O fotógrafo Luiz Moreira (@ip.moreira), que faz sua primeira mostra individual, “Porta do Mar”, na Gabriel Wickbold Studio & Gallery , entre 20 de julho e 20 de agosto. A exposição tem o oceano e Portugal como cenário.
Paulistano do Jardim Ângela, ex-modelo na juventude que passou de retratado a fotógrafo de editoriais de moda e formado em Comunicação Social, Moreira decidiu trilhar a descoberta da linguagem fotográfica há apenas três anos.
Em pouco tempo, participou de um coletivo de artistas na própria galeria e teve uma foto sua escolhida pelo galerista para a SP Arte 2018. A exposição, conforme afirma Allex Colontônio, jornalista e autor da resenha analítica sobre o conjunto de 19 imagens em preto & branco selecionadas pelo curador Gabriel Wickbold, “mais do que uma expressão de sua sensibilidade, é um convite à reflexão em temas abertos que questionam valores e condutas sociais numa época em que as pessoas parecem quase lobotomizadas pela cultura do egocentrismo, da exploração da celebridade e da febre da selfie”.
Porta do Mar
Capturada nos rincões de uma Portugal menos óbvia do que a dos carnets du voyage, de enseadas pesqueiras acinzentadas como a Costa da Caparica às aldeias mais inóspitas, como Piódão, a série Porta do Mar é também uma janela para um mundo novo sob o olhar de um artista jovem que apresenta um recorte extremamente maduro das relações humanas. Por trás dos 19 trabalhos apresentados na Gabriel Wickbold S & Gallery nesta primeira individual de Luiz Moreira, garoto da periferia paulistana que muito cedo colocou os dois pés na estrada, em odisseias que serpentearam esses muitos Brasis antes de alcançar África, Estados Unidos e Europa, há muito mais do que plástica, composição, profundidade e poesia. Sem discursos demagogos, o fotógrafo de 28 anos vem fazendo de seu trabalho mais do que uma expressão de sua sensibilidade, mas um convite à reflexão em temas abertos que questionam valores e condutas sociais numa época em que as pessoas parecem quase lobotomizadas pela cultura do egocentrismo, da exploração da celebridade e da febre da selfie.
Dramáticas em seu p&b de apelo histórico impresso em papel algodão superdimensionado, para operar quase que como um grande portal para o observador, que se projeta na imagem por conta de sua textura e hiperrealismo sem qualquer interferência póstuma, as fotografias transbordam do impacto estético de belos landscapes e outros recortes oníricos de um cotidiano aparentemente frugal. Não se trata de fotojornalismo documental, já que Moreira não condiciona situações, não persegue o caos, as passeatas, os movimentos migratórios, as zonas de confito ou tampouco explora a miséria. Embora bastante crítica, sua arte, erigida da beleza da banalidade, procura sorver o extraordinário do ordinário – um dos exercícios mais complexos da fotografia contemporânea. Para atingir esse nível de veracidade, o artista também precisou se desprender do universo fashion – sua primeira experiência foi como fotógrafo de moda e sua formação em Publicidade tendia a potencializar nuances mais cartesianas – para rechaçar ângulos posados e se limitar ao que a cena lhe impõe.
O feeling para flagrar um “instante instantâneo”, contando mais com a sutileza do que com a sorte, para escrever com o diafragma as metáforas que compõem a mensagem que quer calcar nas paredes do espectador. Ao refazer o caminho reverso da colonização portuguesa no Brasil, Luiz aborda a imensidão e a fúria do oceano, desde as arrebentações bravas de Nazaré que evocam as naus lusitanas singrando o Atlântico, até a simplicidade do indivíduo penitente no fardo da pesca, abastecendo famílias inteiras com as sardinhas que saltam abundantes de suas redes; da velha senhora escalando a viela do longínquo casario de pedra cravado na montanha, a outras situações que denunciam o isolamento de uma pequena comunidade lutando pela sobrevivência, sob a envergadura das gaivotas marginais que disputam com eles o peixe de cada dia. Fragmentos severos de um tempo que não para. Nem ali, nem em qualquer megalópole de qualquer continente. Luiz Moreira nos abre domus, portas e janelas que, invariavelmente, desembocam dentro de nós mesmos
Abertura da Exposição
Denise Pitta do Fashion Bubbles na abertura da exposição
Denise, Luiz Moreira e Vinícius Moura