vitoriosa!

Rúbia Angélica

Rúbia é a primeira porta bandeira da Nenê. Está no carnaval desde os 7 anos e a 13 é porta-bandeira da escola. Ao todo já são 25 anos como porta-bandeira. Na avenida, sua responsabilidade é grande, sendo responsável por uma nota única.

Dança com uma fantasia que pesa entre 30 e 35 kilos e está entre as mais caras e luxuosas do desfile, chegando a custar o preço de um carro zero.

Rúbia conta que o nervosimo, ela já aprendeu a controlar, mas a ansiedade e a emoção fazem parte do seu trabalho.

Kaiene Muriel

Com 18 anos, Kaiane foi coroada este ano como primeira princesa do carnaval de São Paulo. Ela está no carnaval desde os 7 anos, quando começou na ala das crianças, depois foi para alegoria. Apesar da pouca idade, ela já foi passista, rainha de bateria e tem o ritmo no sangue, já que seus pais também eram do samba.

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Veja fotos do trabalho criativo desenvolvido pelos profissionais do samba

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Escultores fazem as maquetes dos carros que depois serão construídos por profissionais como seralheiro, soldador, etc

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Na equipe criativa, a Nenê tem o Eduardo, responsável pelas alegorias. O Rafael pelos casais de mestre salas e porta bandeiras e também pela composição dos carros. Além dos meninos do ateliê, Renato Ribeiro e Diego Motta responsáveis pela execução das fantasias. Tudo coordenado pelo carnavalesco Magoo.

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Escultores geralmente vindos de Parintins trabalham nas imensas esculturas

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Agradecimentos especiais ao Carlos Seles que nos convidou para conhecer o barracão da Nenê e à comunidade que nos recebeu com todo carinho possibilitando esta matéria.

Por Denise Pitta de Almeida

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