O corpo na moda: a perspectiva teórica da relação entre moda e corporeidade

Ilustração de Laura Laine A última moda é esperada e bem vinda com o entusiasmo de calendários especializados e a catálise proporcionada pelas novas tecnologias….

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Ilustração de Laura Laine

A última moda é esperada e bem vinda com o entusiasmo de calendários especializados e a catálise proporcionada pelas novas tecnologias. Enquanto um sistema, a moda e suas mudanças orquestram os ditames estéticos do que é belo, apartando o que deveria ser esquecido no armário. Assim, a última moda desfila sempre diante de nossos olhos. Os atos de se vestir e se adornar, sobretudo ao estar na rua, denotam o desejo de se pôr uma etiqueta social no corpo, um sinal contra o anonimato e de declarar que se “é alguém”. Esse “mascarar” do corpo revela que o vestuário adquire, além do valor prático e higiênico, um valor estético, agregando valores que transcendem os do mero prazer, de mero luxo.

E se é nos domínios da moda que se situa mais nitidamente a linha de partilha entre as pessoas sensatas – ou “in” – e as desviantes das sociedades – demodés ou simplesmente “out” – da época, é porque a moda não é um disfarce, mas uma etiqueta distintiva da identidade. Nesta lógica, a moda testemunha o poder do ser humano para mudar e inventar os mil modos de exibir sua personalidade e seu corpo.

Um corpo exposto passa a requerer estudo partindo da idéia de corporeidade do sociólogo francês Michel Maffesoli, de acordo com a qual os corpos são social e culturalmente construídos para serem vistos por outrem – na publicidade, na moda, na mídia e todas as esferas da sociedade – isto é, o corpo é “teatralizado” para ser exibido em espetáculo, engendrando comunicação. Nesse mise en scène, é o padrão identitário valorizado que vai permitir ao indivíduo um optimum de status social.

Um olhar sobre as exposições corporais nas esferas da mídia e da publicidade e nas interações sociais cotidianas justifica a análise tão em voga. E no cenário cultural em que a sociedade contemporânea delineia seu discurso sobre o corpo, a mídia encontra-se em posição privilegiada para propagar discursos e modelos corporais e estéticos. De tal modo, o corpo presente nos produtos midiáticos implica em questionamentos acerca de quais representações sociais podem produzir, quais sintomas culturais revelam, quais impactos podem repercutir, quais modas se ajustam a tais corpos e mais inúmeras questões sobre o fenômeno.

Nas sociedades de consumo, o fenômeno do “culto ao corpo” contemporâneo se modela a partir de uma estética mercadológica, elaborado por discursos e por mitologias literárias e midiáticas. O corpo aspira ser valorizado numa dimensão simbólico-cultural, e para adquirir esse valor, a otimização corpórea se faz armada com o arsenal de cuidados estéticos e de peças de vestuário ofertado pelo mercado: o dispêndio de tempo, energia e capital é justificado por essa busca interminável por um corpo perfeito e idealmente belo.

A atual cultura do consumo é uma cultura da comunicação visual e do body image.  Em tempos em que o corpo se tornou “o mais belo objeto de consumo”, tende-se a valorar o corpo cultivado sob a moral da silhueta impecável e vestido de acordo com o glamour moral da máscara da época: as superficialidades revelam uma moral, um quadro de atitudes e valores, uma visão de mundo, um ponto de vista estético e uma filosofia do cotidiano.

É importante destacar que a exposição teórica acerca do espetáculo do corpo é relevante porque, nos molduras contextuais da moda, o corpo é um cabide minuciosamente ornado para ser exibido. Na esfera da cultura contemporânea, corpo e moda articulam-se como ossos e pele: eles são dimensões intrínsecas para se compor uma identidade.

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No universo da moda, a cover girl encarna o corpo idealizado. Contudo, sua finalidade cardeal não é o prazer de exibir um belo corpo, “submetido a regras canônicas de êxito plástico”. É desfilar um corpo que é uma superfície estrutural, uma fórmula pura, um pivô para pôr em evidência a moda: “não é o corpo de ninguém”. Nesse caso, “o corpo está lá – assinalado pela silhueta – para que o vestuário exista”, diria precisamente o estudioso francês Roland Barthes.

Por Juliana Sayuri

ap_oscar_cruz_070225_ssvStatus Social, provocados pelo efeito ‘ Mise En Scéne’ (Posto em Cena) – o corpo sempre em evidência através da moda.

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