Vitorino Campos vence Concurso Novos Talentos em Salvador
O jovem estilista baiano apresentou coleção inspirada na grã-duquesa russa Anastasia Romanov O jovem baiano Vitorino Campos é o titular do posto de novo talento…
O jovem estilista baiano apresentou coleção inspirada na grã-duquesa russa Anastasia Romanov
O jovem baiano Vitorino Campos é o titular do posto de novo talento da moda baiana em 2009. Ele concorreu com o pernambucano Renato Oliveira, que usou como referências o livro A Hora da Estrela, de Clarisse Lispector, e a banda The Strokes, e Carola Hoisel, com a coleção Puzzle, inspirada na tendência Rocker. Após um desfile com aplausos efusivos, o estilista recebeu ontem o prêmio da 12ª edição do concurso Novos Talentos Barra Fashion – Oi Fashion Music BA, cuja primeira etapa foi disputada em 09 de setembro de 2008, em Salvador. Com o resultado, Vitorino ganha um desfile individual no Barra Fashion Verão 2009, que acontece no segundo semestre na capital baiana, em local ainda a definir.
Revelado em maio de 2008 por um concurso de menor porte, o Novos Criadores da Moda, Vitorino Campos foi contemplado, entre outros prêmios, com uma vaga na incubadora de talentos da moda TalentBox, gerida pela Ecletique Comunicação, primeira agência especializada no setor das regiões Norte e Nordeste. A fusão de seu talento ímpar com o apoio da gestão profissional, empecilho para muitos criadores, rendeu ao estilista de apenas 21 anos a possibilidade de entrar no mercado com imagem de gente grande, agitando a imprensa local e despertando interesse em várias partes do mundo.
Em 2008, o trunfo de Vitorino Campos para ficar entre os três finalistas do Novos Talentos foi a coleção Antagonia, que atualizou a sensualidade da Belle Époque com uma criação elegante e moderna, recheada de seda pura e muito volume. O desfile do Palacete das Artes, sede do Museu Rodin em Salvador, foi aplaudido de pé. Apesar do inegável favoritismo, o estilista garante que não tinha certeza do resultado. “Estava um pouco inquieto, pois tive concorrente mais experientes do que eu. Não relaxei antes de ter certeza de ter alargado meus próprios limites”, conta emocionado.
Esse superar dos próprios limites ganhou o nome de Carta, uma coleção outono-inverno baseada na história da grã-duquesa russa Anastasia Romanov, fuzilada junto com a família em julho de 1918. Na coleção, Vitorino toma emprestada a lenda de que ela teria sobrevivido aos tiros por guardar jóias de família no espartilho, e fugido para a capital francesa. Lá, 21 anos depois, a 2ª Guerra viria extinguir definitivamente o clã Romanov, exatamente no momento em que ela escreveria suas últimas letras.
Em suas explicações, Vitorino Campos faz questão de afirmar que, para sua Anastasia, já não importariam a origem nobre e a riqueza. Não é, entretanto, o que transparece na coleção. Materiais quase aristocráticos, como a renda francesa e o shantung de seda pura, não deixam dúvidas na personalidade altiva de “Carta”. Ao contrário de Antagonia, “Carta” é, nas palavras do próprio estilista, não-harmônica. “É meio Eisenstein”, brinca Vitorino, se referindo ao diretor do clássico cinematográfico “O Encouraçado Potemkin”, confuso para espectadores não habituados à narrativa não-linear.
O clima de nostalgia tem o ritmo dos cafés, que na Paris de 39 tinham pianos e cantoras para ilustrar as tardes. Nesse tempo, a quantidade de lutos pelas mortes na guerra não permitia que as mulheres usassem vestidos coloridos. É aí que entra a mais discreta, e talvez mais sincera, homenagem do estilista à sua musa: cada peça de “Carta” leva, em sua confecção, tiras coloridas escondidas. “É uma maneira de dizer que, em meio a todo luto, ainda que não se possa ver, existe um pedaço de vida e de cor”, explica.
Vitorino Campos se prepara para seguir em frente. Em seis meses, passou de estudante talentoso a estilista disputado pelas melhores multimarcas de Salvador e já chegando a outras capitais do país. Agora, concorre a uma vaga no Rio Moda Hype Verão 2009 com a coleção Lufada, e projeta entrada no mercado paulistano. Os desafios não param de chegar, mas, aparentemente, o rapaz não tem medo.