Moda Anos 10 e a Identidade Brasileira na Moda
A passagem do século XIX ao XX trouxe muitas mudanças culturais e sociais ao Brasil. Conheça melhor a Moda dos anos 10
Já parou para pensar qual é a distância entre os conceitos de moda e identidade? Distâncias? Não, ao invés de distâncias existem pontes e reflexos. Afinal, a moda é como o espelho de Narciso no qual a identidade aparece refletida. Nesse sentido, para mergulhar em uma série sobre a identidade brasileira na moda, que tal conhecer com mais detalhes a Moda dos anos 10?
Qual era a Moda dos anos 10?
No impulso do crescimento das cidades e da industrialização, a moda dos anos 10 trouxe importantes mudanças no mundo ocidental. Dentre elas, as mais evidentes se relacionam à vestimenta feminina.
Após um longo período de uso e abuso dos espartilhos (corsets), que serviam para afinar e marcar a cintura o quanto mais fosse possível, as roupas se tornaram mais práticas e simples. Afinal, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) então abalava o mundo, e a época não era para esbanjar.
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Influências da Moda
Um dos itens desse período foi a saia “barril”, que era mais curta e volumosa do que os modelos anteriores. Nessa época, também passaram a aparecer fotos e ilustrações de mulheres trajando maiôs, ainda que a peça não fosse popular.
Além disso, outra grande influência da moda no período foi o “orientalismo”, que desde a Europa buscava se inspirar em elementos estéticos do oriente para se reinventar.
Então absorvendo o que se produzia na França, o Brasil seguia de perto essas tendências. Contudo, temos que considerar que toda essa modernidade não surgiu do nada por aqui.
Nesse sentido, que tal entendermos um pouco melhor sobre os antecedentes da evolução do setor da moda no país na passagem do século XIX ao XX?
O estudo da Identidade Brasileira na Moda
Quando eu ainda estava na faculdade, fiz uma pesquisa de iniciação científica cujo tema era a formação da identidade brasileira na moda. É esse estudo que trarei aqui dividido por décadas, começando pela moda dos anos 10.
Antes de mais nada, temos que considerar que a identidade brasileira na moda encontrou a sua consolidação ao longo dos dois últimos séculos. Antes disso, durante o período colonial, a moda que se encontrava no Brasil era de origem quase que exclusiva europeia.
Afinal, até então as primeiras iniciativas de construção de uma indústria têxtil no Brasil haviam sido barradas. Como? Por meio de medidas restritivas impostas pela família real portuguesa.
Ou seja, a coroa de Portugal queria manter a sua colônia dependente dos produtos que eram oferecidos pelo reino e seus navios, o que incluía os materiais e produtos de moda que seriam consumidos em terras brasileiras.
A proibição da indústria têxtil no Brasil Colônia
Como defendido pelo historiador Luiz Edmundo, “o Brasil Colônia tentou fabricar seus tecidos elegantes, mas um famoso alvará de D. Maria I mandou destruir os teares do Brasil e, com eles, a indústria brasileira que nascia. Em nosso país, só se admitiam teares para a indústria das fazendas grossas de algodão, das que serviam para o uso e vestuário dos negros.”
Desse modo, foram “[…] extintos, quebrados a martelo todos os teares do país no ano de 1781, sendo que se proíbe aos governadores o recebimento, em audiência, de pessoas vestindo roupas feitas com tecidos não fabricados ou exportados da metrópole, Ordem régia de 5 de julho de 1802. (…) Até os sapateiros não podem trabalhar em couro que não venha mandado da longínqua Metrópole, Carta-Régia de 20 de fevereiro de1690” (Joffily, 1999, p.12).
Antes de mais nada, essa foi uma medida que buscava restringir o desenvolvimento de uma produção local paralela àquela que se encontrava no reino. Em outras palavras, ela servia para inibir uma concorrência aos produtos comerciados pelos navios portugueses.
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A indústria brasileira no Brasil Monárquico
Em 1841 se deu um fato de grande importância dentro da história da moda no Brasil. Esse foi o ano da coroação de D. Pedro II, ocasião em que o rei levou em torno do pescoço uma murça de plumas de tucanos – a mesma que já havia usado o seu pai, D. Pedro I, na sua coroação em 1822.
Assim, ele “A só um tempo, era feito rei e cacique, rei como na Europa, de cetro e coroa, e cacique de penas como pelos imensos e insondados brasis” (Schwarcz).
Antes de mais nada, esse episódio simboliza a construção de uma identidade brasileira e do uso da moda para tal fim. Afinal, a cerimônia implicou a legitimação das “coisas da terra”, ainda que os reflexos dessa legitimação demoraram a ser notados no vestuário.
