Festivais de música existem para todos os gostos e gêneros, e é impossível citá-los sem falar do lendário Woodstock. Mas o que pouco se sabe é que a história dos festivais remonta a épocas muito mais antigas do que o lendário festival hippie. Desde a Grécia Antiga já existem registros do que viemos a conhecer hoje em dia. Seis séculos antes do começo da Era Cristã, os gregos já realizavam os Jogos Píticos, em honra ao deus Apolo, com festividades que incluíam apresentações teatrais e musicais, além competições esportivas.
Após a Revolução Francesa, quando os músicos e compositores passaram a ganhar maior prestígio, começaram a surgir os primeiros festivais onde a música era a atração principal. O mais importante deles foi o Bayreuth Festival, idealizado em 1876 pelo compositor Richard Wagner, autor da ópera “A Valquíria”. Superadas as dificuldades iniciais, ele conseguiu levar a empreitada adiante, e obteve tanto sucesso que até mesmo Dom Pedro II deixou o Brasil para dar um pulinho no festival, lá no século XIX.
E se você acha ruim ficar horas na fila do site do Rock In Rio para conseguir o seu ingresso, saiba que no Bayreuth Festival, que é realizado até hoje na Alemanha, a fila de espera chega a durar dez anos, com uma demanda de meio milhão de pedidos para apenas 58 mil ingressos disponíveis!
Em seu livro Tempos Fraturados, o historiador inglês Eric Hobsbawn discute as relações entre sociedade e cultura e afirma que os festivais se transformaram em sólidos componentes da indústria do entretenimento, cada vez mais importantes dentro do viés econômico. Só na América do Norte, o autor estima que hajam 2.500 festivais em funcionamento, um número que só cresce ao redor do mundo.
Com uma história tão rica e tão antiga, não demorou muito para que os festivais se multiplicassem e se tornassem ponto de encontro de pessoas dos mais variados estilos e personalidades. Essa riqueza multicultural fez com que eles logo se tornassem alvo dos trendhunters, ávidos por novidades e pela observação de comportamentos e tendências. Mas além dos Coachellas e do Lollapalooza, tão saturados pela mídia, existe um mar de festivais ainda pouco explorados, que são um prato cheio para quem ama moda e cultura. Abaixo, listamos 4 dos nossos preferidos, nacionais e internacionais, para você colocar agora mesmo na listinha de lugares para visitar:
Burning Man
Realizado anualmente desde 1986 em Black Rock Desert, no estado americano de Nevada, o Burning Man começou a ganhar a atenção da mídia há poucos anos. Tudo começou quando os amigos Harry Harvey e Jerry James criaram uma efígie humana com restos de madeira e atearam fogo nela para celebrar o solstício de verão.
Veja o que rolou na edição 2015 do festival Burning Man
O “homem em chamas” atraiu um pequeno grupo de curiosos e assim começou o festival, que se define como um epicentro de contracultura que vai contra o consumo e é regido por 10 princípios básicos: inclusão radical, autoconfiança e auto-expressão, cooperação comunitária, responsabilidade civil, generosidade, desmercantilização (nada pode ser vendido dentro do acampamento), participação, imediatismo e não deixar rastro (apesar de abrigar mais de 10 mil pessoas, o deserto de Black Desert é deixado exatamente como estava antes).
A edição de 2016 reuniu 7o mil pessoas, durou 9 dias e terminou no dia 5 de setembro. O curioso é que, dessa vez, a cidade temporária de Black Rock l foi marcada por uma inusitada “revolução contra os parasitas ricos”. Após ganhar cobertura da grande mídia, o festival tem reunido cada vez mais milionários e celebridades, que criam espaços de luxo repletos de empregados, cozinheiros e seguranças. Essa migração causou revolta nos festivaleiros mais tradicionais, que alegam uma traição ao espírito original do Burning Man. Nesse ano, um desses campos exclusivos foi alvo de ataques, tendo seu fornecimento de energia cortado, em um ataque que dividiu opiniões, sendo aplaudido por uns e condenado por outros.
Afropunk
Nós já falamos do festival por aqui, mas ele é tão incrível que vale a pena relembrar. O evento acontece desde 2005 e veio para ligar os afro-americanos fãs do punk-rock e de outras batidas alternativas.
Veja o que rola no festival Afropunk
Sua origem veio do documentário homônimo dirigido por James Spooner, e desde a criação ele reúne pessoas do mundo inteiro para celebrar o orgulho de ser negro através da arte, da moda e da música. Devido à sua grande repercussão, o Afropunk já foi indicado pelo New York Times como o festival mais multicultural dos Estados Unidos, e o mix de pessoas e personalidades dá origem a looks cada vez mais criativos e inovadores, misturando o espírito étnico e com referências atuais de uma maneira única.
Looks cheios de referências étnicas e multiculturais são destaque no Afropunk Festival
Psicodália
Apontado pelo WGSN como um dos festivais de música mais expressivos do Brasil, o Psicodália foi apontado como um dos expoentes da macrotendência Micro Aventures, que denota uma busca pelo prazer e aventura nas pequenas coisas. O evento surgiu em 2001, e em 2006 sofreu sua maior mudança, passando a ser realizado durante o carnaval, em uma chácara na cidade de São Martinho, em Santa Catarina.
Teaser da edição comemorativa do festival Psicodália, marcada para 2017
O festival continuou crescendo até o limite estrutural da chácara e do município, até ser transferido posteriormente para uma fazenda maior, em Rio Negrinho, também em Santa Catarina, onde é realizado desde então. São 5 dias de imersão total, em que a fazenda é transformada em uma cidade de atmosfera única, sem conexão com a internet e nem sinal de telefone. Mas não se preocupe: o festival é tão cativante que você nem vai sentir falta, palavra de quem já foi!
Psicodalia
São mais de 200 atrações, entre shows nacionais e internacionais, teatro, cinema, exposições e inserções artísticas, oficinas e workshops, recreação adulta e infantil. Cada grupo organiza o seu acampamento, e é comum ver famílias com crianças aproveitando o local. O Psicodália é, talvez, o mais próximo que se pode chegar de Woodstock, em um cenário onde a gentileza e o respeito permeiam todas as relações.
MECAFestival
Outro brasileiro para a lista, o Meca é um festival de curta duração, definido pelos seus organizadores como “a maior menor plataforma cultural do mundo”.
Highlights da edição 2016 do MECAFestival, em Porto Alegre
Durante 7 anos, a equipe do MecaLove já organizou mais de 20 eventos em diversas cidades do Brasil, trazendo grandes nomes como Vampire Weekend, Two Door Cinema Club, La Roux e AlunaGeorge. A última edição rolou em abril de 2016, em uma fazenda próxima da cidade de Porto Alegre, com vista para o rio Guaíba e diversas atrações. Com duração de um dia e ingressos bastante acessíveis, é perfeito para quem quer começar a se aventurar no mundo dos festivais.
E aí, já foi em algum ou tem outros pra indicar? Conta pra gente!
Por: Francieli Hess
Francieli é formada em Design de Moda pela UDESC e já estudou Cultura e Progettazione della Moda em Florença. Trabalha como estilista freelancer em Florianópolis e é apaixonada por criação, história, branding e comunicação.
Instagram: @fvhess
Contato: fvhess@gmail.com
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