Toda moda é retrô? O revivalismo na moda – Parte1/4
Este estudo é uma reflexão sobre o que nos fala Baudrillard a respeito da relação existente entre moda e cultura, quando diz que a moda…
Este estudo é uma reflexão sobre o que nos fala Baudrillard a respeito da relação existente entre moda e cultura, quando diz que a moda é sempre retrô, porque nela tudo o que se vive nada mais é do que herança cultural. Ao afirmar isso, pretende-se aqui levar o leitor a compreender o conceito de retrô, como Giulio Carlo Argan nos mostra, através do Estilo Revivalista ou Revival, como os estilos que manifestam a presença da memória, da história e da cultura nas áreas da criatividade humana.
Este texto pretende entender o Revival, através da moda, como um fenômeno no qual o olhar do criador transpassa o tempo refletido pela moda no cotidiano, vendo tal fenômeno como uma produção humana interpretada pela informação histórica, que vê o cobrir do corpo e o calçar dos pés não apenas como uma imposição climatológica e moral, mas como imposição histórica e cultural.
Campanha da Louis Vuitton para o Verão 2013 usando como referência a estética dos anos 60.
Jacqueline Kennedy um dos maiores ícones dos anos 60. Imagem via Carrie Parry
No Revival, os períodos históricos vividos são eternamente lembrados, ou melhor, “passados a limpo”, quando o passado é reinventado, é fonte de inspiração, é enquadrado e olhado pela moda nos dias de hoje.
O Revival rechaça a noção de antigo e valoriza o passado, não é retorno ao passado, apenas promove a memória como aspecto de imaginação.
Lidar com o Revival é promover o passado, adaptando-o ao contexto presente, afinal todo Revival evidencia a tensão entre uma verdade e uma realidade impossível de conciliar, ou seja, um passado que se faz presente.
Temos aqui, como o objetivo, o desejo de compreender e explicar a importância e os motivos pelos quais a inserção do Revival (ou estilo retrô) é tão presente na moda e na nossa cultura contemporânea, já que lidamos com ele a cada dia, nas mais diversas situações, desde paradigmas da nossa sociedade até estilos de moda, modos de pensar e de se comportar.
Nas artes, Argan (1992) nos fala que foi Boticelli quem criou a primeira imagem revivalista do Renascimento, inaugurando assim uma tendência para ver o mundo e criar a arte, na qual a história constituía tanto o fundamento do saber, quanto a estrutura unitária do pensamento especulativo e do político que busca no passado os precedentes para os acontecimentos do tempo presente.
O primeiro Revival da cultura e da arte na civilização industrial é o estilo neoclássico, que foi, em seguida, sucedido pelo neogótico.
A Primavera de Boticelli
O Revival é repetitivo, repete as características gerais dos movimentos de arte que suscitam emoções para ativar a imaginação e suas interpretações, tentando recuperar os sentimentos, vividos outrora, através de seus elementos figurativos.
Cultura é memória, uma vez que tudo que a coletividade vive se inscreve na memória. Sendo assim, é necessária a criação de um sistema de regras que determinem a tradução da experiência imediata em texto (no sentido conferido por Lotman). Cada cultura define os paradigmas que determinam o que devem permanecer na memória e o que deve ser esquecido. Os paradigmas buscam no passado e transpõe os mitos onde a história não constitui uma estrutura unitária entre pensamento e ação.
Para o historiador Pierre Nora (1993), história e memória estão intrinsecamente vinculadas, de modo contrastante e complementar: história, segundo o autor, é antes de tudo um campo de produção e conhecimento e crítica do passado, ao passo que a memória se ocupa da reconstrução da experiência humana no tempo. Em outros termos, enquanto na história, o passado é inteiramente racional, na memória o passado pode incorporar o mito, um grau sacro. Há, portanto, uma diferenciação importante entre história enquanto operação intelectual e história da vida.
Como já vimos segundo Baudrillard (1996), a moda é sempre retrô, mas evolui com base na abolição do passado: morte e ressurreição espectral das formas.
Por isso é relevante a contribuição da pesquisa, já que acreditamos que todo universo da moda faz parte do Revival – retrô.
É comum usarmos, falarmos e gostarmos das mesmas coisas que as gerações passadas, isso pode parecer “modismo” ou gosto, mas em tudo há uma carga de herança cultural inseridas em nós, nada é novo, tudo já aconteceu só que agora enxergamos e adaptamos diferentemente do passado.
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Entre as tendências para o Inverno 2013 está uma visita ao período Barroco, tendo seu espírito de contraste, dourados e superfície carregada sendo trabalhada de diversas formas, como textura, estampas etc. Imagem via Lidia Nagao
Estilo Neoclássico: Capitólio (Washington – USA, 1793-1867) / O Partenon materializa os princípios que levaram a arquitetura grega à perfeição: harmonia, proporção, elegância e graça
As deusas gregas são eterna fonte de inspiração para a Moda
A moda de Michael Jackson nos anos 80 sendo revisitada em 2009
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Por Queila Ferraz
Sobre Queila Ferraz
Queila Ferraz, Coordenadora Geral do Curso de Design de Moda da UNIP, foi professora de diversas faculdades entre elas Universidade Anhembi Morumbi e dos cursos de pós-graduação de Moda do Senac. É historiadora de moda, especialista em processos tecnológicos para confecção e consultora de implantação para modelos industriais para a área de vestuário.
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