Será uma questão de desejar???
Às vezes sinto falta de ter um desejo. Um “desejão” daqueles que devem me consumir, que vão me obrigar a pensar, a criar uma metodologia…
Às vezes sinto falta de ter um desejo. Um “desejão” daqueles que devem me consumir, que vão me obrigar a pensar, a criar uma metodologia ou uma nova estratégia. “Desejinhos”, como montar outro guarda roupa ou comprar alguns objetos, não dão o mesmo prazer, até dão, vá lá… Mas muitas vezes batem com um arrependimento… Por que fiz isso?
Estou numa escassez de desejos. E toda vez que nasce um, vem acompanhado da pergunta “por que?”. Ah! Haja saco. Eu quero querer! É pedir muito? Um desejo que nasce com a pergunta – por que? – a tiracolo, é um desejo natimorto. Algumas formas de querer são fascinantes somente pelo fato de que não posso tê-las. É algo muito caro, ou vai demandar muito tempo, ou porque algumas coisas nem inventaram ainda. Por ser muito caro deveria também servir de estímulo para planejar e conseguir. Neste caso é falta de desejo ou de motivação?
Tem outras coisas que são um pouco mais fáceis de conseguir. Um celular novíssimo, ou óculos de grife, tanto faz. Uma coisa é certa: se eu posso conseguir já não é mais um desejo daqueles, é só um consumo pra ir aliviando… Aliviando o que? Eu também não sei, mas alivia. Penso eu que comprar estas coisas que parecem que valem muito, mas só valem algo se você estiver num grupo que as reconheça, só dá mesmo esta sensação de alívio que nem sei do quê….
Uma vez fui com um jeans de nome e sobrenome e um relógio que… Bom, o relógio tinha tanta coisa, mas eu só aprendi mesmo a ver as horas e o dia do mês, mas isso não vem ao caso. O caso é que fui para o interior do Paraná e lá ninguém reparou. Reparavam em coisas que eu nem sabia que existiam. Tênis ou correntes de prata nada significavam. Neste caso você tem a incrível lembrança de “quando em Roma faça como os romanos”, eu não comprei um bezerro premiado – não fiz exatamente como os romanos – isso sim teria um grande valor por lá.
A coisa mais curiosa foi perceber que o desejo é meu ou é do outro?
Aqui em São Paulo capital, a grife, o mais caro e mais inacessível é o mais mais. Lá no interior do Paraná, uma colheitadeira de tantas sacas por hectare é o que há. Nossos interesses mudam conforme o contexto em que estamos inseridos. Mas, qual é o MEU desejo? É o que eu quero, o que preciso ou o que esperam de mim para que seja respeitável ou alguém de sucesso?
Esta resposta é exatamente a coisa definitiva para o “alívio” que comprar isso ou aquilo, nos dá por poucos momentos. Pouco a pouco temos a nítida impressão de que somos alguém que se afastou daquilo que verdadeiramente somos. Neste momento precisamos (é palavra de ordem) ter cabelos lisos, sermos magros, ter as unhas feitas toda semana, gostar de tal música e tudo isso para agradar o meio em que vivemos, para continuar ser parte deste meio. Tirando certo exagero somos “produto” daquilo que esperam que sejamos. E respondemos usando, ouvindo e desejando exatamente as mesmas coisas.
Ai ai ai, eu só queria encher meu carrinho sem culpa, carregar umas sacolas pelo shopping e esperar o ifone com a versão 3G, infelizmente acabei complicando tudo. Quero um grande desejo que consuma minhas forças, e não o tenho, um “desejinho” alivia algumas das minhas angustias, mas detona meus cartões de crédito…
Oh! Dúvida cruel…
Desejar ou não, eis a questão!
Por Vinícius Moura
Leia também a resposta de Ignez Pitta a esta matéria: Filosofia in the City.
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