Primeiramente, a influência da moda usada no Brasil na passagem do século XIX ao XX é totalmente europeia. E, mais especificamente, francesa, características da Belle Époque.
A moda no século XIX
De acordo com o pesquisador José Carlos Durand, logo no início do século XIX se iniciou uma produção apenas incipiente de roupas no Brasil. Além disso, essa ainda dependia inteiramente da matéria-prima importada.
Ainda em 1830, alguns franceses abriram uma série de lojas no Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor. Nessa época, o mais elegante era mesmo saber falar francês em vez de português. Desse modo, o estilo e gosto vindos da França eram a maior tendência entre a alta sociedade brasileira.
Como resultado, esse se constituiu em um importante centro de consumo no país, oferecendo às senhoras da elite nacional desde tecidos e figurinos até mesmo toaletes completas vindas de Paris.
A moda francesa, ecos para a moda dos anos 10
Entretanto, ainda não havia sequer a adaptação da vestimente às características tropicais do Brasil. “Nas ruas do centro da cidade viam-se homens de fraque e polainas e mulheres também vestidas formalmente” (Gontijo, 1972, p. 4).
Dessa maneira, as roupas não eram realmente próprias ao clima tropical, mas sim mantiveram as características típicas do estilo europeu.
Nesta primeira fase, a moda no Brasil se fazia por meio de livreiros franceses que importavam revistas de moda. Essas vinham ilustradas com litogravuras e traziam instruções sobre os cortes e medidas a serem empregados.
Essas publicações faziam tanto sucesso que, a partir de 1874, chegou a haver uma edição brasileira da “La Saison”, por aqui chamada de “A Estação” (Edgard Luiz de Barros, 1993, p.21).
Grandes estilistas da moda dos anos 10
O Brasil, assim, seguiu tendo como principal inspiração aquilo que se fazia na França.
Entre os nomes mais importante da moda do início do século XX estão, por exemplo, os de Madeleine Vionnet, Jeanne Lanvin, Coco Chanel e Paul Pioret. Apesar das dificuldades próprias do período, esses criadores então trouxeram uma nova silhueta feminina, que exalava uma leveza e elegância singulares.
A principal referência desse novo estilo foi Paul Poiret, que inovou ao ser o pioneiro em banir os espartilhos e recriar modelos de vestido com inspiração no período neoclássico.
Seja como for, o avanço da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) fez com que ele e grande partes dos criadores de moda deixassem de produzir por um tempo. A moda dos anos 10, dessa maneira, se tornou muito mais sóbria e simples, apenas retomando a sua exuberância na década seguinte.
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A Revista Fon Fon
Apesar de não se voltar diretamente ao público feminino, a Revista Fon Fon, criada no Rio de Janeiro em 1907, foi uma da principais ferramentas de divulgação da moda dos anos 10 no Brasil.
Por meio de ilustrações marcantes que apareciam tanto nas suas capas como matérias, o acervo da Fon Fon traz o registro do estilo usado no país até 1958. Apesar disso, tempos que considerar que, sendo uma revista ainda escrita apenas por homens e pensada para um públicado maioritário masculino, as imagens eram muitas vezes machistas e de cunho pejorativo.
Por exemplo, em uma de suas edições, a revista ilustrou com escárnio o uso de calças por mulheres. Afinal, nessa época a peça ainda não era uma opção ao público feminino, e a moda vinda da França todavia tardou muito em pegar por aqui.
Além disso, um dos principais alvos da revista era o movimento sufragista, que então eram uma das principais referências da época no que diz respeito à emancipação da mulher e à adaptação da moda feminina.
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A indústria da moda no final dos anos 10
Acima de tudo, o século XX se abriu a um período de progresso técnico nunca antes visto. Esse foi o resultado da aplicação do dinheiro do café na criação de novas fábricas.
Nesse sentido, desde então se iniciou a era da máquina e o desejo de progresso traduzido pela industrialização. Além disso, outros fatores de extrema importância no período foram tanto o aumento da urbanização, como a grande massa de imigrantes que chegou ao Brasil.
Assim, foi nesse ambiente que a indústria têxtil do Brasil nasceu e pouco a pouco se desenvolveu.
Como descreve a historiadora Silvana Gontijo (1972): “Durante a Primeira Guerra Mundial, os países europeus e EUA diminuíram muito suas exportações para o Brasil, dando oportunidade a que o setor têxtil tomasse grande impulso. Em 1919, nossa indústria já supria três quartos da demanda interna.”
Por Denise Pitta.
Editado e atualizado por Mariana Boscariol.
*Este é um trecho do relatório final da pesquisa Moda e Identidade Brasileira, feito por Denise Pitta de Almeida em 2003 à Faculdade de Moda da UNIP.
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